Ricardo Daehn
postado em 26/06/2018 07:44
Fosse até mesmo um campeonato ; que levasse em conta o número de jogadores ;, ainda que com um diretor e um roteirista na produção, em postos destacados, o longa-metragem Mulheres alteradas traria a vitória feminina: além das produtoras Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck, o time do filme dá vozes altas para um quarteto de estrelas: Deborah Secco, Alessandra Negrini, Monica Iozzi e Maria Casadevall. ;Tenho duas filhas e uma esposa. Sou um apoiador incondicional do movimento a favor das mulheres. Tenho muito orgulho de ter trazido para a ficção tantas personagens femininas;, observa Luis Pinheiro, diretor do longa Mulheres alteradas, com estreia marcada para o dia 5 de julho.
Fazer o filme sem medo, e sob riscos de surfar no tom da comédia feita no Brasil e sem cores mais amenas, como explica o cineasta, dependeu da liberdade no projeto, assegurada pelas produtoras. ;Elas me protegeram, para eu exercer melhor o formato. O filme vem muito das minhas convicções. Mas procurei me apoiar, claro, no mundo das mulheres. Coloco na roda muitas cabeças, já que nossa equipe é numerosa e sempre muito próxima. Ainda assim, não quis fazer o filme em torno de padrões feministas;, conta o diretor estreante em cinema. Nas investidas em ficção, Luis Pinheiro carrega nove séries, sete delas com enorme relevância para personagens femininos, entre as quais Lili, a ex; Samantha! e Descolados.
Fã confesso, desde os anos de 1990, das tirinhas criadas pela argentina Maitena, fonte para o longa Mulheres alteradas, Luis Pinheiro contou com ajustes feitos pelo roteirista Caco Galhardo, cartunista e amigo da autora portenha. ;O material da Maitena nunca traz uma curva narrativa. Ela vai direto nas questões: além da constante troca de personagens; cada quadro é rápido e traz uma mulher em frente a um quadro diferente. Criamos, no cinema, uma linha narrativa com mulheres que se encontram em momentos impactantes da vida;, explica o cineasta. Na trama, Keka (Deborah Secco) vive um momento ; chave no casamento e na vida profissional que se enreda com a chefe dela, a workaholic Marinati (Alessandra Negrini) ; já as irmãs Leandra (Maria Casadevall) e Sônia (Mônica Iozzi) vivem crises distintas: a primeira está saturada de muito oba-oba noturno, enquanto Sônia está seca por uma diversão fora da rotina conjugal.
Na luta pelo reconhecimento das mulheres, o cineasta conta que também gostaria de ver comédias mais valorizadas. ;Sugiro sempre, aos roteiristas, que troquem Jack por Jane, nas histórias: tirar João e colocar Maria;, comenta. Na dinâmica do set de Mulheres alteradas, o diretor se desmancha em elogios. Alessandra Negrini, por exemplo, suscita a presença de uma Darlene Glória ; ;suspirava, a cada quadro dela;. ;Um doce de pessoa;, a ser valorizada, Monica Iozzi trouxe, na convivência, o traço da inquietação artística e política. ;Culta e aplicada;, Maria Casadevall seguiu o conselho de misturar a interpretação de ;uma Gena Rowlands com a do esquilo de A era do gelo;, comenta o diretor, aos risos. Por fim, Deborah Secco leva a pecha de destemida, uma verdadeira máquina de atuar. ;Não buscamos o retrato da mocinha da novela;, pontua o diretor.
; Tive uma postura pop de referência, buscando uma linguagem cartunesca. Adoro a cena da personagem da Alessandra Negrini levitando num orgasmo ; a cena fica só com ela: não precisa da imagem do homem na tela;
Luis Pinheiro, diretor de Mulheres alteradas
Três perguntas // Juliana Antunes, diretora de Baronesa
Como realizadora, qual o seu grande mérito?
Conseguir fazer o filme Baronesa (em cartaz na cidade) a partir de encontro potente com outras mulheres é o grande mérito. A gente se fortalece, resiste pra existir. Não é um filme sobre a comunidade. É um filme sobre elas, que vivem lá, mas a abordagem é outra. Criamos um filme sobre sexualidade feminina em tempos de guerra.
Há um diferencial no fato de, sendo mulher, manobrar temas ásperos e violentos?
Baronesa é um filme feito por mulheres e com mulheres. Para chegar onde chegamos, inventamos uma relação entre quem filma e quem é filmada. Daí, da base do projeto, já temos uma diferença em relação ao que está em frete e por trás das câmeras. A violência que nós, mulheres, sofremos diariamente é, em sua grande parte, decorrência do patriarcado. Tal violência é potencializada quando se fala de mulheres periféricas. Eis aí a diferença: uma dupla negociação ; primeiro enquanto pessoas submetidas à violência, segundo enquanto mulheres nessa lógica.
A violência psicológica agride mais do que a física no cinema?
Violência é violência. Não consigo mensurar níveis de agressão, nem na vida, nem no cinema.
Agora, ninguém segura
Filme de estreia da dupla de roteiristas Abby Kohn e Marc Silverstein, Sexy por acidente é uma das estreias da próxima quinta. Depois de se aventurarem por títulos contestadores da condição feminina como Ele não está tão a fim de você (2009) e Como ser solteira (2016), Kohn e Silverstein colocam a personagem de Amy Schumer, a traumatizada Renee, numa perspectiva de absoluta reviravolta. Depois de um pequeno acidente, Renne tem a autoestima jogada para o teto: ela se acha a pessoa mais interessante do mundo, e passa a viver destemida. Michelle Williams e Tom Hopper completam o elenco.
Brasileiras em crise
Duas personagens criadas por atrizes que, na tevê, tiveram papéis de crueldade no limite ; Adriana Esteves e Cláudia Abreu (de Avenida Brasil e Celebridade) ; dividirão as sessões de cinema. Em núcleos de famílias suburbanas, Maria (papel de Esteves, em Canastra suja) e Berenice (de Berenice procura, foto) arregaçam as mangas e vão à luta. Dirigido por Caio Sóh, Canastra suja se afirma na presença marcante de Maria, mãe de duas moças, e incapaz de segurar os impulsos, ao flertar com o namorado da filha. Berenice, presa à relação falida, passará a frequentar boate de Copacabana.
Elas dominam as telas, com filmes em cartaz:
Desobediência
Alguém como eu
Anna Karenina: A história de Vronsky
As boas maneiras
Do jeito que elas querem
Oito mulheres e um segredo
A amante
Uma escala em Paris
Sol da meia-noite