Ricardo Daehn
postado em 18/01/2018 07:56
Há um momento da trama do filme Me chame pelo seu nome, a mais destacada estreia da semana, em que o relacionamento entre os personagens Elio (Timothée Chalamet) e Oliver (Armie Hammer) ganha uma definição, bastante imprecisa, por parte de um terceiro personagem: eles teriam ;uma bela amizade;. Muito mais do que um sentimento fraternal motiva a gradual aproximação entre o jovem Elio e Oliver, o homem que, empenhado num doutorado, auxilia o pai de Elio nas pesquisas realizadas em torno da cultura greco-romana.
Há quase um ano, o longa-metragem assinado pelo diretor italiano Luca Guadagnino desfila pelo circuito de festivais e é destacado por instituições que prestam deferência à arte do cinema. Me chame pelo seu nome, que recentemente competiu em três categorias do Globo de Ouro, pode até ter perdido títulos como o do melhor filme, no segmento Teddy (reservado a fitas LGBTQ, no Festival de Berlim), mas vem traçando trajetória invejável.
Está indicado ao Bafta (o principal prêmio inglês), nas categorias de filme, diretor, roteiro e ator, e pela Associação dos Críticos de Los Angeles foi consagrado como melhor filme, ator (Chamalet) e diretor. Já o Círculo dos Críticos de Nova York destacou Timothée Chalamet como melhor ator. Bem cotado para o Oscar, pode até render (de modo indireto) estatueta para o Brasil. Isso porque um dos coprodutores do longa é o carioca Rodrigo Teixeira, produtor de longas como Frances Ha (2013) e A bruxa (2016).
O peso internacional no mix cultural dado por Me chame pelo seu nome é perceptível. Além do diretor italiano, o filme teve origem no romance assinado pelo egípcio André Aciman, que desenvolveu carreira nos Estados Unidos, e ainda contou com o esforço do quase nonagenário roteirista James Ivory. Quem está familiarizado com a filmografia de Ivory (também diretor de títulos como Uma janela para o amor e Vestígios do dia) vai identificar traços do roteirista que, na atmosfera inglesa, trouxe muitas cenas de banho de córregos, de resistência ao amor, de casas de campos e de rodas de elite discorrendo sobre factoides intelectuais.
Maurice (1987), entretanto, paira como modelo mais bem acabado para o entendimento dos moldes de Me chame pelo seu nome. Naquele filme, havia um peso que oprimia a paixão de personagens como os de Hugh Grant e James Wilby, mas havia muita sensualidade impressa, diante do aparecimento do jardineiro interpretado por Rupert Graves.
Sem maiores dramas, Me chame pelo seu nome transcorre à sombra de uma inspiração assumida: os escritos românticos de Margarida de Valois, em especial o Heptameron. Entre o presenciar da nudez de refilão de Oliver, referências culturais exacerbadas, a arrogância (comedida) da pós-adolescência e o compartilhar de um quarto (anexo ao do visitante), Elio viverá um verão inesquecível, nos anos de 1980, ao Norte da Itália.
Outras estreias
Saudade (Brasil/ Angola/ Portugal). De Paulo Caldas. O cineasta Ruy Guerra, o músico Arrigo Barnabé e o escritor Milton Hatoum discorrem sobre o tema.
Pela janela (Brasil/Argentina). De Caroline Leone. Magali Biff é a protagonista do filme que traz alento para uma operária recém-desempregada.
Correndo atrás de um pai (EUA). De Lawrence Sher. Owen Wilson e Ed Helms estrelam o longa em que dois irmãos, enganados pela mãe, partem para descobrir o paradeiro do pai.
Os iniciados (África do Sul/França/Holanda). De John Trengove. Finalista entre os pré-candidatos ao Oscar de filme estrangeiro, o longa explora rituais em torno da masculinidade, na África do Sul.
Gaby Estrella ; O filme (Brasil). De Claudio Boeckel. Retornar às origens, num estilo de vida mais tranquilo, promete ser uma saída para a crise vivida pela jovem cantora Gaby Estrella (Maitê Padilha).
Sobrenatural: A última chave (EUA). De Adam Robitel. Mais um caso de assombração está no quarto longa dedicado ao terror: desta vez, tudo transcorrerá no Novo México.