Nahima Maciel
postado em 19/11/2017 07:00
De tão abrangente, a coleção de arte de Sérgio Carvalho permite um passeio no tempo e na diversidade da produção brasileira. Com a intenção de aproveitar exatamente esse aspecto do acervo, a curadora Tereza de Arruda idealizou a exposição Contraponto, em cartaz no Museu da República, como uma série de pequenas mostras individuais. Ela selecionou 420 obras de 33 artistas e registros de performances do grupo EmpreZa para compor um recorte muito livre e dedicado exclusivamente a mostrar a trajetória individual de cada artista.
Sérgio Carvalho é um colecionador particular. Quando se encanta com um artista, passa a acompanhá-lo, a seguir a trajetória e, sobretudo, comprar obras de várias fases da produção. O resultado é uma coleção na qual é possível perceber o desenvolvimento e os passos do processo criativo. ;Ele acompanha os artistas por décadas e de muitos desses artistas não se tem uma frequência de apresentações nas instituições. Por isso tentamos dar uma cara de mostras individuais para cada um;, explica Teresa de Arruda.
Como o caráter individual dispensou a necessidade de diálogo entre artistas e obras, a exposição tem foco nas representações possíveis dentro das trajetórias pessoais. ;E são pessoas de várias gerações da arte contemporânea brasileira. Há, pelo menos, três gerações;, avisa a curadora, que escolheu as obras mais representativas de cada artista. ;Podemos também constatar a diversidade na produção;, avisa. De escultura, desenhos e pinturas a instalações, vídeo, fotografia e registros de performances, a coleção é marcada pela variedade de suportes e linguagens.
Assim, o público poderá ir da veia pop de Nelson Leirner às indagações contemporâneas de Antônio Obá e de Camila Soato, passando pelas pinturas conceituais de Delson Uchôa e Elder Rocha e pelo realismo de Fábio Baroli. ;É um leque bem amplo;, avalia Tereza. ;A coleção é um mapeamento da arte contemporânea brasileira. E quando você visita a exposição, vê que é uma arte extremamente pensante.;
A diversidade da coleção também é um indicativo, segundo a curadora, do caráter internacional da produção brasileira. ;Ela não tem uma característica regionalista e essa é também uma característica da identidade brasileira. Por isso, a nossa arte tem tanta repercussão internacional;, garante.
A quantidade de trabalhos por artista é variável e pode ir de dois a 30. A intenção da curadoria foi, sobretudo, escolher as peças mais importantes da produção de cada um. A quantidade, diz Tereza, importa menos que a qualidade das peças e sua importância na trajetória. O formato da exposição foi pensado especialmente para o Museu da República, mas parte da coleção já foi mostrada em Brasília. Em 2015, o Museu dos Correios recebeu 200 obras do acervo, metade do que está em Contraponto.
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Sérgio Carvalho começou a comprar obras com a perspectiva de montar uma coleção a partir de 2002. Entre as premissas para escolha das peças, estão o gosto pessoal e o contato com o artista. O colecionador gosta de conviver com os autores que estão no acervo e isso faz parte do movimento de sempre incorporar novidades capazes de mostrar o desenvolvimento do artista. Hoje, a coleção conta com 1.900 obras e traz os nomes mais importantes da produção brasileira das últimas quatro décadas. Há desde representantes das gerações mais recentes até artistas cruciais para a arte contemporânea produzida no país, como Nelson Leirner e Regina Silveira.
CONTRAPONTO
Exposição do acervo de Sérgio Carvalho. Curadoria: Tereza de Arruda. Visitação até 25 de fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 18h.