Alexandre de Paula
postado em 02/08/2017 06:00
Os serviços de streaming revolucionaram a indústria do entretenimento. A comodidade de ter milhares de músicas, filmes e séries a um clique convenceu milhões de usuários mundo afora (e os números, nesse aspecto, não param de crescer). No entanto, para quem está do outro lado da tela, o panorama não é tão positivo: a maioria das empresas do gênero ainda dão prejuízo.
Ao mesmo tempo em que batem recordes no número de usuários, serviços como o Spotify permanecem no vermelho. O poder conquistado pelas empresas ainda não se converteu em lucro. Um exemplo: o CEO da empresa, Daniel EK, foi eleito pela Billboard como a personalidade mais poderosa da indústria da música neste ano. No entanto, o Spotify amargou perdas de aproximadamente US$ 1,27 bilhão em 2016.
O músico Jay-Z é dono do Tidal, um outro serviço de streaming. A plataforma, que está longe de ter a popularidade de empresas como Spotify, Deezer e Netflix, também só registrou prejuízos até agora. Segundo a imprensa americana, Jay-Z já teria perdido cerca de US$ 28 milhões com o serviço.
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Especialista na indústria musical e em streaming, a professora da Universidade de Toronto Catherine Moore elucida algumas razões da consolidação do serviço e outras que podem explicar a dificuldade das empresas de streaming para obter lucros. ;Os consumidores gostam da conveniência de não ter que comprar música, por exemplo. Em vez disso, compram um serviço que lhes traz música;, explica ao Correio.
Uma das razões para os problemas é o fato de as plataformas de streaming dependerem quase que unicamente da renda de seu conteúdo, enquanto outras empresas ganham dinheiro em vários setores. ;Quando uma empresa, como Spotify ou Deezer (em muitos países), depende do conteúdo para sustentar a empresa, ela precisa de muitas fontes de receitas externas para apoiar o negócio. Outras empresas, como Amazon, Apple ou Google, fazem o dinheiro de muitas maneiras;, aponta.
Por essa razão, os serviços de streaming precisam buscar investimento em várias fontes e se tornam dependentes disso. ;Essas fontes incluem o investimento direto por empresas de música gravada; financiamento de bancos e investidores; assinaturas; propaganda; parcerias de marca;, explica.
A professora destaca que, para muitos, esse tipo de empresa só conseguirá sucesso ao se tornar parte de outras corporações. ;Há muita especulação de que as empresas de streaming só vão sobreviver se forem adquiridos por uma corporação importante que pode se dar ao luxo de ter perdas;, menciona.
[SAIBAMAIS] Crítico e analista do mercado musical, Bob Lefsetz discorda dessa visão. Para ele, esse modelo de consumir música é consistente. ;O streaming já se consolidou, fim da história;, diz ao Correio. Ele acredita que o cenário, em relação ao dinheiro, vai mudar e as empresas conseguirão reverter o quadro. ;As empresas estão investindo no futuro deles como típicos negócios do Vale do Silício;, acredita.
Paradoxo comercial
Assim como o Spotify, a Netflix (principal serviço de streaming de vídeo atualmente) bate recordes no número de assinantes. O serviço já superou a marca de 100 milhões de usuários e o número só cresce.
O aumento, no entanto, não se reflete em ganhos. No segundo trimestre deste ano, a empresa registrou prejuízo de US$ 608 milhões. A previsão é que, até o fim de 2017, o número fique entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões.
A Netflix tem histórico de investir pesado em produções originais. Em 2017, o orçamento dessas produções é de US$ 6 bilhões. Economizar era um verbo que parecia não fazer parte do vocabulário da empresa, mas as coisas mudaram.
O cancelamento de séries, por exemplo, causou rebuliço entre os fãs. Produções como Sense 8 e Marco Polo foram cortadas e outras não ganharam renovação. O público era grande, mas o custo dessas produções, maior ainda, o que fez com que a empresa começasse a declinar de projetos.
US$ 1,27 bilhão
Prejuízo do Spotify em 2016