Diversão e Arte

Paolla Oliveira elogia Brasília e fala de violência, em papo com o Correio

Em conversa com o Correio, a atriz fala sobre romance e da experiência de conhecer Brasília por dentro, além de transformações no Brasil

Ricardo Daehn
postado em 29/05/2018 07:47
Paolla Oliveira foi pura simpatia, em passagem por Brasília
Aos 36 anos, a atriz Paolla Oliveira não tem dúvidas: é da tríade equilibrada, entre energia, coração e cabeça, que brota muito de sua beleza. ;Senão, a gente está bonita por fora, e não mora ninguém lá dentro!”, avalia ela, numa das viagens de divulgação do mais recente trabalho no cinema. Por alguém como eu, uma comédia do português Leonel Vieira, Paolla esteve recentemente em Brasília, cidade que não só abrigou parte de tramas que ela viveu na telona (casos da série Felizes para sempre? e Real ; O plano por trás da história) como ainda deu inspiração, pela emanação de poder, para o filme Em nome da lei (no qual atuou com o brasiliense Mateus Solano).

;Levo sempre boas lembranças, daqui: o pôr do sol, a Chapada, as pessoas e o carinho que recebo;, diz. No novo filme, Alguém como eu, Paolla encena com a verve cômica vista em fitas como Uma professora muito maluquinha (2010), apoiada na comédia. Drama mesmo está confirmado para a série Assédio, que ficcionaliza atitudes de médico condenado a longos anos, por abusar de pacientes. ;O assunto é grande, infelizmente, está muito em alta. Tratamos uma história real, infelizmente;, observa. Confira a entrevista exclusiva com o Correio.


Personalidades ainda têm peso, quando elas opinam sobre determinados assuntos?
Se existe alguma responsabilidade, mais do que peso, em expressar alguma coisa ; não vem por eu ser uma atriz, por ser uma policial, ou qualquer outra circunstância. É por ser um ser humano. Um ser humano correto, que pensa no outro, mantendo laços de dignidade. E eu me coloco nesta posição, todas as vezes que vou falar alguma coisa. Há quem me olhe, me siga e me curta. Até sei que meu trabalho é independente disso. Mas, se conto com este carinho, o mais justo é que eu pese algumas coisas. Assumo a responsabilidade como ser humano. O ator e as artes oferecem maior espaço para discutirmos determinados assuntos ; não existe um grande impedimento para tabus, como tinha antigamente. Hoje em dia, se fala mais sobre determinados assuntos; mas ao mesmo tempo, temos mais dedos ; as pessoas apontam mais. Elas questionam mais e levantam maiores bandeiras. Tudo que se ganha por um lado, se perde por outro. E é bom que o debate aconteça. E cada vez mais, a cultura, como um todo, e o papel do ator seja colocado ; não em conflito ; mas, sim, utilizado para o debate.


Qual seu posicionamento político, atualmente? E tem algum pré-candidato?
Vou fazer um apanhado; porque, para falar de política, a gente levaria bastante tempo. Tem-se que abordar a complexidade em que estamos. É muito difícil falar de política, hoje. Eu, às vezes, me sinto sem rumo, sem perspectivas. Mas, quero falar desta coisa maravilhosa que é estar em Brasília. Estive aqui com uma série (Felizes para sempre?) que foi muito especial na minha vida ; que me marcou e marcou as pessoas. A oportunidade que tive de trabalhar com o Fernando Meirelles, que é um profissional muito especial. E levo boas lembranças, sempre daqui: o pôr do sol, da Chapada, das pessoas e do carinho daqui. Então, fiquei feliz de voltar, para divulgar nosso novo filme. Antes, tinha ficado um mês em Brasília! Em caminhadas pela cidade, pude sentir o clima real de Brasília. Quanto à política, a gente vive um turbilhão. Acho que agora viveremos um momento de transformação. Alguma mudança tem que sair da nossa atualidade. Vemos coisas muito grandes e complexas acontecendo. Sempre espero que a mudança seja para melhor. Vou te dizer que, para pré-candidatos, temos à frente uma situação bem complicada.
;Os cuidados têm que ser sistemáticos. Ficar bonita tem a ver com a cabeça, com o coração, tem a ver com nossa energia. Senão, a gente está bonita por fora, e não mora ninguém lá dentro!”

;E levo boas lembranças, sempre daqui: o pôr do sol, da Chapada, das pessoas e do carinho daqui. Antes, tinha ficado um mês em Brasília! Em caminhadas pela cidade, pude sentir o clima real de Brasília;

;Acho que agora viveremos um momento de transformação. Alguma mudança tem que sair da nossa atualidade. Vemos coisas muito grandes e complexas acontecendo. Sempre espero que a mudança seja para melhor;

Você viveu uma policial, em A força do querer. Como vê a situação do Rio de Janeiro? Violência é algo que te toca?
A violência do Rio me entristece, como a todos. Infelizmente, acho que há violência no Brasil inteiro. Acho que se fosse só um lugar, a gente uniria forças e socorreria aquele lugar. Eu venho de família de policiais (pai e irmão), tive oportunidade de estar com policiais na novela também. É muito triste a pessoa ter que se esconder da atividade profissional. Todo o dia, ela sai de casa, correndo risco, ganhando pouco, e isso não se reflete apenas nessa profissão. A gente está cada vez mais chegando próximo. Não tem quem não tenha passado por uma situação de violência. Acho que isso acarreta dois polos: temos que ter mudanças no que diz respeito a leis, em termos da abordagem da criminalidade, e ainda temos que cercar a educação. Melhorias é o que espero para a nossa sociedade.


O que já pode ser dito da série Assédio?
O assunto da série é interessante, grande e está muito em alta, que é o assédio, ainda mais sendo tratado a partir da adaptação de uma história real, infelizmente. Vem de uma história que a maioria das pessoas conhece ; e a série é forte. O meu personagem, na verdade, está fora dos ataques, das partes mais pesadas. Faço a personagem da esposa do Roger Abdelmassih (médico que abusava das pacientes) que é o principal da série, interpretado pelo Antonio Calloni. Na verdade, ela tem um amor quase doentio por ele. A minha personagem está fora do tema central. Faço uma participação de dois ou três capítulos. A série é forte, está feita com bastante cuidado, e acho que as pessoas vão gostar. Não teremos leveza, mas delicadeza.


De que forma pode influenciar, positivamente, mulheres, com o filme Alguém como eu?
Acho que não se trata necessariamente de falar com as mulheres. De maneira geral, o filme atende à função de entreter, de as pessoas se distraírem, saírem leves do cinema, mas pensando. Pensando sobre uma geração que a gente tem e que está muito ligada à insatisfação. As pessoas andam muito insatisfeitas ; tudo está ruim, a grama do vizinho é sempre mais bonita, ;eu poderia ser daquela maneira do colega do lado;. A internet traz tanta coisa boa para gente, mas também gera um ódio... Quero que as pessoas saiam do filme pensando assim: ;Pôxa! Será que nossos desejos são tão necessários assim?;, ;A gente não anda insatisfeito demais?;. Às vezes, cumprir nosso desejo não vai nos satisfazer. A mudança real está dentro de nós. É uma pequena lição, cheia de leveza, de humor, e que serve para homens, mulheres e para todos os tipos de relacionamentos.


Para você, pesa mais o amor ou a carreira?
O filme fala mais dos relacionamentos, das escolhas que fazemos em relação ao outro. A mudança dela não tem tanto a ver com a carreira, tem a ver com a confusão instalada nela. Há uma insatisfação. Mas acho que se tiver filhos, carreira, amor ; não há como separar esses elementos. O ser humano é feito para estar múltiplo. Não vivo de um só investimento: agora, vou apostar só na carreira; agora, só no amor. A gente experimenta um pouco de tudo: quando juntamos bem isso, vem um pouco do equilíbrio de vida que a gente procura.

Você tem preocupação em se associar a situações homossexuais, já que há breve insinuação de sexo lésbico, no novo filme?
Amor, tudo hoje em dia gera polêmica. As pessoas estão tão polêmicas, né? Eu, não. Eu tenho prazer em falar de relações de qualquer tipo. De homossexuais ou de amor que siga qualquer outra maneira. A gente tem que ser mais aberto. Hoje em dia, o assunto é mais falado. Ao mesmo tempo em que temos mais liberdade para falar, as pessoas estão mais polêmicas. As pessoas têm mais liberdade para apontar. Todos os assuntos estão mais falados. Não existe um grande tabu, algo que você não possa falar. Isso é muito legal. Mas a liberdade das pessoas de levantar e baixar bandeiras, sem estarem de fato envolvidas com as causas, às vezes, dá uma confundida.

Durante a série Felizes para sempre?, com uma cena, você virou até tema de fantasia de carnaval. Como foi
esta repercussão? E ter um colega nu, em cena do atual filme, foi um revide, uma exigência sua (risos)?
Não (risos)! Eu não tenho culpa de nada disso (risos). Isso foi coisa do diretor, do Leonel Vieira. O Ricardo Pereira que cuide dos assuntos dele. Quanto ao carnaval, a gente nem sabia. Foi falado, na verdade, pelo Fernando Meirelles. Ele disse que, se pudesse, ele até teria tirado aquela nudez. Que não era algo feito para roubar a cena. Mas acho que sim, a cena contou parte da história e estava muito ligada à minha personagem. Tinha contexto. Tudo que conta história, acrescenta para mim também. Acabou que foi divertido. E no filme foi muito engraçado ver uma cena daquelas com o Ricardo. No filme, foi muito mais divertido (risos).

Você gostaria de participar de uma produção no exterior, num esquema de série? Já ocorreu convite? O que acha da linguagem de tevê?
Acabei de fazer um filme português! (risos). Como sou contratada da Globo, é difícil eu me envolver em outros projetos. Além de filme, consigo fazer outro departamento, mais ligado à publicidade. A telenovela goza de um histórico muito grande, ela é estabelecida, ela tem público, ela construiu demais, para, de repente, ouvirmos histórias de que ela vai acabar. Acho que tudo pode trazer mudanças. E que elas ocorrem, é fato. Cada linguagem tem seu espaço: o cinema tem, a telenovela tem. E se tiver que passar por uma modificação para se manter, que a telenovela passe. Quanto mais vertentes tivermos, em prol da cultura, para ter trabalho, tudo é válido.

Quanto à beleza, quais cuidados indica?
Eu gosto muito do público feminino. Tenho um carinho muito grande das mulheres. O assédio das mulheres é o que mais me dá vontade de me cuidar, e de me manter bem, saudável e equilibrada. Sigo cuidados de saúde que a gente já sabe, e que são clichês. Cuido da alimentação, dos exercícios físicos que ; chega uma hora (risos) ; e eles deixam de ser optativos, são reais, precisam ser feitos, e já estou nesta fase. A gente, contudo, não pode deixar de ser feliz. Os cuidados têm que ser sistemáticos. Ficar bonita tem a ver com a cabeça, com o coração, tem a ver com nossa energia. Senão, a gente está bonita por fora, e não mora ninguém lá dentro!

Colaborou Robson Rodrigues*

* Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira




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