Diversão e Arte

21ª Mostra de Cinema de Tiradentes abre nesta sexta-feira (19/1)

Festival amplia discussões de movimentos sociais identitários que reivindicam maior representatividade no cinema

Carlos Helí de Almeida - Especial para o Correio
postado em 18/01/2018 19:27
Filme 'Café com canela' abre a mostra
Tiradentes (MG) - A representação da realidade brasileira ; e os fenômenos sociais recentes colados à ela ; está no centro da pauta da 21; Mostra de Cinema de Tiradentes, que abre nesta sexta-feira (19) e fica em cartaz até o dia 27 na cidade histórica mineira. A maratona deste ano, que exibirá cerca de 100 títulos da produção independente nacional em diferentes mostras, tem como eixo curatorial a seção Chamado Realista, com filmes que fazem refletir sobre temas que têm alimentaram o noticiário do país, como racismo, feminismo e repressão policial.
De certa forma, Tiradentes reverbera discussões que tomaram de assalto o Festival de Brasília do ano passado, quando diversos movimentos sociais identitários reivindicaram representatividade no cinema brasileiro atual. A programação será aberta na noite desta sexta-feira com a projeção, fora de concurso, da produção baiana Café com canela, de Ary Rosa e Glenda Nicácio, vencedor de três troféus Candango (atriz, roteiro e júri popular) da competição brasiliense ; o filme tem no elenco Babu Santana, o grande homenageado desde ano.
A mostra Chamado Realista contém filmes de impacto, como o alegórico A moça do calendário, de Helena Ignez, o drama rural Arábia, de João Dumans e Affonso Uchôa, a ficção científica Era uma vez Brasília, de Adirley Queirós, e o documentário Operações de garantia da lei e da ordem, de Julia Murat e Miguel Antunes Ramos. Mas o tema deste ano contamina as demais seções do evento, em filmes como Escolas em luta, de Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli, atração da Mostra Praça, e o O nó do diabo, de Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abe e Jhesus Tribuzi.
;A seleção de filmes do Chamado Realista contempla uma das tendências mais evidente da produção brasileira dos últimos anos, de filmes que trabalham com assuntos da vida, do dia a dia, para dentro dos sets;, resume Cléber Eduardo, cocurador, com Lila Foster, da programação de longas da Mostra de Tiradentes.;É uma tendência que abrange filmes de arquivo, ficção e documentários e que, de certa forma, afeta toda a discussão do cinema hoje, do qual se cobra um realismo, uma forma e uma dramaturgia que se alinha a vida, à sociedade. O atrito que temos acompanhado se deve a isso".
A seleção proposta pelos programadores da mostra mineira chama atenção para a abrangência do termo ;realismo; na produção recente. ;Filmes como Arábia e Era uma vez Brasília, por exemplo, trazem essa discussão sobre realismo em formas cinematográficas quase opostas;, observa Cléber. ;O do Adirley é construído dentro do cinema de gênero; o do Affonso está mais próximo do naturalismo tradicional, protagonizado por um não-ator que está colocando um pouco de sua própria história ali, e legitimando a construção daquela vida ficcional. Enfim, a mostra quer discutir a ampliação do que seja realismo, provocar olhares sobre a questão;.
O curador quer promover o debate em torno das cobranças por um cinema alinhado com as demandas da sociedade brasileira. ;Lá no Festival de Brasília, essa questão ficou bastante politizada (e polarizada). Discordo daqueles que disseram que deixaram de falar dos filmes por causa disso, porque as falas mais intensas e agressivas nasceram a partir dos filmes, e não fora deles. Há uma demanda para que os filmes se politizem, mas é bom estar atento também para que isso não vire apenas oportunismo, só porque está na pauta do momento;, analisa Cléber Eduardo.
A Mostra Aurora, voltada para o trabalho de cunho autoral, realizada por cineastas em início de carreira (com até três longas-metragens no currículo), é composta por produções de diversas regiões do país. Sete títulos serão avaliados pelo júri da crítica: Magrigal para um poeta vivo (SP), de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho, Rebento (PB), de André Morais, Lembro mais dos corvos (SP), de Gustavo Vinagre, Imo (MG), de Bruna Schelb Correa, Ara Pyau ; A Primavera Guarani (SP), de Carlos Eduardo Magalhães, Baixo Centro (MG), de Ewerton Belico, e Dias vazios (GO), de Robney Bruno Almeida.
;São filmes muito diferentes entre si, em termos de abordagem e de estilo. O que percebemos depois que a seleção foi montada é que todos eles partem de alguma coisa negativa na vida de seus personagens, quase sempre relacionada aos espaços em que vivem;, avalia Cléber. ;São filmes que partem de um mal estar, que trabalham com a realidade sem qualquer forma de ironia, deboche ou comentário patético, e que podem ter relação com a sexualidade de um personagem ou estilo de vida do interior de Goiás, por exemplo. São histórias sérias;.

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