Diversão e Arte

'Novena para pecar em paz' será lançado nesta quarta, no Beirute da Asa Sul

Lisa Alves, Lívia Milanez, Patrícia Colmenero, Paulliny Gualberto Tort e Rosângela Vieira Rocha são algumas das autoras

Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 04/10/2017 07:30
Paulliny é autora de Mirna, um dos contos da antologia

A escrita forte de nove autoras brasilienses se encontra na coletânea Novena para pecar em paz, que reúne nove contos sobre mulheres em seus mais variados estilos e espaços de liberdade. A obra, organizada por Cinthia Kriemler e publicada pela editora Penalux, reúne nomes importantes da literatura da capital e mostra que a escrita feita por mulheres tem espaço de fala permanente. Entre as páginas, mulheres diversas refletem as individualidades de seu tempo e suas particularidades atemporais. A ideia é romper o padrão da mulher como indivíduo de uma única forma e performance e mostrar suas amplas nuanças e possibilidades.

Para Cinthia, toda essa versatilidade esteve escondida, camuflada, despersonalizada, e o objetivo é trazê-las à tona através de autoras de diferentes idades, orientações e trajetórias. Para essas escritoras, pertencer a um gênero, a um determinado grupo, não significa ser estática e invariável. ;E não significa que algumas características devam ser aceitas enquanto outras devem ser reprimidas;, destaca a organizadora. O livro reúne contos de: Beatriz Leal Craveiro, Cinthia Kriemler, Lisa Alves, Lívia Milanez, Maria Amélia Elói, Mariana Carpanezzi, Patrícia Colmenero, Paulliny Gualberto Tort e Rosângela Vieira Rocha.

Na antologia, a busca é pelo diálogo com todos os leitores, de qualquer idade e gênero, que esteja disposto a conhecer mais sobre as realidades do feminino de maneira multiplicada, rica, importante. ;Diálogo é uma palavra linda. Sua efetiva aplicação é ainda mais linda. Procura-se um leitor que esteja disposto a perceber, entender e ser parceiro de um momento de mudanças que está sendo promovido pelo feminino;, afirma Cinthia. Nesse momento, estão todas as mulheres heterossexuais, homossexuais, transexuais, travestis, novas, velhas, solteiras e casadas.
Cinthia Kriemler, organizadora do livro: diálogo com pessoas de qualquer idade ou gênero Para elas, a antologia é um descortinar de opções e falas que mostram situações que envolvem a mulher contemporânea, e que se posicionam sobre ela: violência, rotina, perda, desrespeito, abuso, cerceamento de liberdade, opressão. Para Paulliny Gualberto Tort, uma das autoras, a importância da coletânea está justamente no fato dela ser totalmente escrita por mulheres, independentemente dos temas tratados, já que não é possível dissociar sua condição de mulher da escrita.

Para Paulliny, a literatura tem um poder de lançar luz sobre acontecimentos mínimos e, por isso, tratou de escrever sobre um drama que poderia facilmente passar despercebido. ;Como todo escritor trabalha com escolhas, a minha, neste projeto, foi evitar as violências gritantes, aquelas às quais todos nós reagimos com indignação. Preferi tratar de um conflito silencioso, de algo que em geral não costuma ser notado, mesmo pelos observadores mais próximos;, declara. A autora, de modo geral, busca escrever sobre as dificuldades nas relações humanas, os desafios constantes que envolvem o entendimento do outro e se fazer entender.


Patrícia Colmenero destaca que é uma pretensão impossível falar por todas as mulheres, mas acredita que, entre as páginas, foi possível lançar um olhar, acender um farol em um ambiente nevoento, riscar um fósforo no breu da representação feminina na literatura. ;Sempre escrevi sobre mulheres e sempre quis ler sobre mulheres. Mulheres me fascinam, elas são personagens maravilhosas porque tem muito mais densidade histórica. Se você coloca uma mulher para ser uma cientista, aquilo é enorme, se ela é uma dona de casa, é igualmente gigantesco em carga simbólica, é denso, é grosso;, destaca.

Em seu conto, Colmenero retrata um problema específico e ao mesmo tempo comum em muitos universos femininos: o do cuidado e do sacrifício. Em sua experiência de vida, a autora foi socializada, enquanto mulher, para nutrir e servir os outros, algo que lhe provoca cansaço. ;Eu quero proteger as mulheres que, como eu, desde o nascimento foram inseridas na fila do sacrifício, quero envolvê-las com as minhas palavras;.
Para a coletânea de contos, Patrícia escreveu Santa Felicidade
Por outro lado, Lisa Alves busca fugir do olhar masculino na escrita, desconstruindo clichês de personagens mulheres com pouca complexidade. A coletânea aborda temas como o feminicídio, gaslighter, a desistência da própria vida, o abuso infantil, o estupro, a tortura, a transfobia, a lesbofobia e tantas outras formas de violência consideradas sutis, mas que têm o poder de anular a subjetividade dessas personagens. ;Não foi nada combinado. A proposta da Penalux foi que construíssemos narrativas sobre qualquer tipo de violência que rondasse o universo feminino. Depois que cada uma finalizou percebemos a linguagem e a variedade de universos que cada autora decidiu explorar;, conta Lisa.

A autora escreve sobre tudo aquilo que lhe provoca desassossego, e seu próximo livro é preenchido, em sua maioria, por personagens mulheres. Em comum com as demais escritoras da antologia, Lisa destaca um processo de escrita que parte do universo humano e da vontade de quebrar estereótipos. A militância enquanto autora surge a partir do momento em que, entre as páginas, destacam-se personagens que se apropriam de universos de experiências muitas vezes protagonizadas apenas pelo masculino.



;Concordo com o Mario Quintana quando ele diz: ;Quem faz um poema salva um afogado;. Eu vivo a vida assim. De salvação em salvação;,
Patrícia Colmenero, escritora

Lisa Alves, autora do conto Estranha Fruta Novena para pecar em paz
Editora: Penalux. Autoras: Beatriz Leal Craveiro, Cinthia Kriemler, Lisa Alves, Lívia Milanez, Maria Amélia Elói, Mariana Carpanezzi, Patrícia Colmenero, Paulliny Gualberto Tort e Rosângela Vieira Rocha. Páginas: 99
Lançamento do livro Novena para pecar em paz, dia 4 de outubro, no Bar Beirute (109 Sul), de 19h às 22h.



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