postado em 31/08/2017 07:30
Foram necessários dois anos de pesquisa e muitas viagens para conseguir detalhar a linha do tempo da vida de Paulo Cabral de Araújo em A trajetória de uma voz, que tem lançamento marcado para amanhã na Associação Médica de Brasília. Organizado e escrito por Cláudia Araújo, filha de Cabral, o livro traça a trajetória do cearense de Guaiúba desde os anos 1930, quando iniciou a carreira de radialista, até 2009, quando morreu em Brasília, após mais de sete décadas de atuação no cenário da comunicação brasileira.
Paulo Cabral começou a trabalhar menino, aos 16 anos, na Ceará Rádio Clube. Brincava que não era bonito, mas pelo menos tinha uma bela voz. E a voz encantava os donos das rádios. No fim da década de 1930, ele ficou entre os três primeiros colocados no concurso público para ingressar no quadro de radialistas da Ceará: fez prova em praça, com direito a público, além da banca. Tudo no improviso, uma prática de que gostava muito.
A popularidade na rádio ; Cabral fazia, inclusive, papel de galã em radionovelas ; levou o então jovem locutor para a política. Entre 1951 e 1959, ele foi prefeito de Fortaleza e deputado estadual pelo Ceará, sempre como candidato da União Democrática Nacional (UDN). Mas Assis Chateaubriand gostava demais da voz e da personalidade de Cabral para perdê-lo para a política e, no início dos anos 1960, convidou o amigo, na época com 38 anos, para ser o gerente regional dos Diários Associados em Recife. Chateaubriand havia comprado a Ceará Rádio Clube, em 1944, das mãos de João Demétrio Dummar e conhecia bem o trabalho do funcionário.
De Recife, Paulo Cabral viajou o Brasil. Renunciou ao mandato de deputado para melhor se dedicar ao grupo, morou em Belo Horizonte, voltou para Fortaleza e chegou a passar dois anos fora dos Diários Associados para trabalhar na então Rádio Verdes Mares, na capital cearense. De Fortaleza, foi para o Rio de Janeiro. ;E ele já tinha seis filhos nessa época. Não tinha medo de nada. A coragem o levava;, lembra Cláudia, a mais velha das cinco filhas. No total, foram oito filhos.
Cenário político
Brasília entrou para a vida de Cabral em 1975, quando se tornou secretário-geral do Ministério da Justiça a convite do então ministro Armando Falcão. Formado em direito, ele se licenciou dos Diários Associados para retornar ao cenário político. Para as empresas de Assis Chateaubriand, Cabral voltaria em 1980 como procurador-geral do grupo, no qual ficou até 2002. ;Foi quando se desligou do grupo e colocou o ócio produtivo na própria vida;, lembra a filha.
Cláudia conta que foi muito difícil colocar um ponto final no livro. ;Fiz a pesquisa, fui às fontes, às origens, em Fortaleza, na Rádio Clube na qual ele começou, na prefeitura, na assembleia, pesquisei todas as informações precisas, contando em detalhes, dentro do possível, para não ficar uma narrativa cansativa;, avisa.
Paulo Cabral morreu em 2009, em Brasília, seis anos depois de um diagnóstico de leucemia. ;Ele sempre foi um otimista incorrigível, achava que tudo tinha uma solução. E nunca foi jornalista de escrever, ele era de falar;, revela Cláudia. A inclinação pelo rádio ajudou a dar título à biografia A trajetória de uma voz. ;Sempre arranjava um jeito de improvisar e passar essa coisa de vida para a gente de uma forma bonita e positiva.;
Paulo Cabral de Araújo ; A trajetória de uma voz
De Cláudia Araújo. Editora Biografa, 256 páginas. R$ 50. Lançamento amanhã, às 19h, na Associação Médica de Brasília (Setor de Clubes Esportivos Sul)