Diversão e Arte

Exposição traz as tipografias das ruas para galeria da Caixa Cultural

'Streetype Tipografia das ruas de A a Z' reúne obras de 22 artistas

Nahima Maciel
postado em 03/06/2018 06:43
'Streetype Tipografia das ruas de A a Z' reúne obras de 22 artistasO grafite já não causa estranhamento para quem vive no espaço urbano. Faz parte da paisagem e, muitas vezes, ajuda a transformar o cenário pesado e triste das metrópoles e seus muros de concreto em algo mais humano, vivo e quente. Já as letras usadas pelos artistas nem sempre são claras e legíveis. Falar sobre a origem dessas letras, os estilos e a maneira como são confeccionadas guiou o artista e curador Tito Senna na seleção dos 22 artistas que integram Streetype ; Tipografia das ruas de A a Z, em cartaz na Caixa Cultural.

Senna reuniu 26 telas pintadas por artistas de todo o Brasil com a intenção de construir um abecedário capaz de elencar todos os estilos de letras estampadas nos muros das cidades. ;Cada artista fez uma letra e tem uma variedade grande de estilo;, explica o curador. ;A arte urbana já está bem disseminada, mas o público ainda acha difícil ler as letras do grafite. Na mostra, explicamos como o artista transforma essa letra em obra de arte.;

Alguns dos estilos presentes na mostra já se tornaram clássicos, como o wildstyle. Típico dos grafites feitos em Nova York nos anos 1970, essa letra é de difícil legibilidade e, muitas vezes, lembra um contexto psicodélico com algumas distorções provocadas pela interligação das linhas. Tem como característica as setas nas extremidades, um indicativo do movimento realizado pelo artista para construir o desenho Na mostra, artistas como Alan Crono e Eduardo Aiog produziram obras com letras em wildstyle. ;Esse estilo é uma evolução do bomb e surgiu quando os americanos deixaram os trens e passaram a grafitar nas ruas;, conta o curador da exposição. Com mais tempo para elaborar os desenhos, os artistas puderam incorporar variedade maior de cores e detalhes. ;Esse estilo influenciou muito o Brasil;, conta Senna.

Mais simples, feito com letras gordinhas, poucas cores e muito mais fáceis de ler, os grafites em bomb também são muito comuns e estão representados nos trabalhos de Gloye e Marcelo Eco. O bomb nasceu nos Estados Unidos, quando os grafiteiros precisavam de uma técnica que pudesse ser executada com rapidez, já que eles grafitavam em superfícies como trens e metrôs. ;É o estilo inicial;, ensina o curador. ;É mais vê-los e o tempo de execução é muito rápido. A quantidade de letras é pequena e é mais um trabalho de ocupação do espaço.; O bomb é muito frequente em locais como rodovias e estradas.

Outro estilo presente na exposição é o 3D, que começou a aparecer na Europa, especialmente na Alemanha, no início do século 20. Aqui, a influência da cultura digital é clara nos desenhos que formam um bloco e parecem saltar dos muros. ;Esse estilo exige muito material e trabalha com luz e sombras;, explica Senna.

Estilos

Os três tipos de trabalho podem ser vistos lado a lado no muro da Caixa em um trabalho realizado por Aiog, Eco e Iowa. O grafite tem ainda uma série de subestilos, boa parte deles representados na exposição, como o caligrafite. ;É uma arte que aceita bem experiências novas porque é muito democrática;, avalia Tito Senna. A criatividade brasileira também conta pontos na produção do grafite nacional. Como forma de baratear os custos, os artistas incorporaram o látex em vez do spray, usado mais para realizar os acabamentos. ;E hoje isso influencia até lá fora;, garante Senna.

Entre os artistas convidados está também Panmela Castro, um dos nomes mais influentes hoje no grafite brasileiro. Apontada pela revista americana Newsweek como uma das 150 mulheres que abalaram o mundo em 2012, ao lado de Dilma Rousseff, e chamada de rainha do grafite brasileiro pela rede americana CNN, a artista se tornou uma lenda da arte urbana sob o pseudônimo de Anarkia Boladona. ;É uma forma de mostrar para o público a cultura do grafite. O grafite, quando nasceu em Nova York, era feito com as letras. O personagem não é considerado grafite, é uma coisa que veio para complementar o grafite. Hoje em dia, a gente chama o personagem e as outras coisas de grafite, mas o grafite em si é a letra;, explica Panmela. ;Eu fiz pichação, então, usava as letras pra fazer os bombs, as coisas de rua mesmo, de marcação de território.;

Do Centro-Oeste, participam dois artistas: José Iwoa e Eduardo Aiog. Este último é responsável pelo Beco da Codorna, um dos maiores eventos de grafite do país. O Streetype vai itinerar por várias cidades do país e a ideia do curador é incorporar novos artistas a cada parada. A escala de Brasília é a primeira e marca a estreia do projeto. ;Fiz um mix de trabalhos bem conhecidos que estão nas ruas, mas têm dificuldade de reconhecimento do público;, explica Tito Senna.

SERVIÇO

STREETTYPE ; Tipografia das Ruas de A à Z

Exposição de 22 artistas. Curadoria: Tito Senna. Visitação até 22 de julho, de terça a domingo, das 9h às 21h, nas galerias Piccolas I e II, na Caixa Cultural (SBS - Quadra 04, Lotes ;)

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