Roberta Belyse - Especial para o Correio, Rodrigo Barreto*
postado em 02/12/2017 07:32
;A fotografia pra mim é superação e evolução. É o que me satisfaz;, assim define Jéssica Mendes, 25 anos, a respeito da arte que a fez garantir espaço na sociedade. Nascida com Síndrome de Down, a fotógrafa lança o primeiro livro da carreira hoje, véspera do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Asas e flores reúne fotos da primeira exposição da artista, com inclusão de outras imagens dentro da mesma temática. ;O trabalho pode mudar e impactar outras pessoas. Enxergamos a nós mesmos como agentes de transformação;, pontua a mãe Ana Cláudia Mendes.
Sem apoio algum, a família sentiu no bolso o peso de se produzir arte em um país com poucos investimentos na cultura. ;A maior dificuldade foi econômica. Entretanto, a ideia é que metade do lucro seja destinado a um projeto para pessoas com deficiência do Brasil todo;, explica Ana Cláudia.
[SAIBAMAIS]
Quinzenalmente, Jéssica e a mãe se reúnem on-line com outros 15 jovens de diferentes estados para discutir temas de inclusão social. ;O nosso sonho é poder nos reunir presencialmente com a ajuda desse dinheiro adquirido por meio do livro;, afirma Ana Cláudia.
A alegria de Jéssica é visível. ;Mesmo com a deficiência, eu sou alegre. Ter Síndrome de Down é só um detalhe, pra mim não faz diferença. Sou realizada comigo mesma;, afirma a fotógrafa. Ela ainda relembra alguns acontecimentos de preconceitos, mas acredita que isso não a impede, pelo contrário. ;Eu me sinto forte e estabelecida no mercado de trabalho;, define.
Ana Cláudia, também conselheira no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, evidencia o crescimento de uma consciência coletiva baseada no respeito e na igualdade a todos, entretanto, acredita em um longo caminho que ainda deve ser percorrido. ;Apesar da sociedade brasileira caminhar rumo à inclusão social, há muito trilho para percorrer. As escolas, as universidades e as famílias precisam tratar todos com naturalidade. Somos iguais. Temos que reconhecer nossos direitos e reivindicar nossos espaços. É necessário desconstruir uma imagem de ;deficiente; e enxergar como pessoas comuns;, sinaliza Ana.
Educação
Jéssica começou na fotografia aos 15 anos e, desde então, não parou. A jovem coleciona exposições pelo Brasil e nos Estados Unidos ; onde apresentou o projeto na 10; Conferência dos Estados da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, em Nova York. A exposição Educação inclusiva: direito de todos, preparada pela Jéssica e a mãe, conta história da criança Giovanna Bohn exercendo o direito à educação dentro de uma escola regular.
Graduada em fotografia, Jéssica não descarta a possibilidade de novos livros. ;Ainda não sei quando, mas sei que novos projetos como esse virão. Tenho várias ideias e vou realizá-las;, explica. A mãe, Ana Cláudia Mendes, afirma que a filha encontrou o que a faz feliz. ;É a realização de uma longa jornada;.
Asas e flores: o olhar fotográfico
De Jéssica Mendes. Carpe Diem (104 Sul). Hoje, às 19h. Entrada franca. Indicado para todas as idades.