Ângela Faria
postado em 13/07/2018 13:46
Alt Niss é paulista, tem 29 anos e canta desde os 16. Nesta sexta-feira (13/7) ela manda para as redes o clipe do single Não vou me preocupar, sem o menor grilo com o dia que muita gente associa ao azar. "Treze é abertura de caminhos", diz a moça, adepta do candomblé e firme no propósito de abrir espaço para o R nacional. Missão difÃcil ; mas não impossÃvel ; na música preta brasileira, monopolizada por funk, rap, soul, samba e afins. Mas ela é determinada. E garante: daqui a cinco anos, o R já terá consolidado o seu lugar na cena.
Não vou me preocupar fala da geração de Alt Niss. Inspira-se nas garotas que conquistaram a liberdade de ir para o rolê do jeito que quiserem, de amar como (e com quem) quiserem, de viver sem medo. É romântica e libertária ; "batom manchando o Lucky Strike", diz a letra.
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"A mulher sofre por ser livre. Mas não deve recuar", diz a cantora e compositora, explicando que sua inspiração vem de garotas "negras e periféricas" como ela. É preciso enfrentar o machismo, o racismo e a solidão da mulher negra ; muitas vezes, preterida por parceiros de sua cor, tratada como fetiche ou mero objeto de desejo pelos brancos.
Eunice Santiago Albertini, a Alt Niss, foi criada na Zona Sul de São Paulo. Tem primos e amigos no Pagode da 27, o grupo de samba do coração do rapper Criolo. Novinha, frequentou bailes blacks da periferia paulistana, ouvindo atentamente Cassiano, Hyldon, Tim Maia, Silvera. Tomou gosto pelo R ; poderoso nos EUA, pouco divulgado por aqui. Integra o elogiado coletivo feminino e feminista Rimas & Melodias, dedicado ao hip-hop e ao soul; dividiu palcos com Rico Dalasam; faz parte do coletivo paulista Anti Social MÃdia; dividiu cyphers com a rapper mineira Clara Lima.
Alt Niss tem dois meninos, de 6 e 3 anos, para criar, vive de música. Faz shows solo e trabalhos como backing vocal, canta em casamentos e formaturas. Chamou a atenção com os singles Das 3 às 6, lançado em 2015, e Zona Sul 89, no ano passado. Promete o primeiro EP para o segundo semestre.
A cantora ama R& B, mas diz que seu som é livre ; dialoga com neosoul, trap, house, eletrônica e novidades do underground americano e europeu. Ela compõe letras e melodias, mesmo sem tocar instrumentos. "É o ouvido absoluto, fica tudo na cabeça", comenta. "Antes de qualquer coisa, faço música. Não me vejo presa a nada", resume. As letras falam de amor, da vida, da quebrada e de feminismo, mas sem a obrigação do discurso ou do ativismo.
RACIONAIS
Alt Niss é a estrela feminina da Boogie Naipe, que administra a carreira do grupo de rap Racionais e o projeto solo de Mano Brown. Comandada por Eliane Dias, mulher de Brown, a produtora aposta em novas vertentes da música preta brasileira. O R de Niss, aliás, tem tudo a ver com o disco solo do MC do Racionais, voltado para soul, funk e a sonoridade dos bailes blacks dos anos 1980. Foi Kaire Jorge, o antenado primogênito do casal, que apresentou a moça a Eliane. "Eles me deram liberdade total, e isso é muito importante para um artista", diz Alt. O clipe que estreia nesta sexta (13), dirigido por Nicholas Kjaer, leva a assinatura da Cinematik, produtora formada por jovens de São Paulo.
A jovem paulistana faz parte da geração que têm chamado a atenção do paÃs ; Iza, Karol Conka, Ludmilla, Djonga, Clara Lima, Luccas Carlos, Drika Barbosa, Rincon Sapiência e Baco Exu do Blues, entre outros. Todos matam um leão por dia ao conquistar para os negros protagonismo na cena musical contemporânea.
É difÃcil, sobretudo para a cantora que ama R. Mas Alt Niss vê espaços importantes se abrindo para sua proposta. Cita o caso do jovem baiano Kafé, convidado para a edição deste ano do MecaInhotim. Quem sabe, em 2019, não será a vez de a moça se apresentar por lá?
"Quero muito cantar de novo aà em BH", diz ela. Em 2017, ao lado das colegas do Rimas & Melodias ; Drik Barbosa, Karol de Souza, Stefanie, Tássia Reis, Tatiana Bispo e a DJ Mayra Maldjian ;, Niss se apresentou no Duelo de MCs, debaixo do Viaduto Santa Tereza. "Foi lindo demais", suspira.