Diversão e Arte

Exposição reúne, pela primeira vez, imagens de nomes como Goya e Munch

Mostra 'Imagens impressas: Um percurso histórico pelas gravuras da Coleção Itaú Cultural' está aberta para visitação até 22 de julho

Nahima Maciel
postado em 23/05/2018 07:30
Ut Quo Receodenti, gravura de Joannes Stradanus, maneirista do século 16 que gostava de alegorias
Demorou mais de 10 anos para que a equipe do Itaú Cultural se debruçasse sobre o lote de 451 gravuras adquiridas pela instituição há quase duas décadas. Agora estudado, classificado e reunido de forma didática, um conjunto de 150 dessas obras assinadas por nomes que vão de Goya a Munch chegam ao público na exposição Imagens impressas: um percurso histórico pelas gravuras da coleção Itaú Cultural, em cartaz a partir de quarta-feira (23/5) no Museu Nacional da República.

O curador Marcos Moraes fez uma seleção cujo objetivo é contar um pouco da história da gravura. Quando ele começou a trabalhar na catalogação e seleção das mais de 450 obras, percebeu que poderia haver ali, por parte de quem idealizou o acervo, a intenção de narrar a trajetória das técnicas e estilos de gravuras ao longo dos séculos. Ele decidiu então manter essa estrutura didática nas 150 obras escolhidas.

É um conjunto tão detalhado e rico que seria possível encontrar exemplares para preencher uma linha do tempo sobre a história da técnica. ;É uma coleção que foi comprada como um todo e, pela leitura, a gente percebia que devia ter sido pensada como uma possível história da gravura ocidental a partir da Idade Média;, explica Moraes. ;Pudemos pensar uma exposição que pudesse, ao mesmo tempo, dar visibilidade para a produção da gravura e que pudesse chegar ao público menos familiarizado com a técnica.;

A divisão em núcleos de acordo com os séculos possibilitou mostrar a evolução das técnicas e boa parte das obras foram produzidas para ilustrar livros, álbuns, jornais e outras publicações, por isso o curador prefere falar em imagens impressas em vez de gravuras. O processo de numerar e assinar nem sempre foi uma regra na arte gráfica, especialmente nos séculos 15 e 16. Por isso, muitas não são numeradas. Também era prática comum reproduzir pinturas para ilustrar livros e jornais, como é o caso de algumas das obras expostas. ;São gravuras originais, mas com grande diversidade de funções. É todo tipo de usos, possibilidades e potencialidades que a imagem teve ao longo de cinco séculos;, avisa o curador.

Início


Tudo começa, portanto, no século 15, com uma série de xilografias anônimas. O processo de realizar as matrizes a partir de entalhes em pedaços de madeira era muito comum na Idade Média, assim como o anonimato, já que muitas obras recebiam o trabalho de mestres e aprendizes simultaneamente. Dessa época, a exposição traz obras de Martin Schongauer, o primeiro gravador a ter o nome identificado em assinaturas de obras do século 15.

Última balada, de Henri Toulouse-Lautrec: a técnica já havia se modernizado

Entre as preciosidades há trabalhos de Honoré Daumier, cujas caricaturas perturbavam a França do século 19. Na exposição, entraram gravuras realizadas para o jornal Le Charivari, no qual o artista publicava suas caricaturas. ;Esse foi o primeiro periódico de sátira ilustrado do século 19;, garante Moraes.

Albrecht Dürer, Rembrandt, Edouard Manet, Eug;ne Delacroix e Giovanni Battista Piranesi também integram a coleção. Deste último, Moraes escolheu uma série de paisagens com ruínas e de Rembrandt, um autorretrato e uma gravura intitulada O manto de José. Há, também, gravuras de Francisco de Goya cuja autoria foi dividida com um artista anônimo. Era comum essa parceria nos ateliês e sempre é preciso um especialista para apontar o quanto outras mãos participaram da confecção da obra. ;Há alguns casos assim na exposição;, avisa Moraes.

A aquisição mais recente para a coleção é uma obra de Edvard Munch, que será mostrada pela primeira vez na passagem da exposição por Brasília. A obra é também a mais nova da mostra. ;É uma imagem produzida em outro contexto, com uma ligação direta com o processo de concepção da imagem ligado à produção do Munch, que explorava muito o potencial das gravuras;, ensina o curador. The girls on the bridge é uma xilogravura realizada em 1918 e lembra muito algumas composições de quadros conhecidos do artista.

Imagens impressas: um percurso histórico pelas gravuras da Coleção Itaú Cultural
Curadoria: Marcos Moraes. Visitação até 22 de julho, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República.

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