Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 02/06/2018 07:00
Em um território por muito tempo dominado por homens, atrizes de diferentes regiões mostram que o espaço feminino deve ter lugar cativo nos espetáculos de humor. Entre improvisos, personagens, palcos de teatro e programas de televisão, a nova geração de mulheres no humor mostra que elas também têm talento de sobra para provocar o riso. Enquanto isso, elas exercem no cotidiano o processo criativo de observar, criar e produzir.
É o caso da brasiliense Cíntia Portela, que saiu da capital em 2016 para exercer a profissão em São Paulo e foi finalista do Prêmio Multishow de Humor. Versátil, ela transita entre espetáculos de improviso diversos, como o Improvável, da cia, Barbixas, além de programas de tevê, como o Chamado central. Sem rodeios, ela destaca o que mais diferencia a carreira na nova cidade. ;O principal é que em São Paulo ainda temos teatros e em Brasilia estão quase todos fechados. Isso já influencia na quantidade e variedade no trabalho teatral;, destaca.
No início, a participação em espetáculos de humor aconteceu por meio de convites e, aos poucos, Cíntia começou a se reconhecer no lugar de humorista, investindo mais tempo de estudo e pesquisa. A relação e o diálogo com o público são constantes durante as apresentações e é preciso dedicação para lidar de maneira rápida com as novas situações que surgem no palco. Enquanto mulher, a atriz sente que precisa provar a todo momento a qualidade de seu trabalho.
"Algumas pessoas têm resistência a contratar mulheres porque acostumaram a ligar os homens ao humor e não querem ;correr riscos; Acho que é o que acontece em toda profissão que é dominada por homens, numericamente falando, nós temos que vencer vários preconceitos até o momento de fechar um trabalho", destaca Cíntia.
A dificuldade foi driblada pela versatilidade no trabalho e, além do teatro e da televisão, a atriz investe, atualmente, em um quadro de humor na internet com a personagem Lu Medeiros. Para ela, a expansão on-line colabora com a chegada de novos espectadores no teatro, que ficam curiosos para ver pessoalmente o trabalho que conheceram pelas redes. O processo criativo, conta a atriz, vem principalmente da observação do cotidiano. Em seus personagens, ela gosta de dar protagonismo ao que não é valorizado socialmente na luz e dar uma criticada em quem está no poder.
Versatilidade
Enquanto isso, Larissa Câmara, que é natural de Campo Grande e especializou-se em humor no Rio de Janeiro, mostra que essa conquista de espaços é grande. Reconhecida pelo sucesso no stand-up, a atriz se divide entre as apresentações no teatro e o trabalho de roteirista de TV e cinema. Diretora do Prêmio Multishow de Humor, ela pesquisa talentos pelo Brasil e é roteirista do programa Vai que cola, além de redatora final do Ferdinando show o game, no canal Multishow.
O talento múltiplo fica evidente nas cenas que apresenta e os personagens são diversos, passando por personagens como a velha rabugenta, a blogueirinha paulista e imitação de cantores famosos. As ideias surgem no dia a dia e Larissa inicia o processo criativo gravando os primeiros insights antes de transformá-los em texto. ;O principal é entender o que você quer expressar com o seu trabalho. Além disso, estudo, dedicação e ter interesse em se comunicar;, destaca.
Primeira comediante brasileira a apresentar solo de stand-up comedy em Portugal, Larissa é também coautora de três livros, entre eles, Cena impressa ; Volume II, teatro em parceria. Larissa gosta de seguir a linha de raciocínio do humor do ;e se;. ;Acho graça do inesperado. Eu sou muito debochada e por meio do humor posso mostrar as incoerências e maluquices do sistema de pensamento que adotamos;, destaca.
Para o público, além da abertura para reflexão e deboche aos sistemas de poder, fica a possibilidade de entretenimento e alívio cotidiano. O humor surge para elas como a certeza de criar um espetáculo de qualidade, que dialogue de maneira divertida e eficaz com cada espectador. Seja nos palcos, seja nas redes, seja na televisão, o objetivo é comunicar.