Nahima Maciel
postado em 18/11/2017 07:30
Quando Maria Lúcia Verdi deu início ao projeto Poesia do mundo, há quatro anos, queria criar um evento no qual os leitores tivessem a oportunidade de ouvir os versos de poetas estrangeiros no idioma original. Fez então uma edição dedicada à poesia argentina, outra à chinesa e outra à alemã, com convidados nativos dessas línguas que recitavam poemas de grandes autores. Agora, chegou a vez do Brasil e Maria Lúcia não teve dúvida: escolheu homenagear Chico Alvim. A amizade ; Maria Lúcia e o poeta são amigos há quatro décadas e ambos aposentados do Ministério das Relações Exteriores ; falou alto, mas o caráter social da poesia do amigo foi determinante. ;Se você pegar os anos 1930 e tudo que foi teorizado sobre o que é ser brasileiro, tudo isso está na poesia do Chico Alvim. Ele traz questões centrais da brasilidade, questões mal resolvidas da sociedade brasileira;, diz Maria Lúcia.
Poeta, diplomata, autor de seis livros e laureado com dois Jabutis, o escritor radicado em Brasília é dono de uma obra que Maria Lúcia divide em três partes: o social, o lírico e o burocrático. Durante a homenagem, na segunda-feira, no Museu da República, o poeta Nicolas Behr, o professor João Lanari e a própria Maria Lúcia vão ler poemas de Chico Alvim. Um total de 50 livros com os versos impressos serão distribuídos ao público para que acompanhe a leitura.
O aspecto social da poesia de Chico Alvim é, segundo Maria Lúcia, o mais conhecido e reconhecido. ;Por causa dessa capacidade notável de colocar na poesia vozes que vêm de todos os lados da sociedade e que representam o que é ser brasileiro;, explica. Mas o lado lírico também é grande e encontra âncoras na obra de nomes como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
Diplomata
O lado burocrático está ligado ao conflito. ;Tem a ver com o fato de ele ter sido, ao mesmo tempo, um intelectual crítico da situação brasileira e representante do Brasil no exterior;, diz Maria Lúcia. Chico Alvim estava em Paris em maio de 1968 e foi afastado do posto dois anos depois por ter assumido postura simpática aos protestos que propunham uma revolução de esquerda no país. ;Era o governo Médici e fiquei envolvido com aquelas coisas do período. Não deu em nada, mas com o envolvimento, me afastaram do posto. Me licenciei do Itamaraty e só voltei no governo Geisel;, conta. A visão do poeta aparece em muitos versos da época.
Após as leituras, o próprio Chico Alvim estará à frente de um bate papo com o público para conversar um pouco sobre como a poesia se faz na cabeça do poeta. ;Nem sei se tenho esse lugar na poesia, mas a cortejo muito. Ela aceita minha companhia quando quer, não me iludo;, diz. A veia social que caracteriza parte da poesia de Alvim também chama a atenção do poeta. ;Acho que existe sim, mas não por uma opção ou destino político;, explica. ;Não me considero um ser político. O social me veio quando nasci. São os tremores desse país que me fazem tremer. Vivemos no fio da navalha. E isso não me deixa fazer outro tipo de escrita. Me toma por completo. Faço aquilo que me chega, sou um poeta mais reativo.; Chico Alvim classifica a própria poesia como realista e, por ser inteiramente tocada pela observação social, acaba por resvalar no que ele chama de ;todas as faixas da existência;.
Homenagem a Chico Alvim
Com Nicolas Behr, João Lanari e Maria Lúcia Verdi. Segunda-feira, às 19h30, no Museu Nacional da República