Diversão e Arte

A icônica Mel da Terra recebe homenagem no Teatro Garagem

O Mel estreou oficialmente em 10 de maio de 1980, com um show no Teatro Garagem

Irlam Rocha Lima
postado em 04/10/2017 07:30
Foto do sexteto

Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, bandas que colocaram Brasília na cena do rock nacional, na segunda metade da década de 1980, não tinham ainda tocado os primeiros acordes crus do punk, quando a cidade se rendeu ao pop melodioso do Mel da Terra. O som daquele grupo, filho da geração hippie, que tinha os Beatles, Tropicália e o Clube da Esquina como referência, era ouvido no Concerto Cabeças, na rua do Beirute, na Rádio Nacional e em festinhas particulares.

Sérgio Pinheiro (vocal), Paulo Maciel (baixo), Paulinho Matos (violão e flauta), Remy Loefler (teclados) e Beto Escalante (bateria e percussão) começaram a ser mais notados em dezembro de 1979, ao receberem prêmio de revelação num festival instrumental promovido pelo Sesc, com a música Boa sorte. Um dos participantes do evento foi A Barca do Sol, grupo carioca que tinha em sua formação Geraldo Carneiro, hoje membro da Academia Brasileira de Letras.

O Mel estreou oficialmente em 10 de maio de 1980, com um show no Teatro Garagem. É ali, onde, 37 anos depois, a banda recebe homenagem do Sesc, hoje, às 20h30, na abertura da 2; Mostra de Música. A série de apresentações, que prossegue até domingo, reúne conhecidos nomes da música candanga, de estilos diversos.

;Estávamos meio dispersos, sem planos de retomar nossa trajetória. Aí, quando o Sérgio (Pinheiro) nos comunicou da decisão do Sesc de homenagear o Mel, voltamos a nos encontrar e a ensaiar. O reconhecimento da nossa contribuição para a música brasiliense, por parte dessa importante instituição, é motivo de orgulho;, comemora Paulo Maciel. ;Com isso, vimos a possibilidade de retomarmos a gravação de um disco, que havia sido interrompida;, acrescenta.

[FOTO2]

Início

Foi o Concerto Cabeças que, indiretamente, promoveu o encontro daqueles adolescentes cabeludos que formariam o Mel, como lembra o vocalista e violonista Sérgio Pinheiro. ;Eu morava de favor na Galeria Cabeças. Neio Lúcio, Eurico Rocha e Wagner Hermuche, que mantinham o espaço em atividade, acolheram a mim, Renato Matos e um início chamado Turan. Eu tocava violão e num dos concertos conheci o Paulinho, que vivia levando a flauta dele para todos os lugares. Na galeria, tinha um piano e o Remy, morador na quadra, aparecia lá para dedilhar as teclas. Aí, começamos a fazer um som.;

Sérgio estudava no Pré-Universitário (onde hoje funciona o Sigma), na 911 Sul. Os colegas logo tomaram conhecimento de que ele e outros músicos estavam formando uma banda. ;Ao saber que ainda não tínhamos baixista, o David Huck, um dos colegas, me apresentou ao Paulo (Maciel). O Beto (Escalante) foi sugerido pelo Regis, irmão mais velho dele. Com 16 anos, o Beto era o caçula do Mel;, recorda-se.

Com a banda formada começaram a surgir as músicas compostas por Sérgio, Remy, Paulinho e Paulo. ;Estrela cadente, um clássico da música brasiliense, é de Paulo e Edbert Torres, estudante da Escola de Música, que, atualmente, trabalha com iluminação de espetáculos. Uma fita cassete que gravamos na Amplisom, num estúdio de quatro canais, entrou na programação da Rádio Nacional e passou a ser bastante tocada;, destaca Sérgio. ;O set list do nosso show de estreia tinha 12 músicas;, complementa.

A partir daquele show, o Mel passou a conviver com agenda lotada de compromissos. ;Éramos convidados para tomar parte de quase todos os projetos musicais da cidade. O mais importante foi o festival Rock Cerrado, no extinto Pelezão, em 1981, no qual dividimos o palco com Raul Seixas, Walter Franco, Robertinho do Recife, Pepeu Gomes e Baby do Brasil, e o Roupa Nova;, frisa o pianista e tecladista Remy Loefler. ;No ano seguinte, já com Haroldinho Matos incorporado à banda, abrimos para Ney Matogrosso, num show pelo aniversário de Brasília, no Parque da Cidade;, relata.

Quando a banda decidiu gravar o primeiro disco, o produtor José Muniz Neto a levou para São Paulo. ;Tínhamos mais de 40 músicas compostas, mas apenas 10 foram selecionadas, entre elas, Pequena mágoa, Curso d;água, Vira lata e, claro, Estrela cadente. O LP saiu pelo selo paulistano Vôo Livre. Fizemos o lançamento com um show no Centro de Convenções (que ainda não se chamava Ulysses Guimarães), em 1983, assistido por mais de três mil pessoas; ressalta o tecladista.

De 1981 a 1984, o Mel foi o grupo de maior popularidade na capital. ;O Renato Russo era fã do Sérgio, a quem chamava de ;Mick Jagger do Cerrado;. Certa vez ele foi assistir a um show nosso no Iate Clube e falou da admiração pelo tipo de música que fazíamos e nos incentivou a continuar, mesmo com o advento do Rock Brasília;, revela Remy. ;Logo depois, porém, demos um tempo. Retomamos a carreira em 1989, mas mesmo com o lançamento do segundo disco, as coisas já não aconteciam como antes;, reconhece.

Houve outra tentativa de retorno há três anos, que coincidiu com um show no Marina Hall (atual Net Live), que serviu para lançar o primeiro CD. ;Abrimos para Alceu Valença, e a banda recebeu boa acolhida do público. Depois disso, houve novo hiato. Agora, mais maduros e com as arestas aparadas, estamos retomando o trabalho. Sinto que voltou a haver mais cumplicidade, alegria e prazer de estarmos tocando juntos novamente. Além dessa apresentação no Teatro Garagem, estamos diante da perspectiva da gravação de um novo álbum;, conclui o tecladista.



II Mostra de Música do Sesc/ Programação



Hoje ; Renato Vasconcellos, Renato Matos, Beirão e Filhos de Dona Nereide e Mel da Terra


Amanhã ; Ian Coury, Afonso Gadelha, Alex Souz e Ana Reis.


Sexta-feira ; Marco Michelângelo, George Lacerda, Preto Breu, Viela 17 e Satanique Samba Trio.


Sábado ; Paula Zimbres, Letícia Fialho, Dhi Ribeiro e Vera Verônika.


Domingo ; Rodrigo Bezerra, Assis Medeiros, Dillo Daraujo e Os Cabeloduro


Observação: Shows a partir das 20h30, no Teatro Garagem (913 Sul), com entrada franca. Classificação indicativa livre. Oficinas, das 17h às 19h. Haverá também a exposição de vini Acervo origem, de Cacai Nunes.


Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação