Diversão e Arte

Projeto Brasília: Memória & invenção discute a identidade da cidade

Debate com agentes culturais deixa claro a pluralidade cultural de Brasília

Adriana Izel
postado em 15/04/2018 07:15
Os debates foram filmados para virar vídeos do projeto, que são exibidos nos encontros


Desde março, o projeto Brasília: Memória & invenção apresenta ao público o resultado de seis encontros realizados em instituições ligadas à cultura para debater a relação entre a memória e a invenção no contexto da capital federal. ;Existem vários estudos antropológicos sobre isso que traçam essa relação. Essas são duas dimensões que acompanham meu tempo. Eu tinha vontade de refletir sobre esse aspecto na realidade de Brasília para entender melhor a identidade cultural da cidade, porque ainda existe essa discussão de que Brasília não tem identidade porque é muito nova;, afirma Mateus Dounis Guimarães, idealizador e diretor do projeto.

Ao lado de um conselho inspirador, composto pelo cineasta Vladimir Carvalho, pela historiadora Ana Queiroz, pelo artista plástico Bené Fonteles e pela poeta Marina Mara, e por meio de muita pesquisa, Guimarães percebeu que a diversidade é o grande marco da identidade de Brasília. ;O Brasil já reúne pessoas do mundo inteiro. Em Brasília isso é elevado à milésima potência, sendo a capital da diversidade, o que criou uma identidade, que chamei de ;candangobrasiliense;. Brasília nasceu com esse objetivo e a ideia desse projeto é fortalecer essa diversidade;, explica.

O primeiro passo do projeto foi realizar encontros com agentes culturais representantes de três gerações distintas de Brasília para debater a identidade da cidade. Foram seis rodas de conversas que ocorreram em locais como a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, a Casa Frida (São Sebastião), o Mercado Sul (Taguatinga), a Seu Estrelo ; Vila Cultural, a Fundação Cinememória e o Memorial dos Povos Indígenas. Os papos foram filmados e vêm sendo exibidos para o público em eventos do Brasília: Memória & invenção.

Projeto em continuidade

No último dia 7, ocorreu a quarta edição do projeto, na Casa Frida, e a próxima está marcada para 18 de abril, na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, no Conic. Nos encontros, que ainda passarão pelo Mercado Sul e pelo CCBB (Setor Comercial Sul), são exibidos os vídeos-síntese dos encontros, com 40 minutos. ;Entendemos que, para trabalhar essa ideia, era importante olhar para os personagens e para os movimentos que construíram e ainda constroem essa cultura de Brasília. Buscamos desde os pioneiros, que desbravaram esse território cultural, até as mais jovens expressões. Também era nosso objetivo revelar quem são essas pessoas desde a época da construção;, afirma Mateus Guimarães.

A partir de amanhã, o Brasília: Memória & invenção dará início ao lançamento dos vídeos no site oficial (http://brasilia.memoriaeinvencao.com). A iniciativa faz parte das comemorações dos 58 anos de Brasília, completados em 21 de abril. Ao longo da semana, a cada dia será lançado um vídeo diferente. ;Essa é uma espécie de presente que estamos devolvendo ao brasiliense. O projeto rendeu mais do que a gente esperava. Estamos com muito material na mão;, conta o idealizador.


;Fui percebendo que Brasília, para quem mora fora do Plano, não é uma mãe. É uma madrasta;
Mateus Dounis Guimarães


Além dos vídeos, o site é composto pelo material levantado ao longo do projeto, como perfis dos agentes culturais de Brasília e sínteses dos debates. Como há grande quantidade de conteúdo e acervo, tanto antigo quanto um novo produzido ao longo do Brasília: Memória & invenção, existe também a intenção de fazer uma websérie. Contemplado com o Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o projeto está em continuidade. ;É um projeto que não tem fim. As pessoas ainda podem colaborar com o nosso site;, explica Guimarães.



Descentralização

Ao longo da pesquisa, Mateus Dounis Guimarães também conseguiu perceber que a parte central de Brasília, de certa forma, pode afastar algumas pessoas que moram fora do Plano Piloto. ;Fui percebendo que Brasília, para quem mora fora do Plano, não é uma mãe. É uma madrasta. (risos). Realmente é muito triste perceber como foi feita uma construção narrativa ao longo da história que foi distanciando Brasília do povo. Foi-se delimitando essa ideia e dimensão do Plano Piloto. Desde o início, Brasília sofreu resistências;, lembra o diretor do projeto.

Sob essa perspectiva, o Brasília: Memória & invenção nasceu com o objetivo da descentralização, que também tem a ver com a identidade diversificada do DF. Por isso, os encontros iniciais e os eventos de resultado ganharam alternativas fora do Plano Piloto, passando por regiões administrativas como Ceilândia, São Sebastião e Taguatinga.

Inclusive, Taguatinga foi escolhida para ser a cidade que receberá a edição do aniversário de Brasília. ;Para provocar esse choque, que em alguns momentos é necessário, vamos comemorar o 21 de abril no Mercado Sul, em Taguatinga. Taguatinga é Brasília. Sem as outras regiões, a capital da esperança não representa, enquanto capital, o nosso povo, só na perspectiva ampliada, que compõe o DF;, analisa. Segundo Guimarães, Taguatinga foi apontada pelos historiadores envolvidos no projeto como uma região que marcou muito fortemente a história de Brasília desde a construção, por ter sido inaugurada antes mesmo da capital, em 1958.

O chamado, grande encontro do projeto, será em 20 de maio no Centro Cultural Banco do Brasil e tem como objetivo reunir todos os envolvidos em Brasília: Memória & invenção. Além disso, o vídeo que tem sido exibido nos encontros fará parte da Mostra do filme livre, que ocupará o espaço até o meio do mês de maio.


SERVIÇO
Brasília: Memória & invenção
Em 18 de abril (quarta-feira), às 19h, na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (Conic). Em 21 de abril (sábado), às 17h, no Mercado Sul (Taguatinga). Em 20 de maio (domingo), às 18h30, no CCBB (Plano Piloto). A entrada é franca. Classificação indicativa livre.






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