Diversão e Arte

Festival de Brasília comemora 50ª edição com seleção equilibrada de filmes

Entre os temas das produções selecionadas estão discussões políticas e regionais

Ricardo Daehn
postado em 08/08/2017 07:31
Vazante, de Daniela Thomas, já esteve no Festival de Berlim e tem trama passada no Brasil do século 19
A meio caminho do centenário, pela lista selecionada pela comissão do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e por indicativos do próprio secretário de cultura do DF Guilherme Reis, o evento seguirá celebrando o ponto de encontro da regionalização do cinema brasileiro e sedimentando a discussão de políticas públicas no setor audiovisual. ;Questões de gênero e raciais; confluirão no conteúdo dos nove longas-metragens listados para o festival, que transcorrerá entre 15 e 24 de setembro. Ontem, foram anunciados os 21 filmes (entre curtas e longas) alinhados na disputa do troféu Candango do 50; Festival de Cinema deste ano.

O caráter político e os dividendos sociais de classes apartadas estão em pauta. Ao lado de iniciantes, consagrados diretores abrem a frente de temáticas. Desde já, dois nomes brasilienses dão coordenadas políticas nas fitas: longa-metragista já premiado no evento, com Branco sai, preto fica, o ceilandense Adirley Queirós (selecionado para o Festival de Locarno) comparece com Era uma vez Brasília, enquanto a professora Dácia Ibiapina, da Universidade de Brasília, estará entre os curtas concorrentes, com Carneiro de ouro. Ao Correio, Adirley adianta que o novo longa traz personagens que, ;na relação com o cinema, quebram ciclos de opressão política e policial;.

[SAIBAMAIS]Voos solos de cineastas como Daniela Thomas e Heloisa Passos representarão, respectivamente, o cinema paulistano e o paranaense. Vazante, de Thomas (constante parceira de Walter Salles), foi selecionado para uma vertente específica do Festival de Berlim ; a Reclaiming Black History (destinada ao exame de injustiças sociais). Na trama do século 19, um senhor de escravos é penalizado com a queda da renda das negociatas de diamantes, em Minas Gerais, além de abraçar colapsos na vida pessoal. Violência e solidão estão injetadas na trama. Codiretora de fotografia do indicado ao Oscar Lixo extraordinário (2008), Heloisa Passos apresentará Construindo pontes, um drama doméstico de fundo familiar amplificado para o exame do período de ditadura militar. De posse de material em Super-8, ela complementa a visão da construção da hidrelétrica de Itaipu ao embate de ideais junto ao pai, um engenheiro.

Num retrato dos trabalhos em siderurgia de Ouro Preto, com filmagens na Vila Operária, o concorrente mineiro ao Candango Arábia (de Affonso Uchoa e João Dumans) foi o representante brasileiro no Festival de Roterdã (Países Baixos) e reserva enfoque para a periferia num enorme flashback que mostra um protagonista vindo de Contagem. Dumans, codiretor da fita, tem experiência com o Festival de Brasília, tendo integrado a equipe do premiado longa do ano passado, A cidade onde envelheço. Por trás da linha de escudos, de Marcelo Pedroso, é outro título que estampa outro vencedor de Candango: o realizador pernambucano, que agora cria um documentário sobre o Batalhão de Choque da PM, levou troféu de melhor diretor por Brasil S/A.

Anteriormente premiada no Festival de San Sebastián (Espanha), a diretora carioca Julia Murat comparecerá à capital com o longa Pendular. Premiado pela Federação Internacional de Críticos de Cinema no 67; Festival de Berlim, Pendular tem enredo dentro de um galpão abandonado, local em que se encontram os protagonistas enamorados: uma bailarina e um artista plástico. Destaque no elenco para Rodrigo Bolzan, que em 2002 esteve em Brasília com o escandaloso Cama de gato, de Alexandre Stockler.

A regionalização é patente na trinca que encerra a lista de competidores de 2017: Música para quando as luzes se apagam é um filme gaúcho de Ismael Cannepele, enquanto o paraibano O nó do diabo tem direção coletiva de Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhesus Tribuzi, e Café com canela vem representando a Bahia pelas mãos dos diretores Ary Rosa e Glenda Nicácio.

O gaúcho Cannepele adaptou um romance escrito por ele mesmo, que já havia ganhado reconhecimento com a trama de Os famosos e os duendes da morte e, novamente, examina um universo adolescente que revela as construções mentais e relações pessoais de um menino interiorano, nutrido por rock de bandas como Legião Urbana. O nó do diabo trará cinco enredos de terror dentro de uma mesma fazenda, enquanto Café com canela revela tramas de afeto e de dores familiares, na cidade de Cachoeira, com destaque para o ator Babu Santana.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação