Diversão e Arte

Amazon chega com o todo o gás no mercado de streaming

O espaço, até então, era dominado pela Netflix. A expectativa é de que o conglomerado invista mais de U$ 4.5 bilhões em produções originais

Ronayre Nunes
postado em 09/10/2017 07:30
O espaço, até então, era dominado pela Netflix. A expectativa é de que o conglomerado invista mais de U$ 4.5 bilhões em produções originais

Com indicações ao Oscar ; e duas vitórias, Robert De Niro decidiu dar um tempo das telonas e está indo passar uma temporada na tevê. Seu próximo trabalho será uma série ; ainda sem nome ; escrita e produzida por David O. Russell, um dos maiores diretores de Hollywood, atualmente. Apesar de animadoras notícias para os fãs de séries, o mais curioso do novo projeto de De Niro não se encontra no conteúdo, mas no contexto externo da história. A nova produção faz parte de um ousado movimento no mundo das séries. Trata-se da nova abordagem da Amazon, a distribuidora de streaming, para conseguir parte do gigante público do serviço: um investimento maior que os U$ 4.5 bilhões, já gastos em 2017.

A quantia bilionária apontada pelo portal norte-americano The Hollywood Reporter parece ser só um detalhe, perante outros números da Amazon. De Niro será o ator mais bem pago da tevê em série dramática (segundo a revista Forbes) ganhando U$ 775 mil por episódio. Ao todo, a nova série custará U$ 160 milhões. Matthew Weiner, um dos criadores de Mad Men, também é uma das novas contratações do streaming e já desenvolve nova produção, pela bagatela de U$ 75 milhões. Na última semana, a Amazon também contratou Justin Doble, um dos roteiristas de Stranger things, para compor nova série. Parece que eles estão entrando no jogo para vencer, mas os outros canais estão dispostos a só assistir o ataque?

A reação

;Se U$ 20 milhões em um episódio de uma hora é possível? Certamente. Dependendo do número de telespectadores vendo a produção, nós poderíamos investir neste nível de qualidade para a tevê;. Essa foi a resposta que David Wells, chefe do financeiro da Netflix, deu ao ser questionado sobre até onde iriam os investimentos da emissora em uma conferência no começo de setembro. E ela não é uma simples resposta, mas uma nova perspectiva sobre a gama de investimentos que a Netflix parece estar disposta a adotar.

De acordo com informações da revista Variety, a primeira temporada da série do streaming, Stranger Things, custava cerca de U$ 6 milhões por episódio. Para a segunda temporada, a Netflix já liberou um total médio de U$ 8 milhões por episódio, e isso não é tudo. A série The Grown poderá usar U$ 10 milhões por episódio, sendo uma das mais caras para o canal.
O espaço, até então, era dominado pela Netflix. A expectativa é de que o conglomerado invista mais de U$ 4.5 bilhões em produções originais

Segundo Vana Medeiros, uma das autoras do livro Guia de séries, essa viabilidade para maiores investimentos faz parte de um caminho natural para o streaming, já prevista, inclusive, no contexto histórico da tevê a cabo. ;Essa linha de investimentos do streaming está seguindo os passos dos canais a cabo. Há 30 anos a HBO era um canal pequeno, que se reformulou com produções originais, influenciando outros canais a cabo que passaram a dominar os prêmios, que agora estão sendo substituídas pelo streaming, que esse ano ganhou o primeiro prêmio de melhor drama, com The Handmaid;s Tale;, sustenta.

Mas não se engane, os investimentos da Netflix vem acompanhados de um filão de empresas preparadas para proverem o melhor da tevê na sua casa. A Apple TV pretende um investimento de U$ 1 bilhão, segundo publicou o jornal Wall Street Journal no começo de agosto, e a quantia já começa a render frutos: o streaming comprou com exclusividade os direitos de exibição do especial Carpool Karaoke (U$ 2 milhões por capítulo) como um dos seus carros-chefes de programação. Já o canal a cabo FX, acabou de estrear a nova temporada da aclamada série American Horror Story: cult, que além dos sustos ;, também apresenta, no alto de sua 7; temporada, um orçamento de U$ 6 milhões por episódio.
[SAIBAMAIS]

Esse dinheirão não se reflete apenas em mais séries. A qualidade técnica e equipe especializada também chamam a atenção dentro das produções. Por isso, atualmente, as telinhas estão repletas de estrelas que já fizeram grande sucesso nas telonas (já são 29 ganhadores de Oscars que agora apostam seu trabalho na produção seriada) e a perspectiva é que esse número aumente mais ainda nos próximos anos. A atriz Meryl Streep, por exemplo, está cotada para estrelar nova série de J.J. Abrams (ainda sem nome, ou canal), ganhando U$ 825 mil por episódio e Sean Pean ; ganhador de 2 Oscars de Melhor Ator (2004 e 2008) estará na nova produção do canal Hulu, com The First.

Essa onda de investimentos não está acontecendo do dia para noite. Pelo contrário, são bem planejadas e esperam um retorno à altura. O principal trunfo dos canais de streaming é o ;fundo independente; que elas apresentam, em comparação aos tradicionais canais abertos. A fonte primária de capital vem dos próprios consumidores (e não de contratos publicitários, como na tevê aberta). ;Investimento gera quantidade que, em consequência, gera qualidade. Eu explico: o Brasil é o país do futebol porque em cada esquina tem um campinho, que milhares jogam e dentre esses muitos peneira-se os melhores e gera-se qualidade nos jogadores. A lógica na tevê é parecida;, simplifica Vana.

O culpado

Um dos expoentes dessa nova fase de investimentos em séries de TV tem nome e sobrenome: Game Of thrones. A adaptação dos livros terá seu episódio final cotado em cerca de R$ 15 milhões ; bem perto dos U$ 20 milhões que a Netflix disse estar disposta a gastar. Mas o canal HBO não está desembolsando essa bolada por simplesmente gostar da produção. O maior culpado desses investimentos, em último nível, também tem nome e sobrenome: Você da Silva. Game of Thrones, ao longo dos anos, só conseguiu o sucesso porque conseguiu solidificar muita audiência, transformando a produção em uma das mais assistidas do canal (mesmo com vazamento de episódios), e Juliane Costa, 27 anos é um perfeito exemplo dessa audiência.

A revisora de textos conta que assiste a 17 produções da Netflix, mas que passou a usufruir do serviço de streaming da HBO (HBO Go) após o grande sucesso de GoT, dando maior legitimidade aos investimentos do canal. ;Só conheço a Netflix, passei a conhecer a HBO Go na estreia da nova temporada de Game of thrones, pois estava muito eufórica para assistir logo e pesquisei uma forma de assistir, não possuo assinatura de TV a cabo;.

Gustavo Borges, 20, é outro fã de séries (assiste 14 produções da Netflix) que observa atentamente a nova organização das produções internacionais. ;Acho que eles não têm medo de ousar, eles fogem dos padrõezinhos. Enquanto tiver qualidade, está valendo;.

*Estagiário sob supervisão de Severino Francisco


* Salário de atores e atrizes em séries dramáticas de acordo com a revista Forbes:

Robert De Niro (Projato sem nome)/Amazon U$ 775 mil
Mark Harmon NCIS/CBS U$ 525 mil
Emilia Clarke Game of Thrones/HBO U$ 500 mil
Nikolaj Coster Waldau/Game of Thrones/HBO U$ 500 mil
Peter Dinklage Game of Thrones/HBO U$ 500 mil
Kit Harington Game of Thrones/HBO U$ 500 mil
Lena Headey Game of Thrones/HBO U$ 500 mil
Kevin Costner Yellowstone/Paramount U$ 500 mil
Kevin Spacey House of Cards/Netflix U$ 500 mil
Claire Danes Homeland/Showtime U$ 450 mil

* Investimento do streaming Amazon para séries a partir
de 2017: U$ 4.5 bilhões (ou R$ 14.31 bilhões, de acordo
com cotação de 29 de setembro) em novas séries.

; Sorrindo à toa. Robert De Niro trocou o cinema pela tevê para ganhar o maior salário de Hollywood.

; Para a 2; temporada, a série Stranger things recebeu um aumento de U$ 2 milhões por episódio.

; Anthony Hopkins está no elenco de Westword, da HBO. Ele migrou do cinema para a tevê.

; Após dois Oscars, Sean Pean agora decide apostar na tevê.

; Produção de Game of thrones promete um episódio final ao custo de U$ 15 milhões. Gastos da produção impressionam.

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