Rui Martins - Especial para o Correio
postado em 17/02/2018 07:25
Berlim ; Uma simples fábula animada sem maiores pretensões sobre um prefeito que detesta cachorros e os confina numa ilha, ou uma alegoria mais profunda tratando dos que têm uma vida de cachorro e vivem à margem da sociedade? A interpretação é livre. Mas se frustraram os que esperavam em Ilha dos cachorros alguma referência indireta aos refugiados. De longe, se poderia ver no prefeito Kobayashi um nazistinha com seu campo de concentração canino. No fundo, um filme para quem gosta do fiel cachorro. Um entretenimento.
[SAIBAMAIS]Entre os atores que dão voz ao filme está Bill Murray: ;É como cantar num coral ou ser um dos cantores de We are the world. Mas dá uma grande satisfação;.
A coletiva de imprensa, na abertura do Festival de Berlim, chegou a ter momentos comoventes, quando o realizador norte-americano Wes Anderson e os atores da animação, que emprestam a voz para os cães do filme, passaram a falar de seus próprios cachorros, o que morreu, o que quebrou a perna, a raça de um e de outro, a tal ponto que a atriz Greta Gerwig tentou se salvar, com bom humor: ;Não tenho cachorro, mas estou a fim de ter um;. Destaque do filme, o jovem Koyu Rankin, que serviu de modelo para o garoto Atari, completava 11 anos ontem e foi homenageado pelos outros atores.
Wes Anderson estava contente com a estreia bem recebida pelo público. É a quarta vez que leva um filme à mostra de Berlim (que vai até o dia 25) e, por duas vezes, foram filmes de abertura. Na verdade, o diretor americano conseguiu o impossível ; transformou uma ilha depósito de lixo municipal no cenário de um filme comovente de animação, em que os cães são os principais personagens. Abandonados, sujos, famintos e perseverantes, têm tudo para atrair o público.
Probleminhas
O diretor, ao responder a uma pergunta sobre a origem do filme, conta ter sido uma velha ideia de fazer um filme sobre cachorros abandonados e virando latas de lixo. Como havia também o projeto de realizar uma produção de animação no Japão, os dois desejos acabaram se encontrando. Mas teve de enfrentar alguns ;probleminhas;.
;Para se fazer um filme de animação é preciso, além de uma boa história, resolver surpresas. Durante as filmagens, percebemos que nossas marionetes não sabiam sorrir... e a gente precisa encontrar uma solução. Aparecem sempre coisas assim para resolver.;
Indagado se o filme tem um viés político, o cineasta respondeu: ;Logo no começo, quando pensávamos no filme, veio a ideia de que seria preciso inventar uma vida política na cidade, cujo prefeito vai expulsar os cachorros. Como levamos muito tempo imaginando esse filme, a atualidade nos ajudou, pois o filme veio a calhar, chegou no momento certo para passar esse tipo de mensagem. Mas essa história poderia se passar em qualquer época e em qualquer lugar. Na verdade, a primeira ideia era relacionada com os anos 1960, contado em 2007. Mas, depois, modificamos.;
O filme
Ilha dos cachorros (Isle of dogs) conta a história de Atari Kobayashi, um garoto de 12 anos, contra o vilão, o prefeito Kobayashi. Por decisão do executivo, todos os caninos de estimação da cidade de Megasaki são exilados num vasto depósito de lixo, chamado justamente de Ilha do Lixo. Atari se lança sozinho para a ilha em busca de seu cachorro protetor, Spots. Lá, com a ajuda de um grupo de cachorros amigos, começa uma jornada épica que decidirá o destino e o futuro de toda a prefeitura.