Diversão e Arte

Turnê de Maria Bethânia e Zeca Pagodinho chega a Brasília nesta quarta (30)

Maria Bethânia e Zeca Pagodinho sobem juntos ao palco do Centro de Convenções para uma presentação em que o samba predomina

Irlam Rocha Lima
postado em 29/05/2018 07:57

O encontro para fazer a turnê 'De Santo Amaro a Xerém' aconteceu quando Zeca Pagodinho convidou Bethância para participar do DVD 'Quintal do Pagodinho'

Maria Bethânia se surpreendeu quando Zeca Pagodinho a convidou para cantar com ele Sonho meu, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho, no DVD Quintal do Pagodinho. Tudo porque, mesmo havendo, artisticamente, admiração mútua, os dois não tinham, até então, uma relação de amizade. Isso veio a ser o embrião do show De Santo Amaro a Xerém, que marca o encontro no palco de dois expoentes da música popular brasileira.

O espetáculo, que vem encantando os espectadores desde a estreia, em 7 de abril, em Recife, depois de passar por Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo ; onde foi gravado um DVD, nos dias 18 e 19 últimos ;, chega nesta quarta-feira (30) a Brasília. Marcada para as 21h30 no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, a apresentação encerra a vitoriosa turnê, idealizada para marcar esse encontro inusitado.

Embora haja espaço para outras composições, o que dá o tom na concepção de De Santo Amaro a Xerém é o samba. No repertório de quase 40 músicas, prevalece o gênero mais representativo da MPB. São canções que remetem à obra de ambos e que contribuíram para torná-los artistas de grande popularidade. No show, dividido em seis partes e mais um bis, cada um faz apresentação individual e em duo em vários números.

Fãs de um e de outro vão se lembrar de vários momentos da carreira de ambos ao ouvir, por exemplo Café soçaite, Marginália, Negue, Reconvexo, Ronda e Você não entende nada, na voz de Bethânia. Ou Coração em desalinho, Deixa a vida me levar, Não sou mais disso, Samba pras moças e Vai vadiar cantadas por Zeca.

Em um dos sets, eles homenageiam as escolas de samba às quais são ligados afetivamente. Enquanto Bethânia celebra a Mangueira com Atrás da Verde-e-Rosa só não vai quem já morreu, Chico Buarque da Mangueira e Exaltação à Mangueira, Zeca vai de Portela na Avenida, Lendas e Mistérios da Amazônia e Foi um rio que passou em minha vida.

A pedido da irmã, Caetano Veloso compôs para o show Amaro Xerém um autêntico samba de roda da Bahia. Num dos versos da letra, ele diz: ;Por essa luz eu disparo/ Sem repetir nehémnhémnhém/ O Brasil é que é meu faro/Levaremos tudo além/ É no samba que eu preparo/ De Xerém a Santo Amaro/ De Santo Amaro a Xerém...;

Bethânia e Zeca sobem ao palco acompanhados de banda formada por Paulão 7 Cordas e Jaime Alem (violões), Rômulo Gomes (baixo), Paulo Galeto (cavaquinho), Jaguara, Marcos Esguleba e Marcelo Costa (percussão) e Vitor Malta (sax e flauta). A luz é assinada por Maneco Quinderé, o figurino de Maria Bethânia, por Gilda Midani, e o de Zeca Pagodinho, por Juliana Maia.

Serviço

De Santo Amaro a Xerém

Show de Maria Bethânia e Zeca Pagodinho amanhã, às 21h, no auditório master do Centro e Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 400 (poltrona front gold), R$ 340 (poltrona gold), R$ 300 (poltrona lateral), R$ 250 (poltrona A), R$ 200 (poltrona B) e R$ 150 (poltrona superior) ; valores referentes à meia-entrada. Assinantes do Correio têm desconto de 50% na compra de até dois ingressos de inteira. Pontos de vendas: G2 do Brasília Shopping e Fnac (Parque Shopping)

Entrevista / Maria Bethânia

Quando conheceu Zeca Pagodinho, pessoalmente?

O Zeca era ainda muito jovem quando me foi apresentado por Teresa Aragão, uma grande amiga e produtora, mas ele nem se lembrava disso. Nos falamos depois algumas vezes, em ambientes sociais, como nas festas de aniversário da Alcione. Ele sempre foi elogioso em relação ao trabalho que faço. Quando nos encontramos para ensaiar, demonstrou que sabia muito sobre o meu trabalho e demonstrou possuir bom gosto musical, algo que adquiriu com a família.

Você ficou surpresa com o convite para fazer um duo com ele em Sonho meu, no DVD Quintal do Pagodinho?

De certa forma, sim, mas também fiquei feliz. Mesmo assim, quis saber por que me convidou, pois não sou exatamente uma sambista, embora goste da cantar sambas, principalmente sambas (de roda) do Recôncavo Baiano, que costumo gravar em meus discos. Ao final da gravação, ele falou ;Agora sou eu e ela, ninguém vai quebrar mais;. Eu complementei: Santo Amaro e Xerém. Aquilo ficou no ar.

A origem do show De Santo Amaro a Xerém veio daí?

Acredito que sim, mas a iniciativa foi das produções individuais. Em nosso primeiro encontro, disse para o Zeca que um show não é um número na gravação de um DVD. Expliquei que palco tem formalidade e rigor. Ele disse que não gostava de ensaiar, nem de aprender música nova. Era o inverso do que faço. Mas depois percebi que aquilo era só conversa, pois nos ensaios ele chegava bem antes de mim e deixava claro seu interesse por tudo.

Amaro Xerém, de Caetano Veloso, é a música inédita do repertório. Ela foi composta a seu pedido?

Como quero ter sempre música inédita em meus trabalhos, pedi a Caetano para compor alguma coisa para o show. Aí ele fez Amaro Xerém, esse deslumbrante samba de roda. Ao chegar do ensaio, falei do samba e o Zeca foi logo dizendo: ;Música nova, não sei não...; Aí sentei e comecei a cantar. Um minuto depois ele já estava cantando junto. O Zeca é muito inteligente, tem uma percepção rápida e adorou Amaro Xerém.

Como foi a escolha das músicas que vocês cantam juntos?

Cada um levou músicas que gostaria de cantar em duo. O Zeca gosta muito de samba-canção e de serestas e é apaixonado pela obra de Sílvio Caldas. Sugeri, por exemplo, que cantássemos Chão de estrelas. Ele ficou receoso inicialmente, mas acabou cantando lindamente. Incluir no roteiro a homenagem à Mangueira e à Portela também foi sugestão minha, aceita de imediato pelo Zeca.

Quando foi definido o registro do show em DVD?

Foi no decorrer da turnê, diante da acolhida da plateia em todos os lugares em que apresentamos o espetáculo. Aproveitamos os shows em São Paulo, no City Bank Hall, nos dias 18 e 19, para gravar, sob a direção de Joana Mazzuccchelli. Vai ser um lançamento conjunto da Universal e da Biscoito Fino, previsto para agosto.

Em fevereiro você gravou o DVD com o show Grandes sucessos.Tem previsão para lançamento?

Esse DVD está pronto e ficou lindo, mas pedi à Biscoito Fino para adiar o lançamento. Depois da apresentação em Brasília, que encerra a turnê do De Santo Amaro a Xerém, vou entrar em estúdio para gravar um disco de inéditas. Já estou escolhendo o repertório.

Entrevista / Zeca Pagodinho

O encontro com Maria Bethânia em De Santo Amaro a Xerém pode ser visto como uma ode ao samba?

Com certeza, juntamos o samba carioca com o samba baiano. Os sambas da Portela e os sambas da Mangueira e por aí vai.

Implicitamente, o show traz um conceito?

Ele foi feito pra gente se divertir no palco e alegrar o publico com um repertório de qualidade.

Ter Bethânia no Quintal do Pagodinho, fazendo duo com você em Sonho meu, foi determinante para que o show ocorresse?

Acho que sim. Foi lá que aconteceu nosso primeiro encontro musical, eu nunca pensei em dividir o palco com a Bethânia, de quem sou fã desde a minha juventude. Quando ela foi a Xerém, nem pensávamos nisso, e naquela gravação vimos que tínhamos gostos musicais em comum, mas foi só depois de um tempo que surgiu a ideia de fazer este show.

É perceptível a interação entre vocês em cena. Isso surgiu naturalmente ou foi sendo trabalhado nos ensaios?

Surgiu naturalmente, nos ensaios a gente já estava em sintonia

Como se deu a escolha do repertório e a criação do roteiro?

Eu pensei em umas músicas, Bethânia sugeriu outras. Paulão 7 Cordas e Jaime Alem também deram suas contribuições.

A homenagem à Portela e à Mangueira foi algo definido desde o princípio?

Isso foi ideia da Bethânia. Desde o primeiro encontro pra falar do projeto, ela já pensava nisso.

Foi dela a sugestão para a inclusão do clássico Chão de estrelas, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa?

Foi. Mostrei pra ela algumas serestas que sei cantar e ela sugeriu essa. No princípio, relutei, achei que não conseguiria interpretá-la, mas ela me disse : ;Zeca, você pode tudo;. Então tomei coragem e cantei.

A resposta do público ao que lhe é oferecido no show está dentro de sua previsão?

A gente nunca sabe o que o público vai achar, mas que bom que o show agradou em todas as cidades por onde passou. Vamos ver agora em Brasília. Espero que as pessoas curtam também.

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