Nahima Maciel
postado em 21/07/2018 07:20
Quando começa a trabalhar com os módulos necessários para construir seus projetos, o artista pernambucano José Patrício nem sempre sabe de antemão como será o resultado. Ele costuma ter um projeto, uma ideia de onde quer chegar, e mesmo assim há sempre um componente de surpresa quando a peça está acabada e montada. É uma característica curiosa quando se sabe como a precisão e a matemática são importantes no processo desse artista. Diante das 38 obras escolhidas pelo curador Felipe Scovino para a exposição Precisão e acaso, em cartaz no Museu Nacional da República, fica claro como o processo de criação se ergue sobre muita engenharia, seja ela de formas, seja de materiais.
Herdeiro do construtivismo e com um pé fincado na arte cinética, José Patrício é desses artistas cuja obra provoca sensações e desperta os sentidos. Abstrato, muitas vezes geométrico, tem o movimento como efeito ilusório e a pesquisa de materiais como ponto de partida. ;Ele tem laços com essa tradição construtiva no Brasil;, avisa Scovino. Apesar de o concretismo ter terminado no final dos anos 1960, para uma geração de artistas brasileiros dos anos 1980 e 1990 ainda é forte o legado construtivo. ;Além disso, é um artista que cria um lugar muito próprio para essa ideia que a gente poderia chamar de artesania. Os trabalhos do Zé são feitos com pregos, ele martela no compensado, vai construindo essas mandalas, esses campos cromáticos, vai colando as peças de dominó;, conta o curador.
O caráter artesanal, no qual a construção se dá em módulos de sobreposição e organização dos materiais, também permite uma associação com a ideia de pintura. Há outras formas de falar na técnica que não envolvem pincéis, tintas e materiais óbvios da área. ;E tem ainda o caráter cinético dos trabalhos, que demandam participação do espectador. Dependendo da perspectiva que você tome, vai ter distintas formulações de imagens, uma situação, de certa maneira, colocada há 60 anos pela arte cinética e pela pop art;, lembra Scovino.
Para José Patrício, a exposição é uma oportunidade de fazer um balanço da produção. ;Não considero uma retrospectiva, ela faz um apanhado de diversas obras realizadas num período de 15 anos, ela mostra um pouco como meu trabalho evoluiu nesse período. É uma antologia;, avisa. O conjunto, ele acredita, ajuda a compreender como nasce o trabalho.
;Meu trabalho é feito de construção de uma mesma estrutura em torno de uma mesma ideia, mas que sempre resulta em configurações diferentes. O grande mote da exposição é esse: é sempre o mesmo e é sempre diferente, porque as obras são regidas por uma lógica matemática, isso está por trás de todo o conjunto de obras;, explica.]
Precisão e acaso
Exposição de José Patrício. Visitação até 26 de agosto, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República/ Galeria Acervo (Setor Cultural Sul, Lote 2)