Ricardo Daehn
postado em 23/08/2017 11:40
Com a qualidade recorrente de ressaltar abordagens humanas de personagens, o cinema argentino é, descontadas raríssimas exceções, eterno motivo para inflar o orgulho dos chamados hermanos. Até a próxima segunda, no Cine Brasília (EQS 106/107), a relevância da cultura e dos retratos em cinema feitos pelos diretores da Argentina estará em pauta, com a Mostra Itinerante de Diretores Argentinos de Cinema Contemporâneo, proposta pelo Ministério das Relações Exteriores e uma associação portenha de realizadores. Com apoio da Embaixada da Argentina, as sessões, sempre às 19h, têm acesso livre.
Entre os destaques do evento, figura O cidadão ilustre, codirigido por Gastón Duprat e Mariano Cohn e com roteiro assinado por Andrés Duprat (do sucesso O homem ao lado). O enredo do filme a ser exibido domingo envolve um fictício ganhador do prêmio Nobel. Premiado como melhor ator no Festival de Veneza, Oscar Martínez (visto em Ninho vazio) vive o escritor Daniel Mantovani. Debochado e ateu, ele é uma celebridade que, inesperadamente, aceita voltar para a cidade natal (Salas), com 40 anos de afastamento. Vaidoso, no dia a dia, ele vai encarar, com consequências absurdas, o peso de abandonar a escala cosmopolita.
Hoje, a mostra será aberta com a exibição do filme O inverno, primeira incursão em longas de Emiliano Torres. A produção franco-argentina tem como protagonista o ator chileno Alejandro Sieveking, reconhecido pela polêmica fita O clube (de Pablo Larraín). Prêmio especial do juri no festival espanhol de San Sebastián e ainda celebrado pelo Condor de Prata ofertado pela Associação Argentina de Críticos de Cinema, o filme se detém numa mudança de vida para o idoso personagem Evans. Frente aos rigores do frio na região da Patagônia, Evans trava um encontro forçado: ele, que evitava a aposentadoria, conviverá na temporada fria, com o seu substituto, chamado de Jaras (Cristian Salguero).
Para amanhã, a Segunda Mostra de Cinema Argentino programou um título que foge da escola mais popular desenvolvida nas fitas argentinas. Trata-se do terror Ressureição, ambientado no século 19. Assinando o quarto longa-metragem, Gonzalo Calzada acompanha a vida de um jovem sacerdote, posto à prova da fé, pela sensação de abandono que tem ao seguir viagem até Buenos Aires. É que, ao se deparar com a antiga residência, ele encontra parentes, vitimados por uma epidemia, quando não mortos.
Legado eternizado
Morta em 2002, já quase centenária, a idolatrada artista portenha Tita Merello é o tema de outra produção contemplada na mostra: Buscando a Tita. Atração de sexta, o documentário de Teresa Constantini examina a vida da bailarina, cantora de tango e estrela de cinema, por duas vezes premiada como melhor atriz nos anos de 1950, pela associação especializada de cinema à frente do Condor de Prata.
Ainda na linha documental, o longa Viemos de muito longe será mostrado no sábado. Produção de 2012, a fita criada por Ricardo Pitterbarg apresenta uma companhia teatral, há mais de 20 anos empenhada a encenar, desde o bairro de La Boca, uma peça que retrata imigrantes que compuseram parte da Argentina. Os integrantes da Catalinas Sur alternam, na fita, dramatizações cômicas, interagindo com a ficção. Levou a menção especial do juri, no Festival de Gramado, esta criação de Pitterbarg, constantemente associado ao departamento de som de longas como O homem ao lado.
A segunda-feira está reservada para o drama, com a exibição de Dolores, uma mulher, dois amores, de Juan Dickinson. Na trama, Dolores viaja para a Argentina, a fim de cuidar do sobrinho Harry (órfão de mãe). Na sequência, ela vive o impasse de corresponder o amor do viúvo Jack ou ainda de se envolver com Octávio, vizinho de origem germânica, e que baratina seu coração. No elenco estão Emilia Attías e Guillermo Pfening (O médico alemão).