Ronayre Nunes
postado em 27/03/2018 06:25
Tiroteios, explosões e perseguições. O ano de 2018 começou agitado em Bogotá, capital da Colômbia. Mas não se trata de nenhum conflito de guerrilha armada ; que marcou por décadas o país. A agitação nas ruas da cidade latino-americana fazia parte das gravações do filme Mile 22, que, planejado para ser uma trilogia, é uma verdadeira potência de bilheteria de Hollywood, contando com atores do nível de Mark Wahlberg, John Malkovich e Lauren Cohan.
A grande surpresa não é o fato de a Colômbia receber as gravações de Mile 22, mas também servir de locação para outras grandes apostas do cinema norte-americano, como Feito na América (com Tom Cruise), Jungle (com Daniel Radcliffe) e Amando Pablo (com Penélope Cruz). O mercado que busca filmes internacionais para usar determinadas locações mundo afora é acirrado e ter suas terras perpetuadas em um grande blockbuster de Hollywood, então, vale ouro.
E as produções de filmes estrangeiros geram impactos positivos na economia dos territórios que os recebem, como no turismo, comércio local, serviços e a própria oxigenação da indústria audiovisual, que pode ganhar com a experiência e tecnologia especializada. Foi visando a esses lucros que a Colômbia aprovou, em 2013, o Projeto de Lei 1556, que incentiva o recebimento de produções internacionais em seu território e agora recolherá os frutos de tais incentivos.
No último ano, o governo investiu pouco mais de U$ 17 milhões para retornar o preço de contratação de empresas prestadoras de serviço e gastos em material cinematográfico. Em compensação, recebeu cerca de U$ 50 milhões ao girar as economias locais. Além disso, a própria indústria colombiana foi afetada, passando de três gravações originais em 2003 para 44 em 2017, de acordo com o jornalista Oscar Escamilla.
O milagre das locações
O Correio foi atrás dos órgãos responsáveis por conferir como anda o cenário brasileiro em relação a locação de territórios para filmagens internacionais. A conclusão é de que o Brasil ; que tem paisagens já conhecidas em grandes produções como Velozes e Furiosos 5, a saga Crepúsculo e Ensaio sobre a cegueira ; ainda caminha a passos lentos em relação a internacionalização de locações.
A Rebrafic (Rede Brasileira de Film Commissions) ; associação nacional de film commissions (FCs) sem fins lucrativos com o objetivo de promover locações em território nacional ;, por meio de seu diretor, Steve Solot, aponta que o Brasil está substancialmente para trás na corrida por locação, principalmente no cenário latino-americano: ;Atualmente, na América Latina, seis países oferecem incentivos para atrair produções estrangeiras, sendo que o dinheiro desembolsado é sempre recebido pela empresa produtora local contratada pela empresa produtora estrangeira. São eles: Chile, com reembolso de 30%; México, com reembolso/isenção de 16% de imposto de valor agregado; República Dominicana, com crédito transferível de 25%; Panamá com reembolso de 15% e Colômbia com reembolso de 40%, mais 20% para gastos logísticos;.
A associação ainda aponta que o retorno econômico pode ser substancial para os países que estão abrigando uma produção. "Nos EUA, por exemplo, a filmagem de um longa-metragem de um dos ;major studios; de Hollywood gera, em média, US$ 200 mil por dia em atividade econômica e receitas públicas, de acordo com dados da Motion Picture Association of America (MPAA).
Contexto brasileiro
A Ancine (Agência Nacional do Cinema) lembra que as filmagens estrangeiras no Brasil dependem de uma série de resoluções, e que entre elas, a associação dos estúdios internacionais a coprodução cinematográfica brasileira. Ainda de acordo com o órgão, não existem incentivos federais diretos para o estímulo de filmagens externas em território nacional. A própria Ancine também reconhece que as filmagens estrangeiras podem ;gerar impacto positivo na economia dos territórios que as acolhem;, e que para isso, já existe um estudo em andamento para verificar a melhor forma de implementação. Ainda de acordo com a agência, os planos envolvem a criação de uma rede de investimentos baseados em um Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que seja capaz de ;colocar o Brasil num outro patamar de competitividade no cenário global;.
A Ancine acrescenta que outro passo importante para atrair produções internacionais em solo nacional passa por uma desburocratização dos processos de atividades: ;Serão desenvolvidas linhas do FSA para coprodução internacional e as normas que regulamentam essas coproduções serão revistas de forma a simplificar e dinamizar a atividade no território brasileiro. Investimento em formação e capacitação no curto prazo e no desenvolvimento de centros de tecnologia audiovisual, no médio prazo, serão formas de atrair cada vez mais as produções e coproduções internacionais;.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco