Diversão e Arte

Cada vez mais comuns, batalhas de rap se tornam tradição no DF

Evento promove criatividade e a consciência política

Raphaella Torres*
postado em 05/03/2018 07:30
A luta das gurias mostra a força feminina no rap brasiliense
Pensamento rápido, agilidade nas palavras, conquistar o público e garantir aplausos. Esses são os principais componentes para uma boa batalha de rap. Diferentemente do que muitos pensam, palavrões, frases com preconceitos, palavras racistas e rimas decoradas não fazem parte dessa guerra. Longe do significado real, a batalha consiste em uma troca de rimas entre os participantes e quem ganha é aquele que fez a melhor rima de acordo com a opinião do público ou de alguns jurados, conseguindo agitar a platéia e fazer pensar.

Crescentes no DF e no Entorno, as batalhas de rap estão se tornando comuns em praças e ruas da cidade. Sempre perto de pontos de ônibus ou de metrô, os encontros entre os amantes da rima estão angariando seguidores pelas regiões. Atualmente, existem cerca de 37 batalhas de rap acontecendo diariamente no DF ; do Museu da República ao terminal de Ceilândia, os MCs travam batalhas e dão visibilidade à arte urbana.

;As batalhas ganham força por serem simples de fazer, por se comunicar com os jovens e serem acessíveis na internet, já que, no mesmo instante em que está acontecendo, são filmadas e divulgadas nas redes sociais;, afirma Naui MOVNI, um dos responsáveis pela Batalha do Relógio, em Taguatinga.

Crescimento e diversidade

Uma das principais características das batalhas na cidade é a diversidade de influências, algo comum ao rap do DF, que é reconhecido nacionalmente. ;Brasília por si só é uma mistura. Por isso, aqui tem rap com influências melody, funk, funk-soul e trape;, conta o MC 3,14loto, que costuma participar da Batalha da Escada, que ocorre toda quarta-feira, às 18h, na Universidade de Brasília.

Com uma mistura tão grande de ritmos, as batalhas são uma oportunidade para descobrir talentos e apresentar o que está sendo feito na cena atual. ;Quando a gente começou, tinha uma batalha de MCs. Agora, por todo o DF, tem mais de uma batalha por dia;, explica MC Meleca Videos, responsável pela Batalha do Museu, uma das pioneiras em Brasília.

Conhecido como um estilo formador de opinião, o rap traz rimas que contêm o olhar das periferias sobre assuntos importantes, como política, cultura e vida em comunidade. As batalhas, por sua vez, são a fonte por onde transborda todo esse conhecimento do povo. ;Eu acho que já existe uma tradição de batalhas no DF. Cada nova batalha que é criada já vem com uma nova responsabilidade devido ao aprendizado que adquiriu com as outras;, reiterou Meleca.

Outro destaque do rap brasiliense é a presença das mulheres. Uma das organizadoras da Batalha das Gurias, MC Lis mostra que o poder feminino no cenário do rap candango é forte. Porém, isso só se mantém graças ao foco que elas têm para continuar no ramo. ;Nós, mulheres, temos que criar nossa própria oportunidade e, por causa disso, a gente tem que fazer duas vezes melhor que os MCs masculinos;, diz ela.

; Como começar uma roda de rap?

As batalhas costumam começar com um sorteio. Os MCs que querem participar precisam dar o nome e, normalmente, são sorteadas 16 pessoas. A cada round, os MCs são eliminados para que, no fim, seja escolhido o vencedor. Dentro das batalhas existem modelos estabelecidos. Entenda:

Bate e volta: é composto por dois MCs que se confrontam, cada um com oito rimas na primeira rodada e quatro rimas na segunda.

Tradicional: os MCs precisam rimar durante 40 segundos. Cada um tem esse tempo limite em um round com quatro rodadas.

Batalha dos Neurônios: os MCs precisam improvisar em cima de temas específicos como forma de demonstrar os conhecimentos.

Batalha do Museu
Todo domingo, às 16h, no Museu da República.

Sonora da rua
Toda segunda, às 19h30, na praça da quadra 10 em Ceilândia.

Batalha da Escada
Toda quarta, às 18h, no Teatro Arena da UnB.

Batalha do relógio
Toda quinta, às 19h30, na Praça do Relógio, em Taguatinga.

Batalha das Gurias
Todo segundo sábado do mês, às 15h, na praça Central do Conic.

*Estagiária sob supervisão de Vinicius Nader

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