Alexandre de Paula
postado em 02/11/2017 07:00
Basta uma olhadinha para o lado para ver que não está tudo bem. De cabeça pra baixo e imerso em crises de todas as ordens, o Brasil (e o mundo) vive tempos de ressaca. Conhecido na cena brasiliense pelo trabalho como DJ e agitador cultural, Rafael Ops canta as agonias e a pasmaceira desta época no álbum de estreia Não tá tudo bem.
Desigualdades, conformismo, problemas ambientais, fanatismo religioso e conservadorismo são alguns dos temas amargos abordados nos 28 minutos do disco. Primeira das oito canções de Não tá tudo bem, A sua culpa já adianta as pedradas que virão. ;Olha à sua volta/ Tem alguém aí?/ Tem alguém doente/ Com a vida por um fio/ Mas não é sua culpa, né?;.
Para equilibrar a dureza das letras e das críticas, Ops usa a simplicidade dançante do pop. Mas, afinal, é para pensar ou para dançar? Os dois. Em Não tá tudo bem, o cantor e compositor mostra que a música pop também pode ser inteligente e contestadora.
;Não sou um músico muito talentoso. Eu tenho uma intuição boa;, avalia Ops, com certa modéstia. ;Eu me inspirei muito na música pop porque pensei: ;Se eles podem fazer músicas tão simples e tão bonitas, por que eu não posso? Aí fiz assim, inclusive com ritmos que são da cultura popular.;
A dureza dos temas, apesar da óbvia identificação com o presente brasileiro, vieram da observação de uma sociedade doente no mundo todo. ;Claro que ver a situação em que a gente está hoje foi o grande catalisador. Mas eu não quis falar só sobre a atualidade porque o problema é mundial e mais amplo;, explica.
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As canções foram a forma que ele encontrou para se opor a tudo isso. ;Eu comecei a achar que a inércia que eu vivi nos últimos dez anos talvez fosse coletiva. Precisava fazer minha parte. A minha maior arma é a minha arte e a minha forma de protestar foi fazer esse disco.;
A inércia, inclusive, é um tema recorrente no álbum. Em Seu remédio, por exemplo, Ops canta: ;Sua alegria tem moldura/ É um caixote de plástico e led;. Para depois concluir num refrão fácil de pegar: ;Você só segue o ritmo/ E o que o Bonner diz/ Que desperdício de cérebro;.
Todas as canções do disco ganharão clipes. Alguns deles estão disponíveis no YouTube. No vídeo dedicado à faixa-título, Ops critica duramente o conservadorismo e a cegueira de fanáticos religiosos. Claro que as reações agressivas foram instantâneas. ;Quando entro num tema assim, eu estou falando com uma parcela muito conservadora, é natural que elas reajam com ódio, porque é justamente delas que eu estou falando. Então, isso não me toca;, garante.
Por fim, o amor talvez seja uma forma de aliviar os sofrimentos do nosso tempo. Pelo menos é o que dá a entender a faixa Olha a sorte que eu dei. ;Faz tempo que eu quero te dizer/ Que a vida não tá fácil pra ninguém/ Mas é só lembrar de tu que eu sorrio e fico bem/ Em casa esquentando seu jantar/ Abro o vinho preferido e ligo o som pra te esperar;, canta Ops, que faz questão de dividir os louros do disco com a esposa e produtora Paula Rios. ;Muito desse projeto é dela também.;
SERVIÇO
Não tá tudo bem
Ops. Batedeira Cultural. 8 faixas. Disponível nas plataformas digitais.