Diversão e Arte

Companhia brasiliense de balé vai se dedicar ao repertório clássico

Balé da Cidade de Brasília reúne elenco selecionado por professores de seis academias da capital

Nahima Maciel
postado em 14/07/2018 06:38
A audição foi transmitida on-line para que o público pudesse acompanhar

Cansadas de tentar convencer sucessivos governos da necessidade de montar um corpo de baile permanente para o Teatro Nacional, seis professores de academias da dança da cidade se uniram para montar uma companhia profissional. Realizada em junho, uma audição que teve Ana Botafogo e Marcelo Misailidis, ambos do Theatro Municipal do Rio, como júri, selecionou um total de 30 bailarinos para integrar o Balé da Cidade de Brasília. A companhia já começou a ensaiar no Centro de Dança e no anexo do Teatro Nacional, e a primeira apresentação oficial está programada para dezembro. A ideia é mostrar uma série de variações de balés de repertório, uma espécie de pot-pourri de peças como Dom Quixote, Lago dos cisnes e La bayad;re.

A iniciativa foi fruto da união das bailarinas Norma Lília, Regina Maura, Mônica Berardinelli, Tereza Braga e Noara Beltrami, todas proprietárias de academias de dança tradicionais na cidade, e do professor Wal Moraes. Eles também são os diretores da companhia e responsáveis por treinar os bailarinos. ;Moro aqui há 43 anos e há 43 anos falo com todos os governadores que passam pelo cargo para conseguir um corpo de baile para a cidade. Nunca consegui. Então nos juntamos para fazer. É uma companhia particular e não tem nada a ver com o governo, embora o governo esteja nos ajudando;, explica Regina Maura.
O balé conta com 30 profissionais

Para a audição, se inscreveram profissionais de Goiás, Brasília e Minas Gerais, mas apenas dois de fora foram selecionados. Todos os outros são radicados na capital. Para conseguir montar a companhia, os diretores contaram com R$ 400 mil de uma emenda parlamentar e apoio de empresas da cidade. O dinheiro vai ajudar a manter o grupo e a pagar um salário de R$ 1.200 para os bailarinos. As próprias academias de dança das quais Regina, Mônica, Noara e Norma são proprietárias ajudaram, além de outras empresas do Distrito Federal. ;Os bailarinos de Brasília são muito bons, muito bem preparados. As escolas da cidade são realmente centros de excelência. Estamos em um nível nacional sim;, avisa Mônica. A audição, ela explica, foi transmitida ao vivo na internet para que o público pudesse acompanhar, e Marcelo Misailidis preparou uma aula com exercícios de barra, ponta e centro para testar os candidatos. A ideia era que alguém de fora criasse os exercícios de maneira a evitar que os futuros integrantes soubessem de antemão como seria o teste.

Rotina

Por enquanto, os profissionais ensaiam durante três horas por dia e se dedicam exclusivamente ao balé clássico. O formato escolhido pelos fundadores do Balé é o de uma companhia sem primeiros ou segundos bailarinos. ;Temos esse molde, não o de um corpo de baile oficial, mas o de uma companhia de balé clássico;, avisa Mônica.

Para 2019, os diretores trabalham para inscrever o projeto na lei Rouanet e tentar captação e patrocínio com empresas do DF. ;Nossa intenção é de que ele tenha uma vida longa e que não seja essa coisa de trabalhar um pouco e depois acabar;, garante Mônica. O balé representa uma nova fase em Brasília. Houve um tempo em que a rivalidade entre as academias da cidade criava nichos. Agora, a união fala mais alto. ;Hoje se tem outra visão. As pessoas notaram que ninguém consegue fazer nada sozinho. Mudou a mentalidade;, avisa.

Ex-integrante do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no qual dançou entre 1960 e 1975, e fundadora do Studio de Dança Regina Maura, a bailarina conta que ficou surpresa com as divisões na dança de Brasília.

;Perguntavam ;você é bailarina de quem?;;, lembra. ;Vim do Rio e lá não existe isso, você não é de ninguém, faz aula com todo mundo. Pagou, faz. E aqui tinha isso.; Tocar a companhia e batalhar patrocínio, ela sabe, não será fácil. Mas Regina espera que as apresentações agendadas para o final do ano sejam um cartão de visitas para mostrar a qualidade do grupo.




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