Diversão e Arte

Festival de Brasília do Cinema Brasileiro anuncia as mostras e novidades

Com orçamento que parte de R$ 2,5 milhões, o Festival de Brasília afinará a plataforma dos longas premiados com o mercado

Ricardo Daehn
postado em 24/08/2017 06:00

Cena do filme 'Café com canela'

Marcar um compasso antenado com instrumentos de festivais cristalizados no exterior ; com estrutura vocacionada aos avanços no mercado audiovisual ;, equilibrando ainda a preservação histórica de luta e de relevância política de um evento que completa 50 edições. Na divulgação da programação oficial do 50; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, ontem, o perfil da mais longeva festividade cultural da capital foi, em parte, renovado. A discussão de avanços em atividades de mercado e a lembrança do montante monumental de investimentos em cinema, da ordem de R$ 23 milhões, por meio de edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), mostram o ânimo inabalável do evento, que distribui prêmios Candango aos filmes concorrentes. Este ano, a festa, integrada por nove longas e 12 curtas, transcorrerá entre os dias 15 e 24 de setembro.

;Pode parecer clichê, mas é a diversidade presente em nove longas de estados diferentes que dá cara à seleção. Os filmes refletem questões políticas e sociais muito relacionadas ao mundo de hoje. Duas tramas se passam no período do sistema escravocrata. Vivências identitárias familiares e pessoais entre personagens negros, por exemplo, estão no longa Café com canela;, observa o diretor artístico do evento, Eduardo Valente. ;Queria destacar a beleza que é ganhar um prêmio Candango ; que é nosso Oscar;, brincou o secretário de Cultura do DF, Guilherme Reis, sublinhando questão inovadora desta edição: em vez de prêmios em dinheiro, os filmes selecionados receberão cachê pela participação. ;Em Cannes, por exemplo, os realizadores premiados não levam um cheque junto com a Palma de Ouro;, observou Valente.

Com orçamento que parte de R$ 2,5 milhões (e dotado de previsão de bater em R$ 3,8 milhões, a contar adesão de iniciativa privada), o Festival de Brasília afinará a plataforma dos longas premiados com o mercado. Por meio do Prêmio Petrobras de Cinema, o júri popular (que contará com aparato de aplicativo) definirá o destino de R$ 300 mil, a serem entregues ao melhor filme de longa da competitiva (com R$ 200 mil) e R$ 100 mil voltados para o filme de longa da Mostra Brasília. Os montantes vão amparar a distribuição dos filmes eleitos.

Além do ineditismo de títulos anunciados ; na abertura, Brasília verá a primeira exibição nacional de Não devore meu coração! (de Felipe Bragança), mostrado em Sundance e em Berlim ;, uma ponte para o desenvolvimento do curso de carreiras cinematográficas promete se afirmar. Seis longas-metragens (nenhum do eixo Rio-São Paulo), ainda em processo, passarão pelo crivo de experimentados consultores estrangeiros. O encerramento da festa, por exemplo, trará a mais nova obra (com estreia mundial) do baiano Edgard Navarro, chamada Abaixo a gravidade.

Adesão internacional

No grupo dos cineastas estão antigos vencedores de prêmios Candango, entre os quais Sérgio Borges, Marília Hughes, Claudio Marques e André Carvalheira. Curadores do Sundance Film Festival, do Festival de Cinema Independente de Buenos Aires e do Festival de Munique atuarão nos bastidores do Festival de Brasília.

Uma perspectiva ;superviva; do festival, como instituição orgânica, e não como ;pirâmide;, foi defendida pelo secretário Guilherme Reis. Ele aproveitou o anúncio da programação do evento para confirmar um edital do café/ bistrô do Cine Brasília. Para além do caráter de retrospecto, com a premiação do icônico realizador Nelson Pereira dos Santos, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema foi convidada a montar a mostra 50 anos em 5 dias, dedicada a grandes vencedores do passado: entre outros, serão mostrados clássicos como A falecida, O padre e a moça, Santo forte e Filme de amor. Prospectando futuro, o evento terá no Cine Brasília o abrigo de festivais estudantis: o 3; Festival de Filmes Curtas-Metragens das Escolas Públicas de Brasília e o FestUniBrasília.

Produtores, programadores e exibidores estão, desde já, estimulados para, entre os dias 20 e 22 de setembro, discutirem e fomentarem negociações em torno de filmes. A dinâmica dos bastidores do cinema brasileiro também estará em pauta numa série de master class que terá presença de profissionais como as diretoras Laís Bodanzky e Anna Muylaert, além da produtora Vania Catani (de O filme da minha vida, de Selton Mello).

"Queria destacar a beleza que é ganhar um prêmio Candango ; que é nosso Oscar"
Guilherme Reis, secretário de Cultura do DF


[FOTO3]
Histórias cruzadas

Independente do formato reinante em cada uma das 49 edições do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, uma notória relação de realimentação se manteve constante: a cada edição, o Festival de Brasília teve como vitrine singular, na mídia, a cobertura adotada pelo Correio. São histórias de edificação paralela: no jornal, denúncias, matérias especiais e a fundação de um senso crítico, dotado de base política, sempre foram incentivadas e refletiram-se no estímulo da ruidosa plateia que adota, a cada evento, o Cine Brasília (EQS 106/107), templo das exibições dos filmes, como extensão momentânea da casa. Com a ferramenta ideológica adotada por cada cineasta, pela primeira vez, no cinema, o Brasil (ou, ao menos os brasilienses) tem a chance de se reconhecer e identificar, na leitura de cada filme, elementos que incomodam ou aprazem cada dia do cotidiano.

Destaques das mostras paralelas

50 anos em 5 dias ; Registro de uma história
Histórias que nosso cinema (não) contava, de Fernanda Pessoa.
Guarnieri, de Francisco Guarnieri.
Cine São Paulo, de Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli.

Terra em transe
Camocim, de Quentin DelaRoche.
Intervenção ; Amor não quer dizer grande coisa, de Rubens Rewald.
Contagem regressiva, de Luis Carlos de Alencar.

Esses corpos indóceis
Baronesa, de Juliana Antunes.
Meu corpo é político, de Alice Riff.

Hors-concours
António um dois três, de Leonardo Mouramateus.
A moça do calendário, de Helena Ignez.

Festival plural

Tanto os filmes da Mostra Competitiva quanto os do Festivalzinho (reservado para as crianças) serão exibidos, simultaneamente, em Taguatinga, Sobradinho, Gama e Riacho Fundo 1. Já o Cinema Voador, na 25; edição, levará sessões gratuitas para São Sebastião, Paranoá, Recanto das Emas, Estrutural e Fercal.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação