Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Reativado, Centro de Dança de Brasília já tem projetos para 2018

Espetáculos, ensaios, residências e festivais estão programados para a primeira ocupação do Centro de Dança depois de sua reabertura


Reinaugurado em fevereiro, depois de seis anos fechado, o Centro de Dança de Brasília possui uma agenda com os grupos que irão ocupá-lo este ano. Os selecionados no primeiro chamamento para tomar conta das salas do prédio preparam projetos que vão de ensaios e aulas à montagem de espetáculos, festivais e até apresentações no local. São 35 companhias, escolas e dançarinos selecionados na primeira demanda espontânea do local. Não há ainda uma data certa para que comecem a trabalhar, mas eles têm projetos encaminhados cuja execução vai ser facilitada pela reabertura do espaço.

Oficinas e residências no próprio Centro de Dança fazem parte da programação do festival Improvisa dança, realizado pelo Coletivo Tectônica. Marcada para julho, a segunda edição do evento vai ocupar uma das salas e dividir o tempo em três turnos. Além das aulas e residência, o local vai receber jam sessions à noite. São sessões de contato e improvisação abertas ao público.

A primeira edição do Improvisa dança foi realizada no mesmo local, em 2012. ;Esses cinco anos do Centro de Dança fechado foram o impedimento de uma geração inteira, que ficou sem formação;, lamenta Carol Barreiro, uma das coordenadoras do festival. ;Eu tive toda uma formação ali, dos 17 aos 25 anos. É importante para os bailarinos ter todas as ações ali disponíveis e você poder escolher. Muitos festivais que ocorriam lá pararam de ocorrer.;
Luciana Lara, do Anti Status Quo (ASQ), lembra que a dança de Brasília perdeu muito com o fechamento do centro e que existe grande expectativa quanto à reabertura. Ela teme que os desejos políticos se sobreponham às necessidades da comunidade e pede aos gestores que escutem os profissionais da dança quando se tratar da destinação do espaço.
;O Centro de Dança devia ser um espaço para a dança pensada como arte, fora do mercado, um espaço que proteja uma dança de pesquisa, que faça evoluir a própria linguagem. Assim, haveria realmente a possibilidade de ele ter algum tipo de impacto na dança do Distrito Federal;, acredita a coreógrafa e bailarina. Espaços de formação acadêmica, ela lembra, já existem em Brasília. Mas locais destinados ao fomento de experimentações estão em falta.

Trabalho

Para o ASQ, a reabertura representa uma tranquilidade no sentido de haver um local para trabalhar. Aos 28 anos, a companhia nunca deixou de criar, mas, nos últimos anos, só conseguiu garantir os ensaios durante três dias da semana. ;A gente ensaia em média quatro horas por dia, cinco dias por semana. A própria Secretaria (de Cultura) disponibilizou a sala de balé do Teatro Nacional para a gente continuar pesquisando e ensaiando;, conta Luciana.

O ideal, seria a companhia poder trabalhar oito horas por dia, o que agora será possível com a reabertura do Centro de Dança. ;Isso vai nos ajudar a ter uma estrutura mínima para pesquisar com mais qualidade e ir mais a fundo em alguns trabalhos com o mínimo de estrutura física;, diz Luciana.

A ASQ prepara um trabalho novo para estrear cerca de três meses após a reabertura. Microutopias, cuja fase final será gestada no Centro de Dança, é um desdobramento da pesquisa Corpo e Cidade, desenvolvida pela companhia desde 2006 e que resultou em intervenções urbanas como Sacolas na cabeça e instalações coreográficas como De carne e concreto, apresentada recentemente em Zurique (Suíça).

Pesquisa

Microutopias será realizado nas ruas de Brasília e haverá um itinerário a ser seguido pelo público para que possa se deparar com o espetáculo. ;Essa pesquisa tem vários elementos de intervenção urbana, instalação, artes visuais, dança. É uma grande mistura do aprendizado que a gente tem tido sobre a relação do corpo com a cidade, com o cotidiano, com coisas pequenas que a gente experiência e às quais, muitas vezes, a gente não dá valor;, avisa a coreógrafa.

No caso da Nostalgique cabaret, o Centro de Dança vai servir como espaço de ensaios e de apresentações. A companhia foi selecionada para ocupar a Sala 3, um espaço multiuso no qual vai montar Splash, espetáculo selecionado para se beneficiar do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Com um elenco de 12 bailarinos e programado para agosto e novembro, Splash tratará de questões ligadas à água e traz um viés sociopolítico inevitável para a temática. ;Seria muito difícil a gente montar em outro lugar, por causa do custo e da complexidade;, garante o coreógrafo Giovane Aguiar. ;O Centro de Dança é o lugar mais adequado para a gente passar por esse processo de montagem.;

Aguiar lembra que os protagonistas da dança na cidade lutaram durante muito tempo pelo espaço e, assim como Luciana Lara, ele está apreensivo quanto à gestão do centro. ;É o único espaço de Brasília destinado à dança, a importância é enorme e espero que possa refletir os desejos dos artistas;, diz. Ele acredita que o local deveria funcionar como uma escola técnica de dança, no mesmo modelo da Escola de Música de Brasília. ;Mas o espaço é muito generoso, então cabe muita coisa. Deveria ser mais que um espaço de cursos;, acredita.
Linguagem inovadora
Uma das intenções da seleção divulgada pela Secretaria de Cultura é manter o Centro de Dança como um espaço aberto à diversidade de linguagens. Estilos como break, street dance e hip-hop encontram lugar na ocupação, o que pode ajudar no desenvolvimento de profissionais da área no DF. O coreógrafo e bailarino Rafael Nino, diretor da Cia Have Dreams, vai levar para o Centro de Dança um grupo de 30 bailarinos selecionados para participar da competição World Hip Hop Dance Championship Internacional 2018.

Realizado no Arizona (EUA), o concurso vai eleger os melhores do mundo e os brasilienses foram selecionados para participar. Eles viajam para os Estados Unidos com patrocínio de R$ 290 mil da Caixa e hoje pagam, em média, R$ 2 mil para alugar um espaço de ensaio que não atende a todas as necessidades do grupo.

;O Centro de Dança é ótimo, bem localizado, o que é importante, porque nosso grupo tem pessoas da Ceilândia, do Guará, de Sobradinho. E o espaço é grande, a gente vai poder treinar saltos e incluir isso na coreografia;, comemora. Ainda na lista de selecionados para a ocupação estão companhias Margaridas, a Brasil Style Bgirls, a Foco Cia de Dança, Alaya Dança, a Hands up e Atmos Companhia de Dança.