Raphaella Torres*
postado em 26/04/2018 07:30
Beyoncé ganhou o mundo novamente em uma performance incrível no festival de música Coachella 2018. Com mais de 100 dançarinos e músicos dividindo o mesmo palco, a cantora levantou o público em um espetáculo sem pausas e recheado de referências ao povo negro e de participações especiais.
Os números após o show confirmam isso: a apresentação da artista bateu recordes na internet. O ;Beychella;, como foi apelidado o show da cantora no festival, teve mais de 2,8 milhões de menções no Twitter, ultrapassando a hashtag do evento oficial (1 milhão de tweets), além de ter contado com 458 mil pessoas assistindo à transmissão ao vivo no YouTube. ;O show foi incrível: a banda, os bailarinos... O pecado dela é tornar tudo grande;, declara Carol Ribeiro, 26 anos, fã da cantora. O impacto do show foi grande e fez com que três álbuns da cantora voltassem para a lista dos mais vendidos nos Estados Unidos.
O retorno triunfal da cantora aconteceu dois anos depois do lançamento de Lemonade, e de um afastamento dos palcos por conta da gravidez dos gêmeos Sir e Rumi, nascidos em junho do ano passado. A tão comentada volta serviu para reforçar o título de rainha do pop, ao lado de nomes como Madonna e Michael Jackson. ;Madonna é intitulada rainha do pop e Beyoncé vem como uma potência para assumir essa representação junto à cultura pop contemporânea. Ela, estrategicamente, usou elementos discursivos para ter essa imagem. Letras de canções, clipes e atitudes no palco reforçam uma mulher empoderada. A primeira fase da celebrização feminina foi possibilitada por Madonna, mas a segunda fase traz Beyoncé, outra configuração de mulher;, analisa Fabíola Calazans, professora do Departamento de Audiovisual e Publicidade da Universidade de Brasília.
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Trajetória
Com mais de 20 anos de estrada, a artista começou na indústria pop ainda nos anos 1990, com o grupo feminino Destiny;s Child. O trio formado por Beyoncé, Kelly Rowland e Michelle Williams emplacou hits como Say my name e Independent woman. Porém, foi na carreira solo que ganhou mais reconhecimento. Dona de um repertório que inclui Crazy in love e Single ladies, a cantora texana bateu vários recordes, entre eles o de ser a única mulher negra com 22 Grammys.
A partir de 2011, Beyoncé começou a gerenciar a própria carreira e inovou tanto nas letras das músicas quanto no modo de ser apresentada aos fãs. ;Ela fez uso estratégico de temáticas e bandeiras que estavam sendo discutidas, então, ao mesmo tempo em que ela concordava com essas bandeiras, ela também as divulgava. Uma imagem emblemática é o cartaz de divulgação do Mrs. Carter Show (foto abaixo). É a partir desse momento que ela reorganiza a estética e o discurso para construir uma outra narrativa: a de uma rainha. Ela problematiza toda a ideia de mística feminina, mostrando que dá conta de fazer tudo: ser um modelo de super-mulher e ainda ser feliz;, argumenta a professora Fabíola Calazans.
Para essa nova fase, músicas como Run the world (Girls) foram significativas e abordaram com mais força os temas dos quais hoje ela é porta-voz, como o feminismo e questões raciais. ;Ela tem muita visibilidade, é uma voz muito ouvida por ser da cultura pop, por isso é uma excelente condutora dessas temáticas para públicos que poderiam não ter acesso a essas discussões;, diz o publicitário Cristian Lisboa, 21 anos, fã da cantora.
Outro ponto importante, está na influência para a indústria da música. Beyoncé é uma artista inovadora e foi uma das primeiras a lançar álbuns visuais, como Beyoncé, de 2013, que, segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica, foi um dos quatro álbuns que salvaram o mercado da música naquele ano. O trabalho foi divulgado sem aviso e publicidade, surpreendendo fãs e modificando a forma como artistas lançam músicas até hoje. O último disco da artista, Lemonade, é outro exemplo disso. O álbum foi apresentado com um minidocumentário passado na HBO.
*Estagiária sob supervisão de Adriana Izel e Igor Silveira