Diversão e Arte

Reality show x vida real: Entenda como funciona os programas de televisão

O quanto do que vemos nos realities correspondem ao comportamento na chamada vida real?

Ronayre Nunes
postado em 17/02/2018 07:20
Segundo Elis, ex-BBB, os participantes de realities podem personificar personagens para ganhar atenção do público
;A conclusão da observação da natureza humana pelas lentes do Big brother Brasil é a seguinte: toda mulher é chata e todo homem é bobo;. A famosa frase, entre tantas, do então apresentador Pedro Bial, pode até parecer chocante, mas guarda uma verdade bem menos sensacionalista: o poder de atração de um reality é muito forte.

Mais do que ;observar a natureza humana através de lentes;, todos os dias, milhares de pessoas gastam horas de suas vidas em frente à tevê para uma verdadeira roda gigante de emoções, que nenhum filme construiria tão fielmente quanto a vida real. Mas por quê? Qual a verdadeira razão do sucesso desse tipo de programa?

Para começar a entender a razão que faz o sucesso dos reality shows, é importante compreender quando e de onde eles vieram. De certa forma, tentar mostrar a ;realidade; através das câmeras foi algo que sempre esteve na tevê, mas o que de fato mudou os rumos desse gênero foi An american family, produzido pelo canal norte-americano PBS, em 1973.

Mais do que uma origem para os realities, An american family foi uma quebra de paradigma para a sociedade da época. A típica família composta por cinco filhos era uma verdadeira sensação para a quebra de tabus. Além de um episódio mostrando a mãe pedindo divórcio, a família também tinha um filho gay. Depois de vários spin-offs e outros realities com inspiração semelhante, o mundo estava preparado para se render a um dos maiores gêneros da tevê.

Números e segredos


Competições musicais, programas de confinamento, o limite da sobrevivência em selvas, busca do amor, os bastidores da fabricação da cerveja, os desafios para se tornar um chef de cozinha, o cotidiano de celebridades. Acredite, não existe um limite para os realities. E a grande razão para isso é simples: seu poder de arrecadação.

Não existem números oficiais divulgados pela Globo, mas especula-se que o lucro do BBB, que dá R$ 1,5 milhão ao ganhador, tenha garantido R$ 210 milhões de seis patrocinadores oficiais ; que não incluem as propagandas de intervalo ; para a edição do reality em 2018.

Segundo Cláudio Ferreira, autor do livro A dinâmica dos reality shows na televisão aberta brasileira, a rentabilidade desse tipo de programa chama a atenção: ;O reality é muito rentável para as emissoras, pois tem um custo muito baixo e, ao mesmo tempo, tem um retorno considerável. Nesse tipo de programa, os merchandisings podem ser inseridos dentro da tela, a publicidade não precisa ficar restrita àquele tempo do comercial;.

Na verdade, o segredo de sucesso dos realities não é só um, mas um conjunto de três principais: copiar, expor e reciclar. Para começar, o mais irônico deles: o reality só consegue ser um programa diferente e atrativo. Graças a copias que o gênero absorve de outros conteúdos.

;O que acontece é a presença de elementos dramáticos de outros programas para construir os realities, o que tinha de outros gêneros, como aquele drama das novelas e os programas de auditório, funcionou no reality;, completa Ferreira.

O segundo grande segredo do sucesso dos realities está relacionado a um potencializador típico dos anos 2000: a internet. Segundo Ferreira, ;o reality show tem muito a ver com rede social. Sem internet talvez não tivesse reality, porque a interatividade é uma das chaves desse tipo de programa. Em um mundo em que as pessoas não tem mais tanta vergonha para se expor, isso se torna um atrativo à parte;.

Adélia defende a verdade nos programas. Segundo a advogada, tudo que ela fez no Big Brother foi verídico

A capacidade de se reinventar é o terceiro grande trunfo dos realities. ;Teve a onda do BBB, agora tem os realities culinários e de música. Esse é o gênero que consegue se reinventar e se perpetuar;, concluiu Ferreira.

É quase impossível lidar com reality shows e nunca ter ouvido aquela clássica acusação de que ;tudo isso é combinado!”. As surpresas, as edições e os atos de heroísmos muitas vezes colocam uma pulga atrás da orelha do telespectador, por isso o Correio foi investigar: tem mentiras nessa história?

A advogada Adélia Soares, participante da 16; edição do BBB, afirma que a realidade dos fatos pauta o conteúdo da atração. ;As pessoas sempre me perguntam se existe algum roteiro, se a direção pede pra fazer alguma coisa, mas não, não aconteceu nada nesse sentido;, garante.

Opinião semelhante à de Adélia é a de Daniel Teixeira, da banda Bicho de Pé, que participou do Superstar, também na Globo. ;A emissora não tentou ditar nenhuma regra, ou nenhum plano, tudo aconteceu do jeito que a gente queria, conta;.

Entretanto, Elis Nair, uma participante da 17; edição do BBB, no ano passado, explica que a verdade neste contexto tem limites e quem a viu na tevê e a conhece na vida real, por exemplo, encontraria diferenças significativas: ;Eu criei um personagem e segui de acordo com o que eu achava que fosse funcionar. Antes de participar, assistia ao programa e dizia que não gostaria de me ver, como participante, só comendo e dormindo, então, quando eu entrei, queria ser uma pessoa pra causar. Fiz o que achava que o público gostaria de assistir;.

O Correio também ouviu o editor Luís Piu, que trabalhou no BBB em 2007. O carioca explica que o programa segue um restrito ; e secreto, claro! ; modo de organização para lidar com a edição, mas que, de forma alguma, isso significa mentiras ou manipulações indo ao ar.

;Todo mundo me pergunta se existe manipulação, e eu posso dizer com todas as letras: não. O que acontece é que o programa se chama reality. E isso é um programa de televisão, tem elementos de programa de televisão, mas não tem manipulação, inclusive as pessoas têm pay per view, então, se a edição final não for fidedigna, o público percebe. Não tem como.;

Sobrevivendo aos realities


Se os programas de confinamento já enfrentam questionamentos quanto à veracidade, outro segmento que sempre parece um pouco ;heroico; demais são os realities de sobrevivência. Para Márcio A. Cavalcanti de Albuquerque, Diretor Presidente dos Escoteiros do DF, é muito mais difícil sobreviver na selva do que os realities aparentam.

;É importante as pessoas saberem que os programas de reality shows de sobrevivência possuem uma grande estrutura que os acompanha. Se acontecer qualquer problema, existe sempre uma equipe médica para dar o suporte ao participante. Não é aconselhável, portanto, a pessoa que não tem nenhuma prática ou conhecimento realizar algumas técnicas vistas, como beber xixi de camelo; dormir dentro de um camelo; comer a larva de um besouro-rinoceronte; e muito mais;, defende.

*Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader

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