Beatriz Queiroz*
postado em 19/10/2017 07:30
;Quisera escrever um verso tão pequeno/que coubesse no coração de todo mundo;, diz Climério Ferreira em Desejo I, o poema que abre o próximo lançamento do escritor e letrista, Poesia de quinta. Com textos curtos e simples, ele reúne cerca de 100 poemas que enviou para amigos em meados de 2010. ;Toda quinta-feira, durante um ano, eu mandei e-mails para 52 amigos do Brasil inteiro e neles eu escrevia um versinho, um poema e eles começaram a chamar de ;poesia de quinta;, daí o nome do livro;, explica o autor.
Este é o 11; livro de poemas do letrista e professor aposentado da UnB e é dividido em quatro partes. A primeira traz poemas curtíssimos, que foram os primeiros a serem enviados; e, na segunda parte, eles aumentam e se tornam quadras. Até então os temas eram variados, e essa era a graça, porque ;ninguém sabia o tema seguinte;, segundo Climério.
Da metade do livro em diante, o poeta apresenta poemas mais longos com as impressões que teve de Minas Gerais numa viagem feita na época. Para finalizar, ele continua na linha de textos maiores e escreve sobre o fazer poético.
Uma das características da poesia de Climério é a liberdade. Ele escreve no Facebook uma poesia por dia. ;É um exercício diário, preciso fazer isso, e costumo receber respostas dos amigos, e isso é legal, motiva. E é algo independente, ninguém controla, faço dentro do meu ritmo, do meu gosto;, afirma.
Os poemas também costumam ser musicados por colegas, o que ele considera divertido. ;Eu não achei que isso ia acontecer quando comecei, mas sempre aparece alguém que pergunta se pode e eu deixo. Seja o que Deus quiser e está ótimo, porque quem não lê, canta.;
Carreira musical
Ao lado dos irmãos Clodo e Clésio, Climério saiu do Piauí na década de 1970 e veio pra Brasília quando a cidade ainda estava nos primeiros anos. Eles se tornaram um dos grupos mais conhecidos da época e gravaram seis discos com bases do tropicalismo e influências da música nordestina.
Com o talento para composição, Climério conquistou grandes parceiros, como Dominguinhos, para quem fez canções que aparecem até hoje. ;Ele deixou algumas músicas gravadas e uma delas foi apresentada a Elba Ramalho, que abre o disco Do meu olhar (2015) com ela ; Olhando o coração.;
O letrista adianta que existe a possibilidade de uma outra parceria inédita entre ele e o sanfoneiro ser regravada. ;O Zé Américo, de Fortaleza, me ligou (ontem) e disse que o Dominguinhos deixou gravada também O inverno é você e que existe o interesse do Mestrinho em gravar. Volta e meia aparece algo assim e fico muito feliz.;
POEMAS
Reza bruta
E se eu lançasse versos
Nos muros da cidade
E eles gritassem minha ira
Meu desalento urbano
Minha suburbana descrença
Na bonança das mansões
Nas missões dos salvadores
E se meus versos colassem
Nos muros da cidade
E cantassem minha paz
Minha utopia interior
Minha avassaladora crença
Na bondade dos animais
E na razão da poesia
Na humanização das pessoas
Na vida terna, amém
Acho que sou feliz
eu quero tudo o que tenho:
só desejo o que posso
e sou da minha idade
será isso a tal felicidade?
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Poesia de quinta
De Climério Ferreira. Editora Nova Aliança. 116 páginas. R$ 20. Hoje, Beirute (109 Sul), às 19h. Entrada franca. Classificação indicativa livre.