Diversão e Arte

Festas juninas têm sido marcadas por variedade musical

A disputa fica entre canções tradicionais do forró e variações do ritmo

Robson G. Rodrigues*
postado em 06/06/2018 07:30

Alceu Valença

O atual repertório musical das festas juninas em Brasília abarca ritmos novos e antigos. Os mais apegados à música contemporânea dispõem de apresentações ligadas ao sertanejo mainstream e às novas variações do forró. Aqueles em favor de preservar a essência do arraiá ainda têm opções de eventos arraigados no baião, xote e rojão.

As alternativas de são-joão tradicional, entretanto, estão cada vez mais escassas, sugere o especialista Antenor Ferreira, professor do departamento de música da Universidade de Brasília (UnB). ;Celebrar festas juninas é tradição familiar. Os pais passam aos filhos. Mas, como os jovens estão perdendo o interesse pelos ritmos típicos, os grupos tradicionais tendem, não a desaparecer, mas a diminuir muito;, acredita o pesquisador.

Ele aponta Brasília como herdeira do são-joão nordestino graças aos candangos ; em maioria, oriundos do nordeste ; que trouxeram a própria cultura na bagagem. Por outro lado, a cidade assimila muito do que faz sucesso no estado vizinho: ;O sertanejo universitário entrou com essa força em Brasília graças à proximidade com Goiás;.

Para o professor, as festas juninas se mantiveram espontâneas até o início dos anos 1990, quando tomou espaço o forró universitário, gênero que ainda preserva características do xote ; diferentemente do sertanejo universitário, ;que nada tem a ver com a tradição nordestina;, segundo o acadêmico.

Eclético

A vendedora Raquel Santos, 27 anos, frequenta festejos juninos desde pequena em Brasília. Aguarda o ano todo pelo são- joão. Ela acha importante que as festas abracem tantos os ritmos mais populares quanto os mais tradicionais. ;É uma forma de atrair as pessoas que não querem deixar de irem às festas sem deixarem de ouvir o que gostam;, declara.

Assim como nas edições anteriores, o 3; Arraiá de Águas Claras busca por equilíbrio entre as atrações. De sexta a domingo, se apresentam os sertanejos Zé Felipe & Miguel, Sérgio Moraes, o forró pé de serra do Trio Balançando e a quadrilha tradicional do Si Bobiá a Gente Pimba.

;As festas juninas foram mudando ao longo dos anos e a gente quis acompanhar essa transformação;, conta a organizadora do evento Ana Paula Leite, integrante do grupo Mães Amigas de Águas Claras. ;Pensamos em fazer uma festa para a família, que agradasse dos mais novos aos mais velhos;, explica.

A inserção dos novos gêneros na festa caipira agrada ao grande público, o que garante a agenda cheia dos músicos durante o período junino. Representante da vertente eletrônica do forró, Xand Avião acredita que o gênero está em boas mãos. ;O forró está muito bem representado, temos o Safadão e a Solange, entre tantos outros que estão estourados aí no Brasil. Somente neste são-joão, eu e minha banda vamos fazer 34 shows, será uma correria intensa e muito boa;, comentou o potiguar em entrevista ao Correio.

Típico

Alceu Valença, por outro lado, recorre a repertório típico do Nordeste. Apesar de não se considerar tradicionalista, ele faz questão de preservar alguns costumes. Durante o período de festas juninas, ele canta ;somente aqueles gêneros desenvolvidos no agreste e no sertão que ajudaram a consolidar o forró como gênero principal do são-joão, na linha de Gonzaga, Jackson, Dominguinhos e tantos outros. E tome baião, forró, coco, xote, rojão, embolada, martelos e toadas;. O pernambucano critica a inserção dos novos gêneros no tradicional período. ;Hoje, há uma relativa descaracterização dessas festas em função de certa perda de identidade;, avalia.

Em linha similar de julgamento, a artista local Carol Carneiro fica com agenda cheia no são-joão e acha necessário vestir o figurino nas festas típicas. ;Nesta época, deveriam valorizar melhor essa tradição brasileira, essas músicas que falam de coisas ligadas à terra, à natureza, ao romantismo;, opina a pé de serra que se apresenta munida de viola caipira, zabumba e triângulo.

Ela é cética quanto a uma possível ameaça às músicas típicas. ;Existe uma cultura de resistência. Se depender de mim, não acaba. O baião vai se levantar. Ele sempre se levanta e vou trabalhar ara isso;, diz, citando verso de Luiz Gonzaga. No período que compreende junho e julho, Carneiro chega a fazer 15 show ao mês na capital. Mas, para ela, é são-joão o ano todo. A artista aguarda lançamento de DVD gravado na Funarte e se prepara para apresentação no 1; Festival de Brasília da Poesia Brasileira ; Transepoéticas, que ocorre sexta no Museu Nacional da República.

Colaborou Matheus Dantas*

*Estagiários sob supervisão de Igor Silveira


Ouça!


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Novos ritmos do arraiá!
Aldair Playboy ; Amor falso
Aviões e Wesley Safadão ; Eu e a torcida do Brasil
Aviões ; Inquilina
Cavaleiros do Forró e Márcia Fellipe ; Quando eu ligo para você
Dorgival Dantas ; Plano B
Mano Walter ; Não deixo não
Mastruz com Leite ; Na ponta do pé
MC Bruninho ; Jogo do amor
Saia Rodada ; Quero sentir de novo
Solange Almeida; Sinceramente

O que não pode faltar!

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Luiz Gonzaga ; Asa branca
Luiz Gonzaga ; Baião
Jackson do Pandeiro ; O canto da ema
Alceu Valença ; Coração bobo
Dominguinhos ; Eu só quero um xodó
Gal Costa ; Festa do interior
Dominguinhos ; Isso aqui tá bom demais
Falamansa ; Oh chuva
Luiz Gonzaga ; Olha pro céu
Luiz Gonzaga ; Pagode russo
Jackson do Pandeiro ; Sebastiana
Luiz Gonzaga ; Qualquer música, escolha!

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