Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Roberto Corrêa estreia show sobre a história da viola

Violeiro vai colocar o pé na estrada depois de encerrar ciclo de pesquisa e docência

Quando Roberto Corrêa se aposentou, no início deste ano, montou uma aula-espetáculo de despedida e subiu ao palco da Escola de Música de Brasília (EMB), na qual ensinou por mais de 33 anos, para contar a história da viola. Tomou gosto pela brincadeira que mistura um pouco de interpretação cênica e muita música e, sob a direção de João Antônio, transformou a aula em show. O violeiro estreia amanhã, no Teatro da Caixa, com um repertório que inclui inéditas e um time de convidados muito respeitáveis.

No palco, Corrêa se transforma em violeiro em busca da perfeição. Tenta fazer pacto com o diabo, que nunca aparece, com uma cobra coral, com o que for para tirar do instrumento o melhor que as cordas podem oferecer. Lá pelas tantas, consegue. E nessa peleja, vai puxando a história da música caipira. Toca catira, lundu, ;incelenças;, folia do Divino, canto de trabalho. Do repertório de inéditas, há parcerias com os irmãos Clodo e Climério Ferreira. E uma coleção de clássicos da viola caipira.

No palco, convidados como Badia Medeiros e o grupo de catira Irmãos Vieira ajudam a contar a história, além de Herik Souza, com quem Corrêa forma uma dupla caipira. ;Eu gosto de arriscar. Mas arrisco sabendo onde vou pisar;, avisa o violeiro. ;Sabia que o João (Antônio) ia conseguir resolver as limitações que eu tivesse nesse sentido. Ele é de Uberaba, da região de Campina Grande, ele conhece essa linguagem.;

A proposta de João Antônio era dar a ideia de fechamento de um ciclo. Corrêa se aposentou, encerrou a tese de doutorado e uma pesquisa de décadas e vai lançar um livro com o resultado. ;A proposta era uma coisa nova e ele é um artista corajoso, então topou. Eu queria um espetáculo cênico e, como a primeira ideia era contar a história da viola no Brasil, optamos por criar um personagem que seria um violeiro;, conta João Antônio.

São 40 anos de viola e um arcabouço de conhecimento que vai desde o início da história da música caipira até os dias de hoje. ;Por mais que seja uma história conhecida por muitas pessoas, sinto que muita gente, mesmo das regiões caipiras, desconhece esse Brasil. E é um Brasil que tem muitas coisas ancestrais, atávicas. Esse tipo de sabedoria vai se perdendo. E como sou violeiro e estou muito ligado aos anteriores a mim, fui aprendendo sobre esse homem, suas práticas, suas crenças;, reflete Corrêa.

Agora, com O violeiro, ele dá início a um novo ciclo, que inclui pé na estrada e muitos shows. A intenção é rodar o Brasil com o espetáculo. ;Agora é só música;, garante o violeiro. ;É só palco, só artista.; Antes, ele lança Viola caipira: Das práticas populares à escritura da arte, o livro que traz a pesquisa da tese de doutorado. ;É um livro de história para quem se interessa por cultura popular e pelo universo da viola caipira. É um livro de história da música caipira;, adianta.


O Violeiro
Show de Roberto Corrêa. Direção: João Antônio. Amanhã e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, na Caixa Cultural Brasília (SBS Quadra 4 Lotes 3/4 ; Edifício anexo à Matriz da Caixa). Ingressos: R$ 30,00 e 15,00 (meia)