Lígia Vieira*
postado em 18/09/2017 09:05

O diretor brasileiro de Cidade de Deus, Fernando Meirelles, vai dirigir o longa The pope para o serviço de streaming Netflix. O filme deseja explorar a relação entre o papa Francisco, interpretado por Jonathan Pryce, e seu antecessor Bento XVI, representado pelo ator Anthony Hopkins. As gravações serão feitas na Argentina, a partir de novembro, e o filme ainda não tem data de estreia.
O longa-metragem marcará a volta de Fernando Meirelles como diretor; ele não ocupa esse posto, em filmes, desde 2011 com 360: A vida é um círculo perfeito. Para colaborar com o brasileiro, foi convocado o colega de longa data, o diretor de fotografia César Charlone, uruguaio radicado no Brasil, com quem trabalhou em Cidade de Deus, Ensaio sobre a cegueira e O jardineiro fiel. O roteiro está nas mãos de Anthony McCarten, de A teoria de tudo.
A história que será retratada em The pope começa em 2013 e mostrará todo o processo da eleição do papa Francisco após a renúncia de Bento XVI, que alega ter saído por motivos de saúde e pela idade avançada. Porém, pouco antes da abdicação, aconteceu o escândalo Vatileaks, no qual o mordomo do papa emérito, Paolo Gabriele, vazou documentos secretos do Vaticano, os quais revelaram corrupção dentro da Igreja.
Depois da renúncia, Bento XVI quebrou poucas vezes o silêncio. O livro lançado pelo alemão Peter Seewald, em 2016, Bento XVI: O último testamento em suas próprias palavras, é uma entrevista com o papa emérito sobre os oito anos de pontificado. Nele, Bento XVI comentou sobre a surpresa de ser sucedido por Francisco e admitiu que teve momentos de fraqueza para tomar decisões enquanto era papa.
Diferenças
Bento XVI e Francisco foram as figuras mais importantes da Igreja Católica, que tem atualmente mais de 1,2 bilhão de batizados e é uma das maiores religiões do mundo. Apesar de ocuparem o cargo máximo na hierarquia cristã, as diferenças entre eles são percebidas desde a origem de onde vieram ao carisma que têm com os fiéis. Francisco é um homem aberto, vindo da América Latina, e tem o desejo muito forte de ligar a Igreja ao povo. Bento XVI, no entanto, é mais reservado, bastante estudioso e é natural da Alemanha.
Outra distinção entre eles é a relação que mantiveram com o clero. O frei Mayko Ataliba afirma que a postura que Bento XVI era voltada para o conhecimento, ;insistia no trabalho intelectual, que todos entendessem o propósito da Igreja e trouxe muita sabedoria;, enquanto Francisco ;é muito exigente, com o clero, pede que todos sejam pastores e vivam conforme as diretrizes da Igreja, os direitos canônicos, isto é, que suas vidas sejam coerentes com as leis católicas;.
O professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Eurico Antônio dos Santos complementa que os pontífices divergem quanto à importância que dão à teologia. Bento XVI tinha uma grande vontade de fazer todos os católicos cumprirem as normas da Igreja e Francisco, ;como é jesuíta, acha que a Igreja deve incorporar ideias do povo, quer dizer, criar regras que sejam mais próximas ao que é praticado na sociedade;.
O antagonismo aparente entre as duas figuras, na verdade, ajudou a Igreja, como explica Mayko Ataliba, ;Sem o que o papa emérito estudou e manteve com o clero, não seria possível Francisco realizar as reformas que fez;. O frei ainda acrescenta :;O papa Bento XVI aprova o que seu sucessor traz;.