Agência France-Presse
postado em 05/09/2017 14:04
George Clooney voltou ao festival de Veneza, neste sábado, assinando a direção do filme Suburbicon, um retrato ácido dos Estados Unidos na década de 1950, que compete pelo Leão de Ouro.
Clooney, vestindo um tradicional smoking, e sua esposa Amal, com um vestido de festa lilás, chegaram no início da noite ao tapete vermelho do Palazzo del Cinema para a projeção oficial do novo filme do americano, coescrito pelos irmãos Joel e Etan Coen. Sob o brilho dos flashes, o casal mais glamouroso do festival, que acaba de ter gêmeos, foi seguido por outros protagonistas do filme, como Matt Damon e Julian Moore, radiante em um vestido longo dourado com um grande decote em V.
Clooney foi amadurecendo a ideia do filme conforme escutava os discursos da campanha eleitoral de Donald Trump sobre "a construção de muros e as minorias", revelou o ator um pouco antes a jornalistas.
Suburbicon, o sexto filme de Clooney como diretor, é o nome de um idílico bairro residencial, com quintais, cercas de madeira e crianças jogando beisebol. Na entrada de cada casa, está estacionado um Chevrolet ou um Oldsmobile. O familiar universo americano, em plena prosperidade, oculta uma história de segregação racial e usura mafiosa que serve de plano de fundo para uma trama sangrenta.
O protagonista, Gardener Lodge, interpretado por um Matt Damon mais corpulento que de costume, vive com sua mulher, Rose, sua cunhada, Margaret, e o filho, Nicky.
Lodge enfrente problemas financeiros, Rose o culpa pelo acidente que lhe deixou na cadeira de rodas e Margaret inveja a vida da irmã.
Mas não são as tensões familiares o foco do filme, que mostra o caos instaurado após um assalto, em que dois homens matam Rose.
Esse evento desencadeia uma série de situações inusitadas, como de costume nos textos dos irmãos Coen, marcados por uma mistura de luxúria, avareza e burrice, vistas pelos olhos do pequeno Nicky.
Outro eixo do filme são os Meyer, uma família de vizinhos negros. Enquanto Nicky comemora a amizade com o filho deles, Andy, o resto do bairro não é tão acolhedor. A família chega a ser impedida de sair de casa, alvo de manifestações que querem expulsá-los do bairro. Clooney garantiu que queria desconstruir a visão idealizada de uma época da história americana que costuma ser apresentada, sobretudo por Hollywood, como uma era de ouro, repleta de prosperidade e esperança.
"Você podia conseguir um bom emprego, morar num bairro agradável e começar uma família, desde que fosse branco", disse o diretor de 56 anos.
"O que é divertido é desmontar essa fachada de vida doméstica perfeita e ver como as coisas podem ficar feias". Clooney se inspirou na história real dos Meyer, a primeira família negra a se instalar em Levittown, no estado da Pensilvânia, em 1957.
Como mostra o filme, na sua primeira noite no bairro, 500 pessoas foram ao jardim deles com bandeiras confederadas e cruzes em chamas. "Quando você vê um filme tratar de raça e intolerância nos anos 50 ou 60, é quase sempre no sul", refletiu Clooney.
"Estamos acostumados com pessoas com sotaque do sul usando aquela linguagem, mas, para alguém que é do Kentucky, como eu, é importante discutir se essas pessoas não são os bodes expiatórios dos moradores da Pensilvânia ou de Nova York", questionou o diretor.