Renato Alves
postado em 29/07/2018 07:18
Além da relação improvável entre duas pessoas completamente distintas, como na música homônima, o filme Eduardo e Mônica vai propor a reconciliação entre brasileiros separados por ideologias. Prevista para estrear em agosto de 2019, a obra cinematográfica, rodada em Brasília, retrata o país no período da redemocratização, em meados da década de 1980.
[SAIBAMAIS]Saindo da adolescência, Eduardo é criado em uma família conservadora, católica, de militares. Universitária militante estudantil da UnB, Mônica frequenta a Chapada dos Veadeiros (GO), além do circuito alternativo da capital. Quando os dois se cruzam, vem o choque. Diferenças realçadas em toda a trama, com os conflitos de um amor improvável entre o jovem casal. Dilemas que remetem ao cenário do Brasil atual, rachado após a polarizada eleição presidencial de 2014.
Com tal mensagem, os responsáveis por levar a canção de Renato Russo à telona pretendem exibir uma comédia romântica com enredo denso, sem pieguice. ;O filme vai mostrar como é possível divergir sem se atacar;, afirma o diretor René Sampaio. ;O filme propõe, como a música, a gente se encontrar nas diferenças;, comenta Gabriel Bortolini, produtor executivo de Eduardo e Mônica.
A esotérica Mônica, que gosta de viajar, tem amigos de perfis diversos, curte filmes de arte, mora só em um galpão ocupado da CEB, no isolado SIA de três décadas atrás, vai interagir com um retraído Eduardo, frequentador de grupo de jovens católicos, que tem só um amigo e passa a maior parte do dia fechado em seu quarto, na quadra residencial destinada aos oficiais, no Setor Militar Urbano (SMU).
Brasília real
O Correio visitou a casa de Eduardo, interpretado por Gabriel Leone, 25 anos. A reportagem passou uma tarde no set de gravação. Acompanhou filmagens de cenas do cotidiano do protagonista, que gosta de ler gibis, tocar violão e jogar futebol com seu avô, vivido por Otávio Augusto, 73. A residência escolhida pela produção como cenário é uma das que melhor conservam as características originais da vila militar. Com cerca baixa, exibe um charmoso cobogó de cor amarela na fachada pintada em verde musgo.
Assim como o SIA e a vila do Exército, os produtores de Eduardo e Mônica escolheram como cenários localidades desconhecidas pela maioria dos brasileiros. Os monumentos e o universo político deram lugar às quadras residenciais e comerciais, aos parques, aos bares e a quem habita e frequenta esses lugares. ;Brasília é a terceira protagonista da trama, que mostra a cidade dos brasilienses comuns. O espectador vai conhecer lugares e vivências, por meio do Eduardo e da Mônica, que vão se locomover por essa cidade. Ele de ;camelo; e ela, de moto;, conta Gabriel Bortolini.
Integram também a Brasília de Eduardo e Mônica o Hospital das Forças Armadas (HFA), a UnB (onde ela estuda), o Sigma (a escola dele), o Lago Paranoá, e o Parque da Cidade ; lugar onde, na canção de Renato Russo, o casal se encontra, ela de moto e ele de ;camelo; ;, entre outros. A equipe passou um fim de semana na Chapada, para gravar cenas do primeiro réveillon dos protagonistas juntos.
Referências
Eduardo e Mônica vai retratar a Brasília de 1986, ano em que o álbum Dois, da Legião Urbana, foi lançado, trazendo, entre outras, a canção que fala dos encontros e desencontros do improvável casal. Por isso, os espectadores vão ver cenários da capital, ver os figurinos e ouvir as gírias dos brasilienses nos anos 1980. ;O filme traz referências da década, como músicas, carros, filmes e casas noturnas, além de ícones brasilienses, como o Cine Karim;, adianta Bortolini.
René Sampaio já filmou quatro das oitos semanas de gravação previstas em Brasília. Ele ainda vai gravar uma semana no Rio de Janeiro. ;Até agora, tudo corre como o previsto, mas, em um filme, tudo pode mudar. O roteiro pode mudar até na pós-produção. O que posso garantir é que estamos fazendo um filme de alta qualidade, que só irá para os cinemas quando ele estiver o melhor possível;, ressalta o diretor brasiliense de 43 anos, o mesmo de Faroeste Caboclo (2013), outra canção de Renato Russo adaptada para o cinema.
Estrela do filme, Alice Braga, 35, se diz empolgada em interpretar Mônica. ;Eduardo e Mônica é uma canção de amor atípica que tomou de assalto toda uma geração, da qual acabou se tornando um hino. Assim como outras letras longas de Renato Russo, esta é totalmente cinematográfica;, observa. Sobrinha de Sônia Braga, Alice é conhecida pela carreira internacional, tendo participado de filmes como Eu sou a lenda (2007), com Will Smith, e Elysium (2013), com Matt Damon. Na TV, interpreta o papel principal da série norte-americana A Rainha do Sul, sobre uma poderosa narcotraficante do sul da Espanha.
Trilha sonora
Um dos grandes segredos de Eduardo e Mônica, o filme, é a trilha sonora, a cargo do também brasiliense André Moraes, 41 anos. Figura conhecida no mercado cinematográfico brasiliense, ele compôs trilhas sonoras para mais de 30 filmes, como Lisbela e o prisioneiro (2003), Meu tio matou um cara (2004) e Assalto ao Banco Central (2011). Apaixonado por rock, André costuma ter como parceira em suas obras fora das telas a banda de heavy metal Sepultura. Filho do cineasta Geraldo Moraes e irmão do diretor e ator Bruno Torres, o músico tem ainda no currículo a direção-geral do longa-metragem Entrando numa roubada (2015).
Presença feminina
Boa parte dos integrantes das equipes técnica e de produção de Eduardo e Mônica trabalhou com René Sampaio em Faroeste Caboclo. São mais de 100 pessoas em Brasília, entre equipe e elenco, sendo a maioria brasiliense. Metade do time é mulher, algo raro no cinema nacional. À exceção de Gabriel Bortolini, produtor executivo, toda a equipe de produção é formada por mulheres. Com um orçamento de R$ 9 milhões e financiamento garantido, Eduardo e Mônica é uma coprodução da Gávea Filmes com Fogo Cerrado, Barry Company e Globo Filmes. Distribuição da Downtown Filmes.
Três perguntas / Gabriel Leone ator, intérprete de Eduardo em Eduardo e Mônica
Qual a sua relação com a Legião Urbana?
É a minha banda favorita. A conheci por meio dos meus pais.
Você sente o peso de interpretar um personagem que faz parte do imaginário de milhares, talvez milhões, de pessoas?
Eu sei da responsabilidade. Sei como são os fãs da Legião. Visitei uma exposição sobre Renato (Russo) e fiquei comovido com a história e a importância dele. Antes de tudo, me sinto honrado em eternizar o Eduardo no cinema.
E qual a sua relação com Brasília?
Tenho parentes, uma tia que mora aqui. Conhecia os pontos mais famosos de Brasília. Agora estou tendo a oportunidade conhecer o cotidiano da cidade, de quem mora aqui. Aliás, deveria ser feito mais filmes em Brasília, que é uma cidade de cinema, com cenários e luz perfeitos.