Diversão e Arte

Chico Buarque está de volta com disco politizado e contundente

Novo disco de Chico Buarque vai além da polêmica de "Tua cantiga"

Irlam Rocha Lima
postado em 23/08/2017 07:30
Chico está de volta com disco politizado
Mais politizado, impossível. Mesmo que use com maestria sutil, Chico Buarque de Holanda aborda, em vários momentos do Caravanas, álbum que chega às lojas na sexta-feira, questões palpitantes do dia a dia dos brasileiros (e mesmo do mundo), nas letras de suas novas canções ; algumas de forma contudente.

Caravanas, gravado entre 2015 e junho último, foi o primeiro disco de estúdio, depois de seis anos de abstinência. Valeu a pena esperar, pois nas nove faixas do CD, sete inéditas e duas regravações, o que se sobrepõe é um Chico Buarque, aos 73 anos, em sua plenitude criativa, na abordagem de temas diversos e estilos variados. Com familiaridade, ele passeia pelo samba, blues, valsa e, claro, canções.

O disco tem a produção de Vinicius França e direção musical e arranjos de Luis Cláudio Ramos. Entre os músicos estão alguns com os quais Chico tem trabalhado ao longo das últimas décadas, como o elegante baixista cearense-brasiliense Jorge Helder. Outro instrumentista candango que participa das gravações é o gaitista Gabriel Grossi.

Primeiro single do Caravanas, que o público tomou conhecimento, a romântica Tua cantiga, disponibilizada nas redes sociais no fim de julho, causou polêmica. Houve quem tenha visto algo de machista na letra, principalmente no verso que diz: ;Quando teu coração suplicar/ Ou quando teu capricho exigir/ Largo mulher e filhos/ E de joelhos vou te seguir;.

Reação poética

Os que, ao ouvirem Tua cantiga, imaginaram ser Caravanas um projeto marcadamente lírico, tendem a mudar de ideia, pois o que permeia as demais faixas são as inquietações de um artista atento ao que se passa ao seu redor. Ao reprocessá-las produz textos, por vezes incisivos, como o contido em As caravanas: A caravana do Irajá/ O comboio da Penha/ Não há barreira que a retenha/ Esses estranhos suburbanos/ Tipo muçulmanos do Jacarezinho/ A caminho do Jardim do Alá/ É o bicho, é o buchicho, é a charanga...;

Mesmo usando outro personagem, Chico traz para uma das letras fato ocorrido em 22 de dezembro de 2015, à saída de um restaurante na rua Dias Ferreira, no Leblon, quando foi abordado de forma ostensiva por anti-petistas. No verso inicial de Desaforos, ele canta: ;Alguém me disse/Que tu não me queres/ E que até proferes desaforos pro meu lado/ Fico admirado por incomodar-te assim/ Jamais pensei/ Que pensasses em mim;.

Assunto recorrente na obra do compositor carioca, o futebol volta a ser focalizado nesse trabalho. Em Jogo de bola, ele poetiza: ;Há que levar um drible/ Por entre as pernas sem perder a linha/ No jogo de bola há que aturar uma embaixadinha, deveras/ Como quem tira o chapéu para a mulher que lhe deu o fora;.

O bolero Casualmente, que fez com o contrabaixista Jorge Helder, Blues pra Bia e Massarandupió, parceria com o neto Chico Brown são as outras inéditas. Complementam o repertório A moça do sonho, composta para a peça Cambaio, de João Falcão, gravada com sucesso por Maria Bethânia; e Dueto, da trilha musical de O Rei de Ramos, de Dias Gomes, em que Chico faz duo com a neta Clara Buarque.





;Honrado;
Jorge Helder, músico da banda de Chico Buarque desde 1993, volta adividir parceria com o cantor e compositor em Caravanas. O contrabaixista cearense, que iniciou a carreira artística em Brasília, é autor da melodia de Casualmente, que fez em homenagem à cantora cubana Omara Portuono. ;A compus para o disco solo que estou produzindo, mas depois de ouvi-la, Chico quis gravá-la. Obviamente, autorizei, pois é uma honra ter uma composição minha num álbum dele;, diz.

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