Diversão e Arte

Mulheres negras assumem os fios crespos na mídia

O gesto prova que, além de estética, o cabelo representa um gesto de resistência cultural

Rebeca Borges*, Alice Corrêa*
postado em 18/11/2017 07:30
Lellêzinha explica que, após a transição, se sentiu livre e passou a se conhecer melhor


De toda a história da cultura africana no Brasil que se reflete em aspectos cotidianos, o cabelo crespo é um elemento importante para essa construção. O movimento black power, durante a década de 1960 nos EUA, lutou para romper com os padrões de beleza europeus e ganhou repercussão e adesão mundial, chegando ao Brasil. Uma das porta-vozes do movimento é a ativista Angela Davis, destaque na luta pelos direitos dos negros, afirmados pelo cabelo afro.

No Brasil, a representatividade das raízes africanas está ganhando espaço nos holofotes, o que causa grande impacto no estilo de vida de mulheres e homens. A transição capilar tem sido assunto em programas de TV, canais no YouTube e estálevando pessoas a libertarem as madeixas de químicas alisantes. O orgulho dos cabelos naturais transformou o mercado de cosméticos ; o 4; maior do mundo ;, além de levantar grandes nomes quando o assunto é se sentir representada.

Adriana Ribeiro, 39 anos, é dona de um salão de beleza especializado em cabelos crespos e cacheados, no Riacho Fundo 1. Ela explica que, atualmente, as condições estão mais favoráveis para quem deseja se livrar das químicas e alisamentos, pois a mídia está repleta de referências. ;Eu sempre gostei do cabelo cacheado, mas a única referência que eu tinha era a Globeleza. Agora, têm blogueiras, atrizes, cantoras e cantores. Tem muita gente servindo de representante;, fala Adriana.

Empoderadas

Com 20 anos de idade, ela já é referência de redescoberta e aceitação dos cachos. A cantora, atriz e dançarina Lellêzinha, que faz parte do grupo de funk carioca Dream Team do Passinho, passou pela transição capilar aos 14 anos. ;Esse processo de transição doeu porque, além de muito nova, eu passei por isso sozinha. Naquela época, não se falava tanto, mas aguentei firme e consegui;, explica a cantora.

Lellêzinha conta que o processo da transição foi essencial para o reconhecimento de sua negritude. ;Quando você se encontra enquanto mulher negra, cacheada e poderosa, você pode ser quem quiser: lisa, careca, loira... É libertador.; A cantora conta que recebe frequentemente mensagens de fãs que se inspiraram nela para assumir os cachos. ;É muito bom saber que, mesmo de longe, eu posso ajudar pessoas a não ficarem tão sozinhas como eu me senti enquanto passava pela minha;, afirma Lellêzinha.
Outra inspiração do mundo da música é a cantora Ludmilla. Ela declarou recentemente nas redes sociais de uma marca de cosméticos que está em processo de transição capilar. ;Chegou a hora de ser eu mesma;, declarou. Embaixadora da marca que assumiu um caráter inclusivo ao criar linhas especiais para tipos e texturas diferentes de cabelos, Ludmilla conta que a expectativa é de encorajar pessoas a cortarem e tratarem seus cabelos naturais, e que só vai mostrar o cabelo livre de químicas e perucas no fim do ano.

A rapper Karol Conká apresenta um programa de beleza no canal GNT. O Superbonita tem como objetivo quebrar padrões de beleza e trocar experiências de embelezamento com as entrevistadas. Durante um episódio recente, a cantora destacou: ;Eu só tive essa garra de pensar ;sou negra, sou linda; porque vi outras negras na televisão. A nova geração vai vir muito assim, com segurança;.

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