Diversão e Arte

Blocos de carnaval de Brasília se unem contra assédio e violência na folia

Campanha #FoliacomRespeito surgiu em virtude do crescimento no número de denúncias no ano passado

Adriana Izel
postado em 27/01/2018 07:20
Tatuagens temporárias da marca Conspiração LibertinaNo ano passado, durante os quatro dias de carnaval, as denúncias de assédio sexual subiram 90% em todo o Brasil, de acordo com a Secretaria de Políticas para as Mulheres. Só no Distrito Federal foram registradas mais de 2 mil ocorrências no período, número similar ao registrado no mesmo período no Rio de Janeiro, considerado um dos maiores carnavais do país.
O aumento dos incidentes, o fato de o carnaval ser um período em que o problema fica ainda mais exposto (com casos de puxões de braço e cabelo, beijos forçados e estupros) e por inspiração de projetos em outras cidades, um coletivo formado por produtores, artistas e pessoas ligadas aos blocos alternativos do carnaval brasiliense lançou a campanha #FoliacomRespeito. ;Ela veio de uma necessidade que os blocos já tinham verificado no ano passado com o crescimento dos casos e denúncias. Isso porque muitas pessoas sofrem assédio e acabam se sentindo coagidas e não denunciam. Era algo urgente e necessário;, explica Letícia Helena, do grupo Cantigas Boleráveis, integrante do Bloco do Amor e uma das envolvidas na campanha.
Com apoio de 33 blocos alternativos, o objetivo é empoderar as mulheres e também as minorias, como o público LGBT, que se tornou alvo de violência no período em 2017, para se manifestar em casos de violência e assédio. O objetivo principal é pregar também o sentimento de respeito ao longo da folia, que já teve início com as festas pré-carnavalescas e segue até depois do carnaval com as ressacas. ;No nosso bloco (Vai com as Profanas), a gente deixa sempre muito claro que não tolera homofobia e machismo. Toda a nossa comunicação é de tentar passar uma mensagem de respeito que veio muito a casar com a campanha articulada pelos blocos;, explica Gabriela Alves, do Bloco Vai com as Profanas, um dos apoiadores do projeto.
Totalmente independente, a campanha foi pensada e bancada pelos blocos da cidade que fizeram uma vaquinha entre eles mesmos, em que arrecadaram R$ 1 mil. O valor foi utilizado para a divulgação do projeto, a concepção de vídeos, flyers (confira acima)e até de tatuagens temporárias, essas últimas feitas pela marca local Conspiração Libertina, que já tem como diretriz esse tipo de mensagem, como ;Não é não;, ;Respeitas as minas, as monas e as manas; e ;Meu corpo, minhas regras;.
Parte da campanha começou a ser divulgada na internet e, a partir deste fim de semana, tomará as ruas nos blocos integrantes que desfilarão nesse período. É o caso de Vai com as Profanas, Maria Vai Casoutras, Bloco do Amor, Bloco das Divinas Tetas (que estará no projeto Imagina no Carnaval) e todo o chamado ;Setor Carnavalesco Sul;, localizado no Setor Comercial Sul. ;Esse é um dos temas que acaba sendo deixado de lado no carnaval. Nossa ideia é que as pessoas se sintam empoderadas o suficiente para construir um canal de comunicação;, analisa Letícia Helena.

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O governo do DF informou que também vai realizar durante o período carnavalesco (que vai do pré ao pós-carnaval), campanhas educativas e informativas nas mídias sociais e em materiais impressos, que serão entregues nos blocos, sobre o combate a diferentes tipos de violência, intolerância e prevenção de doenças. De acordo com a Secretaria de Cultura, os temas que serão abordados são: combate à violência de gênero, assédio sexual, LGBTFobia, exploração sexual de crianças e adolescentes, racismo, machismo, intolerância religiosa e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Uma das primeiras campanhas divulgadas pelo GDF em suas redes sociais foi relacionada a casos de assédio sexual na folia. Com a frase ;Depois do não, tudo é assédio;, que se popularizou nos últimos dias após postagem da youtuber Jout Jout, a imagem também informa sobre as centrais de atendimento à mulher para denúncias.

Movimento pelo Brasil

As campanhas contra assédio começaram a aparecer nas folias de todo o Brasil nos últimos anos com a maior exposição do tema. Há dois anos, diversos movimentos, ao lado da revista AzMina, se uniram e fizeram um manual intitulado de Guia prático e didático da diferença entre paquera e assédio, como parte da campanha #CarnavalsemAssédio. Em 2017, a campanha ganhou um novo tema: #UmaMinaAjudaAOutra, em que as mulheres eram convidadas a ficarem atentas aos casos de assédio que outras poderiam sofrer.
No Recife, há dois carnavais é promovida pelo governo local uma campanha nas redes sociais que alerta para casos de assédio por meio do ;Manual prático de como não ser um babaca no carnaval;. Em Belo Horizonte, os blocos de rua promoveram no ano passado a campanha ;Tira a mão: É hora de dar um basta;.
Neste ano, a cidade de Ouro Preto (MG) anunciou que vai aderir a campanha ;Aconteceu no carnaval;, lançada no Recife com apoio no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em João Pessoa. O projeto expõe a naturalização do assédio no carnaval, é um canal de denúncias para as mulheres e um mapeamento de áreas inseguras nas cidades. O projeto é uma iniciativa das redes Mete a Colher, Women Friendly e várias outras organizações no Brasil.
Nos dias de folia, serão distribuídos panfletos informativos, as ruas ganharão cartazes sobre o tema e um site estará disponível para a exposição de casos de assédio. A campanha não substitui a ocorrência nas delegacias, mas tem como missão quebrar o silêncio, dar visibilidade e reunir dados específicos dos incidentes. Só no ano passado, segundo relatório disponível no portal, o site registrou como os maiores tipos de denúncias casos de passada de mão nas genitálias ou seios, beijo forçado, agressão verbal, abraço forçado, puxão no braço e agressão física.

Como denunciar

Denúncias podem ser feitas pela central de atendimento no número 180 e na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM), na 204/205 Sul.

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