Diversão e Arte

Rappers de Brasília buscam outros empregos para complementar renda

Artistas do Distrito Federal ainda encontram dificuldades de pagar as contas somente com a música

Vinícius Veloso*
postado em 31/07/2018 07:29
Mesmo com mais de 125 discos produzidos, o DJ Raffa precisa dar aulas de audiovisual  para completar a renda

É comum que as pessoas que participam do movimento rap no Distrito Federal tenham uma dupla jornada de trabalho. Ao conciliar o tempo entre a luta diária do trabalhador brasileiro e as batalhas com rimas nos palcos, os artistas mostram a dificuldade de viver somente da música.

Lucas de Morais Marinho Oliveira é professor de educação física e, nas horas vagas, é conhecido como MC Marinho. O rapper tem participação em músicas lançadas no YouTube e é presença constante nas batalhas de rima do DF. Conciliando a vida de professor com a meta de viver somente do rap, consegue tirar lições importantes de cada área da vida.

;Uma profissão auxilia diretamente a outra. Com o rap, aprendemos a lidar com o público. O palco e o microfone lhe fazem controlar a timidez. Lecionar me ajuda a ter mais conhecimento e utilizar nas batalhas, explorando assuntos diversificados do que a maioria propõe;, conta o professor.

MC Marinho, rapper e professor de educação física

Seguindo na linha de cantores, Felipe Melo Ribeiro, o Jiló, vive o sonho de cantar rap graças à carreira de militar. A profissão abriu as portas para que o artista tivesse condições de gravar a primeira composição em um estúdio e de se dedicar à música.

;Gravei minha primeira faixa em estúdio a convite de um colega que serviu comigo no quartel, em 2008. Tive que parar e focar nos estudos até 2011 e, somente em 2014, retomei os trabalhos. Mas sou muito grato por hoje ter uma estabilidade profissional, que me dá condições de investir para que o sonho de viver da música possa se tornar realidade;, explica o cantor.

O movimento, porém, vai além de quem segura o microfone. Por trás dos videoclipes, da sonoridade e do sucesso dos artistas, há os produtores musicais. São eles que organizam e controlam as letras e improvisações no rap, por meio das batidas que colocam nas músicas.

Cláudio Raffaello Santoro é um educador, professor e engenheiro de som. Dá aulas de audiovisual e realiza gravações de casamentos. Quando o assunto é música, é conhecido como DJ Raffa Santoro. Com mais de 125 discos produzidos, sendo 90% de rap, e mais de 35 anos de carreira, destaca-se no movimento do DF.

Mesmo com a longa caminhada de sucesso, precisa manter os trabalhos em outras áreas para se manter profissionalmente. ;Infelizmente, viver de arte no Brasil é uma utopia. Sempre tenho que fazer vários trabalhos ao mesmo tempo. Até hoje, tenho conseguido conciliar as aulas de segunda a sexta-feira e, nos fins de semana, viajar e tocar como DJ e gravar casamentos;, disse Cláudio.

Conselhos

Apesar de todas as dificuldades, algumas pessoas conseguiram vingar no meio do movimento e se destacar regionalmente e nacionalmente. Marcos Vinicios de Jesus Morais, conhecido popularmente como Japão, é a inspiração de quem deseja um dia viver somente da música.

Com uma caminhada difícil, vindo de Ceilândia, e abrindo mão dos estudos para ajudar a mãe no sustento da casa, Japão começou a fazer rap no início dos anos 1990 e teve bastante sucesso. O conselho para os que estão na caminhada é de lutar e persistir. ;A vida no rap nunca foi fácil, irmão. Sempre foi muito difícil. Eu sempre fui um cara que corri atrás das minhas coisas;, relembra.

Antes de finalizar, o rapper deixou um conselho para todos os que estão no atual movimento do hip hop: ;É uma filosofia de vida. Então, se é uma filosofia de vida, você tem que viver intensamente. E é isso que eu faço, todos os dias;.

* Estagiário sob supervisão de Igor Silveira

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