Diversão e Arte

Kleber Mendonça Filho questiona MinC sobre devolução de verba de filme

Em carta aberta endereçada ao ministro Sérgio Sá Leitão, cineasta classifica cobrança como "punição"

Diário de Pernambuco
postado em 30/05/2018 08:55

Cineasta afirma que vem tentando, sem sucesso, contato com o ministro

Depois de ser cobrado pelo Ministério da Cultura (MinC) a devolver a verba recebida para a realização de O som ao redor (2013), o cineasta Kleber Mendonça Filho se pronunciou sobre a questão em carta aberta publicada nesta terça-feira (29/5) em seu perfil pessoal no Facebook. A publicação, endereçada ao ministro Sérgio Sá Leitão, contesta a alegação de irregularidade da captação dos recursos e classifica a medida como "punição inadequada para os produtores de um filme exemplar".

Primeiro longa-metragem da carreira do cineasta pernambucano, O som ao redor recebeu verba pública através de edital do MinC destinado exclusivamente a projetos com orçamento máximo de R$ 1,3 milhão. O orçamento enviado pela produtora, no entanto, era de R$ 1.494.991 e, após vencer o edital, os custos foram reajustados para R$ 1.949.690. À época, a área técnica da Ancine observou a discrepância nos valores e informou a questão à Secretaria do Audiovisual do MinC, mas nenhuma medida foi tomada.

No fim, a produção custou R$. 1.710.000, sendo um R$ 1 mi do edital do MinC, R$ 300 mil de um edital da Petrobras e mais R$ 410 mil de edital do Funcultura Pernambuco. O realizador observa que o título custou, em câmbio corrigido, US$ 465 mil. "O MinC deveria premiar produtores que fazem tanto e que vão tão longe com orçamento de cinema tão reconhecidamente enxuto", afirma na carta aberta.

Agora, o Ministério quer que a produtora do cineasta devolva aos cofres públicos R$ 2.162.052,68. A cobrança surgiu após investigação iniciada em decorrência da denúncia de um servidor da Ancine que teria entrado em contato com a ouvidoria do MinC e o Ministério Público Federal.

"A carta por nós recebida do MinC sugere uma punição inédita no Cinema Brasileiro e que nos pareceria mais adequada a produtores que não teriam sequer apresentado um produto finalizado", escreveu Kleber Mendonça Filho. "A carta veio, inclusive, do mesmo Ministério da Cultura que indicou O Som ao Redor para representar o Brasil no Oscar, em 2013", observa o diretor.

Além de afirmar que toda a captação respeitou as regras do edital, o diretor questiona o valor da cobrança. "A interpretação é absurda ainda por representar verdadeiro enriquecimento injustificado da União (a devolução de todo o valor do edital e com valores corrigidos) em virtude da entrega do filme (reconhecida pela própria AGU em parecer)", aponta.

Leia a carta de Kleber Mendonça Filho na íntegra:

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