Elizeu Chaves Jr - Especial para o Correio
postado em 05/12/2017 06:20
Nova York ; Dois anos após o Despertar da Força ter provado a longevidade cultural e comercial de Star wars, alcançado a maior bilheteria da história (US$ 2 bilhões), no próximo dia 14 estreia mundialmente Star Wars: Os últimos jedi;, novo capítulo do conto de fadas sideral criado por George Lucas.
O despertar da Força, dirigido por J.J. Abrams, reviveu intensamente o espírito da saga, mas, para algumas críticas um tanto desproporcionais, seria uma recriação do primeiro Star wars (Uma nova esperança, 1977). Star wars tem como marca compilar temas clássicos e o Despertar da Força teve o mérito de abordar temáticas universais por ângulos ainda não explorados pela franquia.
Kylo Ren (Adam Driver) não tem propositalmente a presença e o tom majestoso de Darth Vader, mas já figura entre o grupo de vilões mais odiados do cinema, demonstração de que cumpre seu papel na trama. Ele é produto do ressentimento e confronta a figura paterna como instrumento de afirmação, um elemento alegórico aos processos de amadurecimento presente em incontáveis narrativas.
Divindades
Na mitologia grega, por exemplo, Chronos retira seu pai, Urano, do papel de regente entre as divindades cósmicas e, mais tarde, seu filho Zeus faz o mesmo consigo, tornando-se o senhor do Olimpo. Em uma das versões da távola redonda, Mordred ; que significa ;mau conselho;, e é filho do Rei Arthur, o confronta pelo trono de Camelot. Na cultura pop contemporânea coube a Star wars revisitar o tema.
A história seguirá com um tom mais sombrio do ponto em que o filme anterior terminou, com a nova protagonista Rey (interpretada pela revelação e um dos grandes acertos da nova trilogia Daisy Ridley) encontrando-se com Luke Skywalker (Mark Hamill), o herói ilibado de outrora, algo melancolicamente fora de moda atualmente.
Por mais que pareça haver uma fadiga quanto ao virtuosismo de personagens clássicos, protagonistas com comportamento incorruptível sempre terão seu valor. Luke cumpre sua jornada, de fazendeiro a jedi, mas transcende qu ando se vê ávido não meramente a enfrentar seu pai, como seus mestres esperavam, mas a salvá-lo e trazê-lo de volta à Luz. No novo filme, com mais tempo de tela, é provável que vejamos o último jedi como um mestre desencantado e desiludido. Sinal dos tempos.
A importância do personagem é notória. Recentemente, uma matéria extensa do New York Times celebrou Mark Hamill e seu ;retorno; ao papel de Luke Skywalker, como um dos mais esperados da história do cinema. Aos 66 anos, o ator revelou o temor de regressar ao papel que o consagrou e como as confirmações de Harrison Ford (Han Solo) e da saudosa Carrie Fisher (Leia Organa) foram essenciais para que ele aceitasse participar da nova trilogia.
Trajetória
Por mais que ao longo dos anos os outros atores tenham tido mais holofotes, coube a Mark Hamill, de maneira discreta e consonante à trajetória ingênua e romântica de Luke, ser o verdadeiro ícone de Star wars. Aliás, sobre o colega, Ford comenta que, quando conheceu Hamill, se impressionou com o quanto o então jovem ator era ;sincero e brilhante; e provavelmente o que tinha mais ;nítido o que estavam fazendo; ao filmar os primeiros Star wars.
Após o Retorno de jedi (1983), Hamill, que ganha parte dos royalties dos filmes, fez inserções na Broadway e migrou para a dublagem, onde se consagrou e conquistou novos fãs em uma interpretação visceral do Coringa, maior antagonista do Batman. Nos últimos anos, porém, ao voltar para o núcleo da saga, o ator virou o jogo, aceitando o peso e a responsabilidade de ser Luke Skywalker novamente e emergiu como uma figura pública afável e carismática além de cáustico e ativo usuário de mídias sociais.
Enquanto outros produtos expandem a galáxia, Os últimos jedi segue o eixo central e a vocação familiar da ópera espacial: o destino dos Skywalker. A relação entre Rey e Kylo Ren é um dos mistérios. Seriam eles irmãos? Primos? Ou estariam vinculados por seus papeis de oposição ou mesmo síntese entre luz e trevas?
Também presente em incontáveis mitologias e até mesmo em passagens bíblicas, a relação (e oposição) entre irmãos tem várias representações, incluindo Caim e Abel e em lendas como a dos Iroquois, povos nativos americanos, na qual os deuses gêmeos representam dia e noite, inverno e verão.
Outra especulação recorrente é a de que Rey seria filha de Luke, o que seria comovente, principalmente para pais que cresceram com a saga e batizaram ou quase os filhos de Leia ou Luke. Porém, em uma época em que o público está sedento por reviravoltas e finais infelizes, essa solução não é a desejada por todos.
Independentemente de surpresas, esperemos, sim, que Star wars, que ;definiu uma geração;, como observou A. Scott, crítico-chefe do New York Times, continue confortando, entretendo com as aventuras em uma galáxia muito, muito distante e inspirando novas (e não tão novas) gerações.
Mais da saga em várias mídias
Cass R. Sustein, professor de Harvard e um dos acadêmicos mais citados na área do direito nos Estados Unidos, dedicou uma obra para discutir o papel de Star wars no imaginário e referência do mundo moderno, quer sejam nas relações sociais, no comportamento, família, religiosidade, papel da tecnologia, além da polarização entre democracia e autoritarismo e os fundamentos das campanhas políticas.
Após o sucesso de Rogue One, um derivado Star wars bem executado e praticamente feito para os fãs, que ultrapassou a marca de US$ 1 bilhão em bilheteria mundial, a Lucasfilm, agora subsidiária da Disney, se prepara para lançar novos produtos com o selo da antologia. O filme Solo contará a juventude de um dos personagens mais queridos e deve ser lançado em 2018. Além disso, uma nova trilogia, que explorará outros cantos da galáxia, será liderada por Rian Johnson, demonstrando a confiança da Lucasfilm no trabalho do diretor.
O cânone de Star wars no periodo pós-Retorno de Jedi é preenchido por outras mídias, incluindo livros, como o recém lançado Lendas de Luke Skywalker (ainda não publicados no Brasil) e as graphic novels Império despedaçado (Panini), a trilogia Marcas da guerra (Aleph) e Legado de sangue (Aleph). Uma série para televisão está prevista. A galáxia de Star wars parece nunca ter estado tão próxima.