Alexandre de Paula
postado em 16/01/2018 06:10
O hip-hop está com tudo. O gênero ; que engloba vários estilos da música black, como o rap ; é responsável por grande parte dos artistas que estão no topo da indústria fonográfica mundial atualmente. Com nomes como Kendrick Lamar, Nicki Minaj e Drake, o hip-hop ocupa hoje, principalmente na indústria americana, um lugar de protagonismo.
Tanto que o relatório da empresa de pesquisas Nielsen sobre o consumo musical americano mostrou que, em 2017, o hip-hop ultrapassou pela primeira vez o rock no gosto do público do país. Com isso, tornou-se o gênero mais ouvido nos EUA com 25,1% nas vendas de discos físicos, reproduções de streaming e downloads.
Nome conhecido da noite brasiliense e especialista em hip-hop e black music, DJ Chokolaty aponta que esse crescimento, consolidado agora, começou há algum tempo. ;Há muito tempo ele está mostrando essa força e o mercado abraçou esse estilo musical;, comenta o DJ, que comanda, há 20 anos, um programa sobre hip-hop na rádio Cultura FM.
Para o DJ, a possibilidade de se misturar com outros estilos foi algo fundamental para que o hip-hop conquistasse mais destaque. ;Lá fora, eles sempre mesclaram o hip-hop, o rap com outras vertentes, como o rock e o country, isso atrai mais pessoas;, explica.
No Brasil, esse movimento, segundo o DJ, começou a ocorrer mais recentemente. Chokolaty defende que artistas do hip-hop façam esse tipo de parceria e refuta que, ao se misturar, o gênero perca identidade. ;Quando se junta, vai ser sempre black music, vai ser sempre hip-hop. Isso agrega as tribos e conquista espaço;, acredita. ;Se eu sou rapper e faço uma parceria com um grupo de axé, meu rap vai tocar numa rádio de axé, onde não chegaria antes;, completa.
Contestação
Mesmo com tanto espaço no mainstream, o hip-hop manteve a pegada contestadora e crítica no som de muitos artistas. Prova disso é o trabalho de Kendrick Lamar. O álbum Damn, um dos responsáveis pelos altos números do gênero em 2017, aborda diversas temáticas com conteúdo político e social.
;O hip-hop, principalmente no rap, sempre foi político, mostrando a realidade, o que acontece no dia a dia de uma região, os problemas... Ele sempre mostrou isso;, lembra Chokolaty.
Essa característica é também uma das principais razões citadas para gostar do gênero por quem é fã do estilo. A universitária Larissa Alves, 23, foi uma das pessoas fisgadas pela veia contestadora do hip-hop. ;É um grande grito de protesto e isso chama atenção de quem tem uma ideologia de rua forte e é o que me faz gostar tanto do estilo porque ele não baixa a cabeça para ninguém que vai contra, principalmente para a gente do poder;, destaca.
O publicitário Tiago Ferreira, 22, acredita que, pela música, é possível tratar de temas espinhosos e que geram resistência para se abordar. ;A gente não é ensinado a falar de diversos assuntos, questões raciais ou sociais, por exemplo. E quando tentamos levantar essa conversa, tentam calar ou diminuir a importância. O hip-hop não pede para conversar sobre o assunto. Ele fala o que precisa pra quem quiser (e pra quem não quer também) ouvir!”, afirma.
Redator, Paulo Cezar Santos, 30, lembra que a contestação está na origem do gênero na periferia americana. ;Ele era um movimento para os negros se unirem e para dar voz para essas pessoas que não tinham essa possibilidade de fala;, aponta.
Onde anda o rock and roll?
A pesquisa da Nielsen levanta um questionamento bastante discutido nos últimos tempos: o rock perdeu relevância? O estilo foi ultrapassado pelo hip-hop que, para muita gente (até para roqueiros, como Roger Daltrey, do The Who), assumiu o papel de rebeldia e contestação que o rock teve no passado.