Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Cineclubes da capital oferecem espaço para encontros e exibições

O DF está repleto de cineclubes que apresentam temas diversos e trazem discussões sobre cada filme


Os brasilienses têm uma ligação forte com o cinema. Uma prova disso é a importância do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que ocorre anualmente e é um dos mais prestigiados do país. Outro ponto que confirma essa paixão pela sétima arte é o grande número de cineclubes espalhados pelo Distrito Federal. Cada um com temática própria, que é percebida na escolha dos filmes e nos temas dos debates que ocorrem logo após as sessões. Mais dois cineclubes sugiram na cidade nos últimos dias ; o Cine Cleo, na Faculdade Dulcina de Morais;; e o Cineclube da Aliança Francesa, que está de volta.

São mais espaços para encontros e exibição de filmes, além de proporcionarem novas oportunidades para discutir as obras e seus conteúdos. De um modo geral, esses espaços fazem parte da história de Brasília. A prática surgiu em 1963, com um cineclube na Escola Parque da 507/508 Sul. Os filmes eram projetados semanalmente e comentados por Paulo Emílio Salles Gomes, então professor da Universidade de Brasília (UnB), como registra o livro Apontamentos para uma história, do crítico de cinema Sérgio Moriconi.

Três anos depois surgiu o mítico Clube de Cinema de Brasília, fundado por Geraldo Sobral Rocha e Walter Mello. Nos anos de 1980 e 1990, o Cineclube da Cultura Inglesa era o ponto de referência da comunidade cinematográfica do DF. Desde o início do cineclubismo brasiliense, a parte mais importante das sessões é o debate.

Para Alex Medrado, professor de Comunicação Social do Centro Universitário Estácio, ;os cineclubes têm um caráter pedagógico, pois fomentam o conhecimento;. Mas também ;são uma janela para o cinema, porque são locais de exibição de filmes que não têm muito espaço no circuito comercial;.

Quem são eles

O recém-inaugurado Cine Cleo tem o objetivo de ocupar um local central de Brasília, com exibições nas quintas-feiras, às 19h, na Sala Conchita, da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, no Conic. Formado a partir de um coletivo feminista de diretoras de cinema, o clube tem como meta exibir um longa e um curta-metragem de cineastas brasileiras a cada encontro.

Segundo a diretora executiva do projeto, Natália Pires, ;é importante dar voz às mulheres, porque o machismo traz dificuldades para a visibilidade das brasileiras no cinema;. Apesar de ser um cineclube com temática feminista, todos estão convidados a participar das discussões. ;O objetivo é que o Cine Cleo seja um ambiente de reflexão e de despertar;, explica a diretora.

No mês passado, o Cineclube da Aliança Francesa retomou as suas atividades com a ideia de juntar o cinema brasileiro e o francês. Segundo a curadora Paule Maillet, a intenção é ;abrir espaço para os filmes que não conseguem entrar nas salas comerciais e trazer mais filmes franceses;. Além disso, fortalecer a relação entre o instituto e os brasilienses.

Neste primeiro ciclo do Cineclube da Aliança Francesa serão apresentados quatro longas-metragens do cinema independente daquele país. Mas a curadora afirma que filmes brasileiros também serão exibidos brevemente. Ela ainda sonha com o dia em que o auditório da unidade da Aliança na Asa Sul ;vire uma sala de cinema;.

Outras localidades

O Cineclube Vale um Filme, no Vale do Amanhecer, em Planaltina, surgiu para atender a população local. A região administrativa não possui sala de cinema e o cineclube nasceu com a ideia de suprir essa carência. ;É um projeto que tem objetivo de fazer exibições pela região. Qualquer um pode entrar em contato e fazer a solicitação;, explica Leônio Matos, idealizador do cineclube.

O Vale um Filme também faz parcerias com escolas para exibir alguns títulos quinzenalmente em horários nos quais os alunos não estejam em aula. Os estudantes preferem, principalmente, os filmes que são listados pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS) da UNB. ;Eles pedem para assistir a esses títulos por causa do debate depois. É nessa hora que há uma troca de ideias e eles entendem melhor o tema que está sendo tratado;, afirma Matos.

Para os cinéfilos que vão ao Kinofogo assistir a filmes que não estão em cartaz na cidade, principalmente os do cinema contemporâneo brasileiro, é importante não só o debate, mas a experiência. O projeto acontece no Núcleo Rural Córrego do Urubu, próximo ao Varjão, e lá, como explica Maurício Chades, produtor e curador, ;temos o céu aberto, a natureza, acendemos uma fogueira e comemos. Ou seja, recebemos outros estímulos que não só os vindos do filme;.

Um diferencial dos cineclubes brasilienses é a variedade da programação. O Cineclube Lago Oeste, por exemplo, apresenta obras que retratam questões socioambientais. A realizadora do projeto, Conchita Rocha, entende que ;a linguagem cinematográfica e o debate são formas de estimular a reflexão sobre temas importantes;, como o cuidado com o meio ambiente e, especialmente, a água.

A ideia surgiu por causa do próprio Lago Oeste e da comunidade que mora na região. A população local é formada por trabalhadores e moradores de chácaras que se preocupam com a preservação ambiental e estão unidos em projetos de conservação. ;Há cerca de dois anos, vizinhos se unem para realizar mutirões de plantio agroflorestal e orgânico;, explica Conchita Rocha. O cineclube traz informações que ajudam a impulsionar essas ações.

Exibindo apenas curtas-metragens, o Cineclube Farol, com sessões itinerantes, surgiu para expor os títulos das próprias realizadoras do projeto. Mas a ideia, daqui em diante, é variar a discussão e trazer outros temas que envolvam minorias. ;Queremos abrir espaços para os diversos grupos e gerar debates sobre as temáticas que estarão no centro dos filmes;, observa Juliana Melo, uma das organizadoras

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*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel