Diversão e Arte

Estreia o filme que pode render o quarto Oscar para Daniel Day-Lewis

Entre cinco estreias na telona, Trama fantasma, com enredo de um amor poderoso, lidera as atenções, com seis indicações ao Oscar

Ricardo Daehn
postado em 22/02/2018 07:50
Daniel Day-Lewis e Leslie Manville: ambos candidatos ao Oscar, por Trama fantasma

Clássico absoluto na filmografia de Alfred Hitchcock, Rebecca, a mulher inesquecível (1940) poderia bem ter inspirado a vida do protagonista da nova ficção assinada pelo cultuado cineasta Paul Thomas Anderson: o costureiro Reynolds Woodcock, personagem central emTrama fantasma. Indicado a seis prêmios Oscar, o filme trata, num patamar de homenagem àquele suspense romântico do mestre britânico, de uma relação a dois na qual se infiltram dominação, subserviência e reajustes de rotinas, para o complemento dos afetos. Ambientado na Inglaterra dos anos de 1950, Trama fantasma veio da vontade de Paul Thomas Anderson (indicado ao Oscar de melhor diretor e de produtor do melhor filme) compor um enredo romântico crivado com atmosfera gótica.

No centro do longa-metragem está a magnética presença do ator Daniel Day-Lewis (que, mais uma vez, jura que abandonará a carreira), à frente do estilista Reynolds Woodcock. Racional, compulsivo na rotina de trabalho e bem rigoroso, Woodcock se renderá à verdadeira virada de mundo, a partir do encontro com a musa Alma (Vicky Krieps)? A pergunta é o que alimenta todo o mistério de Trama fantasma. Alma ; imigrante encontrada por Woodcock ao acaso ; tem lá suas artimanhas, mas pesa o fato de o estilista alimentar a compulsão por aventuras ocasionais, com prazo de validade praticamente estampado nas etiquetas atreladas às criações de seu guarda-roupas.
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Ainda que a roupa faça o homem, no caso de Woodcock, elegante, exigente e de difícil convivência, ele é quem veste a fina nata britânica feminina. Uma genialidade patológica cerca o homem sem o menor pendor para autoajuda, daí a importância da amada Alma, ideal para um possível equilíbrio. Na imprensa internacional, Thomas Anderson classificou o estilista como alguém ;independente, preocupado consigo mesmo e que não obedece a ninguém;. Quanto à Alma, as características foram objetivas: ;Ela representa um adversário digno, e ela desafia o costureiro;.

Na divulgação do primeiro filme feito fora dos Estados Unidos, Paul Thomas Anderson toma certo partido das atitudes do protagonista criado em roteiro de autoria própria: ;Acho que as pessoas só permitem que você seja obsessivo se você se divertir sozinho;. Mais uma vez, tal qual em Sangue negro, Daniel Day-Lewis intimida em cena. Manipula um jogo que alinha alta-costura, austeridade, rituais e excessivo comedimento. É mais um tipo focado no descontrole e que ressalta a queda de Paul Thomas Anderson pelo que seja raro.

Trajetória sólida

Na elaboração de sua filmografia, Anderson trouxe apostadores sem limites que formataram Jogada de risco (1996), enquanto pornógrafos se deleitaram na trama de Boogie nights (1997), capitalistas perderam mais do que a ética em Sangue negro (2007) e a fixação pelo autocontrole se espalhou pelo enredo de O mestre (2013). Depois de seis candidaturas ao Oscar, sem nunca ter levado, o diretor Paul Thomas Anderson acumula mais duas, por Trama fantasma. Ainda assim, torce em especial pela vitória do figurinista e frequente colaborador Mark Bridges, crucial na história algo inspirada em colegas do meio dele como o espanhol Cristóbal Balenciaga e o fashion designer Charles James.

Além disso, há de se destacar as indicações ao prêmio máximo do cinema para a trilha sonora a cargo de Jonny Greenwood (do Radiohead) e as interpretações de Daniel Day-Lewis e da experiente Leslie Manville (Malévola), num papel coadjuvante. À imprensa britânica, por meio da Radiotimes, ela contou que não esperava, mas sabia da possibilidade da indicação, enquanto jornalistas qualificaram tudo como uma surpresa. ;Sei que foi por um triz. Sinto que não tenho a menor chance de ganhar, mas o título de atriz indicada, este, ninguém me tira;, disse. Na fita, ela interpreta Cyril, a conselheira irmã de Woodcock que segura uma das pontas do triângulo amoroso.
Outras estreias
Sem amor
Concorrente russo ao Oscar de melhor filme estrangeiro, o longa consolida o nome do diretor Andrey Zvyaginstsev, conhecido pelas participações no Festival de Cannes com filmes como O retorno (2003). Além disso, Zvyaginstsev viu Leviatã na lista dos finalistas do Oscar, há três anos. Agora, com Sem amor ele mostra uma trama de divórcio motivado por dinheiro e gravidez. Pior: o casal central enfrenta o desaparecimento, em meio à crise, do filho.

A grande jogada
Jessica Chastain (A hora mais escura) estrela este longa de Aaron Sorkin, roteirista e colaborador dos enredos de Steve Jobs e A rede social, entre outros. A vida real de Molly Bloom inspirou o roteiro adaptado da fita, indicado ao Oscar. Antiga esquiadora, Bloom seguiu para Los Angeles, foi garçonete e conheceu um produtor de cinema que mudou sua vida. Sem pestanejar, ela passou a organizar jogos de pôquer que despertaram a ação de investigadores do FBI.

Heartstone
Com rara projeção no Brasil, o cinema nórdico ganha visibilidade, com o longa conduzido por Guomundur Arnar Guomundsson. Rodado numa pequena vila de pesca da Islândia, o enredo trata da aproximação entre os jovens Thor e Christian. Em princípio, amigos, as coisas se complicam quando se forma a ciranda amorosa: um dos jovens se percebe apaixonado por uma menina, ao mesmo tempo em que o outro o deseja.

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