Diversão e Arte

Grupos brasilienses de percussão mostram a força das mulheres no batuque

Conheça os trabalhos de grupos como As Batuqueiras, Batalá e Patubatê

Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 18/02/2018 07:20
Grupo As Batuqueiras mostra força feminina na percussão
O ritmo do tambor toma conta da cidade e os grupos de percussão formados por maioria feminina mostram que ampliam com força seus espaços. Ao som do tambor, surdo, pandeiro ou tamborim, grupos como As Batuqueiras, Batalá e Patubatê se destacam por ocupar espaços abertos de Brasília, levando o batuque das mulheres para shows em escolas e parques. Os ensaios exigem dedicação das instrumentistas, que se preparam diariamente para entrar no ritmo certo nas apresentações.

Deise Lopes, 47 anos, é nutricionista e toca no grupo Patubatê, que mostra grande quantidade de mulheres em sua composição. A experiência musical teve início nas aulas de capoeira, quando aprendeu um pouco de pandeiro, berimbau e atabaque. Em 2010, ela participou da primeira oficina com o maestro Fred Magalhães, do grupo de que participa atualmente.

;Entrei tocando tamborim, depois agogô, agora agbê (alguns chamam de xequerê) e roncar;, explica. Eu tenho um trabalho muito mental no meu cotidiano, leio muito, estudo, dou aulas, ministro palestras. A música e os ensaios chegam como uma terapia semanal, um momento para usar o cérebro e a mente de outra forma.;

Para Deise, a relação com os instrumentos possibilita ampliação de escuta, de atenção, de conexão e de concentração. ;Você tem que fazer o seu certo, mas sempre em função dos outros, que são muitos. Além disso, conhecer e saber lidar com pessoas de outras áreas de atuação, estilos de vida diferentes, visões de mundo diferentes, que se juntam pelo desejo de fazer música;, conta.

A experiência é sempre completa e intensa. A nutricionista e percussionista conta que o público sorri, canta e dança para quem está no palco tocando, o que cria sempre uma energia de criação e diálogo.

O Patubatê ensaia duas vezes por semana, três horas a cada encontro. Em janeiro a carga de encontros aumentou, pois fevereiro é um mês de movimento. ;Uma das minhas experiências mais marcantes foi ficar em cartaz durante 2 meses com o grupo Tripé, na peça O novo espetáculo, como parte do enredo. Tocar para pacientes com distúrbios mentais em hospitais ou homenagear os garis do SLU também foram vivências marcantes;, lembra Deise.

Ritmo e coletividade


A percussionista e cantora Lirys Catharina Silva, 32, toca na banda exclusivamente feminina As Batuqueiras. Ela participou da gravação do CD da mestra Martinha do Coco e fez breve passagem pelo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro. Para ela, a música é capaz de trazer mais confiança, segurança, voz ativa, liberdade de expressão, ritmo, coletividade, empatia. ;Hoje, por causa da música, me relaciono com um ciclo de mulheres que lutam pelos mesmos objetivos na arte e na vida;, destaca a musicista.

Lirys começou a tocar percussão ainda na adolescência e nunca mais aparou. Ela fez parte da formação, ao lado de outros artistas candangos e pernambucanos, de um dos primeiros grupos percussivos de ritmos como coco e maracatu em Brasília, o Lua de Luanda, que durou sete anos.

As mulheres fazem o ritmo do brasiliense Batalá

;Hoje, toco uma variedade grande de instrumentos percussivos, como tambores, congas, ganzás, agogô, gongues, caixa;, lembra a artista. Nos grupos femininos, ela destaca o emponderamento da fala, da afirmação de direitos iguais entre homens e mulheres, além da beleza da música em sua essência feminina.

A relação com o público é a de levar o indivíduo a apreciar o desconhecido, a obter conhecimento sobre saberes populares e ancestrais, trazer à tona memórias por meio de melodias e cantos que encantam. ;É um papel difícil estar no palco, mas é prazeroso e poderoso, é o momento de expor coerentemente o ponto de vista por meio das letras, dos toques e da fala;, conta Lirys.

Blocos de carnaval


Joana Lopes, 45, alterna o trabalho de funcionária pública com os ensaios nos grupos Patubatê e Bateria furiosa do DF. Ela toca surdo desde 2013 e afirma que a música ajuda a melhorar as relações pessoais, além de aliviar o estresse do cotidiano. Formada em artes cênicas, a artista se sente à vontade nos palcos e conta que seu momento preferido é tocar no carnaval. ;Toco em blocos de carnaval desde 2013. Já toquei nos blocos Medida provisória, Fio desencapado, Suvaco da asa, Virgens da Asa Norte, Agoniza mais não morre, bloco sustentável do Patubatê, carnaval multicultural do CCBB e carnaval do parque;, enumera a artista.

Lorena Galvão, 34, também se apaixonou pelos ritmos do Patubatê e toca tamborim no grupo desde 2014. Para ela, a percussão trouxe amigos e muita alegria. ;Tocar em grupo me lembra a importância de ouvir o outro, de encontrar um ritmo comum, de respeitar o outro;, destaca. Além disso, a música é um momento de diversão e meditação ativa em uma rotina diária muitas vezes intensa.

A artista lembra que as mulheres trazem leveza com firmeza, com instrumentos de diversos tamanhos e pesos, tocam e fazem coreografias. Além disso, grupos de música com maioria feminina, como o Batalá e As Batuqueiras, podem demonstrar a conexão feminina e o sentido de comunidade.

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