Rio de Janeiro - Há uma semana da estreia da série O mecanismo na Netflix, o diretores José Padilha, Marcos Prado, Felipe Prado e Daniel Rezende, a roteirista Elena Soarez e os protagonistas Selton Mello, Caroline Abras, Enrique Diaz e Jonathan Haagensen participaram de uma coletiva de imprensa para divulgar o seriado.
A obra é inspirada no livro do jornalista Vladimir Netto sobre a operação Lava-Jato, que investiga um esquema de corrupção envolvendo políticos e empreiteiros. A série é mais um trabalho de Padilha com a Netflix baseado em fatos reais, já que Narcos retrata o narcotráfico no mundo. O seriado acompanha os desdobramentos da operação com foco em personagens como os delegados Ruffo, papel de Selton Mello, e Verena, vivida por Caroline Abras, e o doleiro Roberto Ibrahim, interpretado por Enrique Diaz.
Aconversa com os jornalistas foi pautada pelo debate político e o posicionamento de José Padilha, criador e diretor da série, para retratar a história em O mecanismo. "Primeiro é preciso entender o que estamos chamando de mecanismo. No Brasil, a corrupção é uma estrutura política, porque os partidos são financiados por empresas que depois colocam pessoas em cargos-chefes. Tudo isso é corrupção. É a lógica da corrupção que determina esses cargos, o mecanismo começa a ser montado pelo inchaço de verba, lavagem de dinheiro, caixa 2, em todos os estados, no governo federal, no executivo e no legislativo", afirma o diretor.
Padilha conta que a história começa retratando o que aconteceu com o policial Gerson, que inspirou o papel de Selton Mello, e a prisão de Alberto Youssef, na série, representado por Enrique Diaz. Mas, ao longo da temporada que terá oito episódios, a série se desdobra para os demais acontecimentos da operação Lava-Jato, que ele acredita ter um valor heurístico. "Ela revela para a gente que o mecanismo não tem ideologia. Haverá uma quantidade razoável de gente que fará uma patrulha ideológica muito por conta do Lula (que é retratado na série)", classifica.
Sobre os desafios da série, José Padilha diz que é exatamente mostrar a corrupção. "É muito fácil explicar polícia e ladrão. Fazer uma série sobre lavagem de dinheiro é complicado. Tem que explicar", afirma. "Acho que na América Latina, em geral, as pessoas vão entender a história, até porque a lógica política no Brasil não é tão diferente no México e na Venezuela", completa.
A série O mecanismo
Baseada no livro de Netto e nos acontecimentos reais, a roteirista Elena Soarez revela que a dificuldade foi misturar ficção e realidade e entretenimento e política. "É ingrato porque é uma narrativa que envolve muitos personagens", conta.
Um dos primeiros a integrar o elenco, Selton Mello diz que era um desejo antigo, desde o Tropa de Elite 2, trabalhar com Padilha. "Ele veio com essa ideia. É um personagem fascinante e uma história relevante. Algumas coisas que me encantam nesse personagem é o lado delegado, lado contra o mecanismo e cidadão, que é um cara que quer justiça", define.
Caroline Abras afirma que entrou no projeto motivada pela força da protagonista. "Foi bem interessante até porque pensando que a Verena é uma liderança feminina, foi uma grande motivação", explica. Jonathan também falou do convite: "Foi sensacional porque é uma oportunidade maravilhosa de descobrir outra linguagem e falar desse assunto". Para Enrique Diaz, a série é uma oportunidade de reflexão sobre a moral. "Por meio do personagem, que a gente possa discutir a moral. Se ele (Ibrahim) ajudar as pessoas a pensarem o bem e o mal de forma renovada...", analisa.
Ainda não está confirmada uma segunda temporada, mas Padilha garantiu que a equipe está preparada. "A gente está mais ou menos fazendo inspirado no mundo real. A gente sabe até certo ponto... A nossa série é inspirada no livro e o Vladimir continua trabalhando nisso. Se tiver uma segunda temporada, a gente sabe mais ou menos para onde vai", afirma. Antes, o diretor havia brincado que a sequência não poderá ser vista por políticos, como o ex-presidente Lula na cadeia, se referindo aos desdobramentos da operação Lava-Jato.
Assassinato de Marielle
Amorte da vereadora do PSOL Marielle Franco na madrugada no Rio de Janeiro também foi lembrada na coletiva. Enrique Diaz afirmou: "A tragédia de Marielle é um sinal terrível do que a gente vive no Brasil". José Padilha quis completar falando que a violência é cotidiana no Rio. Assim como Jonathan que pontuou: "Ela representa, na verdade, o que acontece todo dia nas comunidades no mundo. É uma violência silenciosa que acontece com as mulheres negras".
A repórter viajou a convite da Netflix