Silvestre Gorgulho - Especial para o Correio
postado em 02/05/2018 07:30
Não há mais como falar do pianista Adriano Jordão sem lembrar de Brasília. E vice-versa. Hoje, às 10 h, no plenário da Câmara Legislativa do DF, o pianista português recebe o título de Cidadão Honorário de Brasília, proposto pelo presidente da CLDF, deputado Joe Valle (PDT).
Adriano Jordão é um brasiliense de amigos, de compromissos e de grandes parcerias culturais. Plantou uma cultura universal profunda na música, na gastronomia e na literatura com a Capital do Brasil. Plantou tantas maravilhas para Brasília que, agora, por merecimento, virou brasiliense.
Jordão chegou aqui nos anos 1970. A primeira colaboração foi com a Universidade de Brasília (UnB), onde apresentou a Viagem de inverno, de Franz Schubert com o barítono Oliveira Lopes. Teve a colaboração do então professor na universidade Christopher Bochmann. E gostou tanto da cidade que passou a atuar muitas vezes no Teatro Nacional, ainda com o maestro Claudio Santoro. Depois, atuou ao lado dos principais maestros de Brasília, Sílvio Barbato, Ira Levin e, agora, Cláudio Cohen.
Parcerias
Escolheu também atuar com musicistas de câmara ao lado de brasilienses, especificamente com o Quarteto de Brasília e a recém-formada Sociedade de Concertos de Brasília.
Ainda como músico, levou à Europa o Hino Nacional Brasileiro de Gottschalk, tendo atuado em Roma, como solista da Orquestra Sinfônica de Brasília, convidado pelo embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima.
Repetiu o programa de Roma numa apresentação em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, convidado pelo embaixador Sampaio Góes.
Mesmo sendo pianista português, representou Brasília em Bucareste, a pedido do embaixador do Brasil na Romênia, Jerónimo Moscardo. Foi uma apresentação inesquecível na principal sala de concertos, a famosa Ateneul Roman, ao lado da Orquestra Filarmónica George Enescu, a mais importante orquestra do país.
Em 2004, já apaixonado por Brasília, Adriano Jordão assumiu as funções de Conselheiro Cultural na Embaixada de Portugal e estabeleceu um laço muito forte com a capital brasileira, cidade que considerou sempre como também sua. Fez de sua residência em Brasília, na QI 19 do Lago Sul, um verdadeiro Centro de Cultura, desenvolvendo laços entre os principais promotores culturais brasilienses e europeus.
Adriano Jordão participou e incentivou inúmeros festivais gastronômicos em Brasília, trazendo os mais renomados chefs da cozinha portuguesa.
Desde há muitos anos ligado à aviação comercial (foi presidente da holding que representava a Air Índia em Portugal), lutou para o estabelecimento da ligação aérea Brasília-Lisboa, tendo feito parte do grupo que conseguiu o interesse da TAP. Iniciada a linha aérea, criou uma verdadeira rede de apoio cultural às tripulações que vinham a Brasília.
Adriano conseguiu a oferta a Brasília, em nome do governo português, de um painel de 30 metros do mais respeitado pintor português, Júlio Pomar. Esse painel se encontra oferecido a todos os brasilienses, na Praça da Língua Portuguesa, junto à Biblioteca Nacional, em plena Esplanada dos Ministérios.
Adriano Jordão cumpriu sua missão oficial em Brasília de 2004 a 2013. Regressou a Portugal, mas Brasília não saiu de seu coração e de suas ações culturais. Lá, ele continua a estabelecer pontes com Brasília: diretor do Festival de Sintra, leva sempre a Portugal um importante pianista brasileiro, como Nelson Freire e a brasiliense Lígia Moreno.
*Silvestre Gorgulho é jornalista e ex-secretário de Estado da Cultura de Brasília