Na semana que antecede o Dia das Mães, os cinemas brasileiros e os amantes da 7; arte ganham uma importante reflexão, que não diz respeito somente às mamães, mas à sociedade como um todo. Estreia, na próxima quinta-feira (10/5), em Brasília e em ao menos outras 18 cidades o documentário independente O Renascimento do Parto 2, do diretor brasiliense Eduardo Chauvet. O foco da sequência de O Renascimento do Parto 1 - que contrapôs os riscos da cirurgia cesária eletiva aos benefícios do parto natural -, é a violência obstétrica e a urgência de humanização em um dos momentos mais delicados da vida de muitas mulheres.
O impacto agressivo do filme ocorre já no início. Para os desavisados, a primeira cena lembra muito uma reanimação por massagem cardíaca. Mas, não. O que a câmera flagra é a aplicação da manobra de Kristeller, prática de risco banida pelo Ministério da Saúde, em que o útero da mulher é pressionado para expulsar o bebê. A dor, o sofrimento, a vulnerabilidade da mulher ali deitada diante da sua própria sorte é sentida do outro lado da tela. Após investidas dolorosas que parecem não ter fim, a criança não nasce de forma natural: ela é expelida com uma força intensa para fora da barriga da mãe, que, violentada, não consegue gritar e, sequer, tocar seu filho para acalmá-lo diante do trauma.
Da agonia para a indignação, a cena é seguida por um vídeo que viralizou nas redes sociais em 2016, em que um pai é impedido por uma médica de assistir ao parto da companheira, no Rio de Janeiro. Mesmo lendo em voz alta e na presença de um policial o que determina desde 2005 a Lei do Acompanhante - que obriga as redes pública e privada de saúde a aceitarem um acompanhante da grávida durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato - ele perde o nascimento da sua filha. A profissional diz que, para ela, é indiferente o pai assistir ou não o parto da mulher e alega que o hospital não permite sua entrada, pois ele constrangeria as demais grávidas.
O documentário mostra outros inúmeros exemplos de violência obstétrica: no momento em que vão dar à luz, por exemplo, as mulheres são impedidas de comer ou beber água, mesmo após horas a fio de trabalho de parto; muitas sofrem excessivos e dolorosos exames de toque para aferir a dilatação. O documentário também relata episiotomias (corte pélvico entre vagina e ânus) realizadas sem necessidade e não comunicadas, além de mulheres obrigadas a permanecer deitadas com a barriga para cima, posição que dificulta o parto. Outras são induzidas a fazer o "ponto do marido", em que se costura a vagina para deixá-la mais estreita e, teoricamente, aumentar o prazer do homems e, muitas mulheres são separadas por horas do filho recém-nascido que precisa de cuidados maternos imediatos. Humilhadas verbalmente e invadidas fisicamente, a maioria das vezes sem ter consciência disso, a situação de mães vítimas de violência obstétrica é análoga ao estupro, como afirmam os especialistas ouvidos no documentário.
A temática da cesária desnecessária também volta à tona. Em cartazes, mães apresentam os mais diversos e inacreditáveis motivos que ouviram de médicos para tentar justificar o procedimento cirúrgico, que deve ser indicado em casos extremos: gengivite, pernas amputadas, parto pélvico, "saudável demais", trânsito urbano intenso, "FLA x FLU". Ter gêmeos também é apontado como um desses motivos. No entanto, a atriz e apresentadora Fernanda Lima, que também participa das filmagens, é prova de que isso não passa de mais um mito.
Além da denúncia, o documentário também comprova que, sim, é possível um parto em que a mãe e filho são respeitados, o parto humanizado. O destaque vai para a Casa de Parto de São Sebastião, no Distrito Federal, assim como é ressaltado o hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte. São exemplos de lugares em que profissionais de saúde do SUS atendem com propriedade e carinho. O sistema de saúde inglês também é reverenciado. Lá, a mãe não só é incentivada a ter parto natural nos hospitais, tal qual Kate Middleton, mas recebe auxílio financeiro para terem filhos no calor de suas casas.
Na pré-estreia de O Renascimento do Parto 2, que ocorreu nesta segunda-feira (7/5), no Casa Park, em Brasília, Chauvet disse que o filme não poderia mostrar 100% de violência obstétrica, por ser um tema muito forte. "O objetivo não é apresentar a solução, mas sim abrir o debate." O diretor e roteirista também anunciou que o Renascimento do Parto 3 chegará aos cinemas em setembro de 2018, fechando, assim, a trilogia. O primeiro filme está disponível nas plataformas NOW, Google Play, Vivo Play e iTunes.
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