Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 29/05/2018 07:30
Artista múltiplo e pensador na área da estética e dos processos de criação e autorais, García Lorca transitou entre a literatura e o teatro no século 20. Em 2018, comemoram-se os 120 anos de nascimento do poeta e o legado de força criativa construído ao longo da carreira. Em Brasília, a celebração, nomeada García Lorca, a escrita e os duendes, acontece em parceria do Instituto Cervantes com a Embaixada da Espanha. O escritor, pesquisador e professor Roberto Medina está à frente do projeto, que conta com participações especiais de atores, cantores e poetas na programação.
A importância social e política da criação de Lorca é lembrada por Medina. O professor destaca a contemporaneidade do escritor, que ofendia os valores da tradição e a frágil decência de uma Espanha tradicional e atrasada, agrária e conservadora do início do século 20, plena de injustiças, preconceitos e hipocrisia. Durante o encontro, o ponto de partida e chegada é a metáfora do duende. Ele necessita do corpo para se manifestar: voz, gesto, canto e outros meios. Vem daí a mistura entre teatro, literatura, dança e poesia.
;Podemos dizer que ele era gênio em todas as artes que desenvolvia e executava. Vale lembrar que a escrita vem da agricultura: abrir sulcos na terra. No meu entender, é um ato de preparar a terra para semear ideias de cultura. Ato de fecundação. Nada servil, apenas como inspiração para identidades nacionais;, afirma, Roberto.
Para ele, García Lorca, em toda sua obra, clama pela força brutal e primitiva que é o próprio viver: paixões, sentimentos, gritos desesperados, pensamentos e mistérios. A ideia é lembrar que grande obra de arte causa tremor, assombro, felicidade e reflexão nos corpos em suspensão do cotidiano, porque estão em contato direto com o deus escuro da natureza da humanidade. No evento, o principal é buscar o encontro entre o público, a palavra e as expressões artísticas que se relacionam por meio dela.
Entre os convidados, artistas de renome: Tulio Guimaraes (ator e diretor), Thaise Mandalla (cantora e artista plástica), Abhay K. Kumar (poeta e diplomata), Fabiana Tenório (atriz e diretora), Elga Laborde (crítica literária e cantora) e Anysha Tribalfusion (artista e dançarina). Roberto Medina destaca que, nos dias atuais, o que pode reverberar, principalmente, da obra do poeta, é sua profunda sinceridade criativa, que não se aprisiona apenas na técnica.
;Acreditamos que a arte é aprendida pelos sentidos, talvez depois se reflita sobre a experiência estética vivida. García Lorca mostra seu gênio criativo mediante a observação da realidade e a realização de metáforas complexas para tornar verossímil a apreensão de um mundo múltiplo e complexo, usando a intuição e a imaginação como caminhos possíveis para compreender a vida que se transforma a cada segundo;, lembra o professor.
Aos novos autores, Medina destaca o que pode ser apreendido e tido como inspiração: Disciplina. Arte. Vivência. Despertar dos sentidos do corpo. A existência concreta do outro. Um gosto profundo pela vida, mesmo sabendo que as garras da morte já nos acariciam os ombros.
Serviço
García Lorca, a escrita dos duendes
No Instituto Cervantes de Brasília (SEPS Q 707/907). Nesta terça-feira (29), às 18h30. A entrada é franca.